Celso Lungaretti*
Vamos esclarecer o que realmente se passou na terceira sessão de julgamento do pedido italiano de extradição de Cesare Battisti.
Como era de esperar-se, alinhou-se com os linchadores o fundador do bloco, o presidente do STF, Gilmar Mendes, sem cuja tendenciosidade o caso estaria há muito arquivado.
Por míseros cinco a quatro, o Supremo Tribunal Federal decidiu pela extradição de Battisti.
A votação seguinte foi sobre se o Executivo seria automaticamente obrigado a extraditar ou o faria apenas e tão somente no caso de concordar com a medida.
Novamente por cinco a quatro, o STF admitiu que a última palavra cabe ao presidente da República, o qual tomará a decisão que lhe aprouver, respondendo por ela.
Se quiser, poderá até denunciar o tratado de extradição com a Itália. Tem autoridade para tanto.
Então, que fique bem claro: o que o Supremo fez foi apenas dar sinal verde para a extradição, caso Lula queira seguir por tal caminho.
Mas, se decidir o contrário, não estará desobedecendo ao STF, nem o desprestigiando. Pois os próprios togados reconheceram que Lula tem pleno direito de proceder conforme sua consciência ditar.
Para atenuar a inegável derrota, os linchadores tentaram pelo menos atrelar Lula aos termos do tratado de extradição Brasil/Itália. Nem isso conseguiram.
Aliás, neste próprio tratado, conforme notou o ministro Eros Grau, o tópico relativo aos motivos que um governo signatário pode alegar para não entregar o extraditando está redigido de forma deliberadamente imprecisa.
Trocando em miúdos: se o governo não quiser extraditar, encontrará facilmente uma justificativa para sua decisão. E a outra parte terá de engolir.
De resto, a grande imprensa que tudo faz para prejudicar Battisti é a primeira a reconhecer que, no seio do governo Lula, o partido dos linchadores não tem vez. O desfecho tende a ser mesmo a negativa da extradição por razões humanitárias.
Então, o que está pegando?
O real problema é que o Supremo Tribunal do mais-que-supremo Gilmar Mendes é de uma suprema lerdeza: o acórdão da decisão de um caso menos bombástico costuma ser publicado só depois de uns três meses.
Já para o de Battisti, a previsão é de seis meses – ou mais!
E dependerá de qual for o ministro escolhido para elaboração final do documento.
Cezar Peluso já afirmou que poderá “enfrentar dificuldades para elaborar o acórdão”. É um eufemismo para má vontade.
Caso a tarefa seja delegada à ministra Cármen Lúcia, as dificuldades, provavelmente, vão sumir por encanto, mas o trâmite continuará sendo moroso, pois implica, por exemplo, envio para revisão de cada um dos nove ministros participantes do julgamento.
Então, estamos diante de uma situação totalmente kafkiana: é discutível que Cesare Battisti devesse ter sido preso em março/2007, é indiscutível que ele deveria ter sido libertado em janeiro/2009 e é bem possível que a decisão só passe para a alçada do presidente Lula no segundo ou terceiro trimestre de 2010.
No entanto, num país como o nosso, em que os poderes presidenciais são tão amplos, certamente será possível encontrar alguma fundamentação jurídica para a libertação imediata de Battisti, evitando o prolongamento de sua agonia.
Ao contrário do que propôs o excelente jornalista Rui Martins, não seria o indulto, pois este é concedido a condenados, o que Battisti nunca foi no Brasil. Nem mesmo o deferimento final do pedido de extradição equivaleria a uma condenação.
A solução deverá ser encontrada nas decisões que o presidente da República pode tomar movido por clemência e razões humanitárias.
O certo é que existe uma palavra de ordem que preenche todas as necessidades do momento: LIBERDADE PARA CESARE BATTISTI – JÁ!
Ela deverá nortear as mensagens, os abaixo-assinados, os eventos, as manifestações.
Battisti já sofreu demais. Precisamos dar ao presidente Lula a certeza de que, tomando a decisão digna e correta, ele terá o respaldo dos melhores brasileiros.
* Jornalista e escritor, Celso Lungaretti mantém os blogues Náufrago da Utopia e O rebate.