“Eu cheguei antes. O rastafari furou a fila!”
A pasteleira respondeu a minha queixa com um sorriso iluminado, entre o deboche e a compreensão transcendental. O que me deixou mais irritado. Não tenho paciência com incensos e sutilezas, tampouco com pasteleiras zen-budistas. Ela sabia disso, e adivinhou o sabor do pastel: “carne”.
Claro que sim. Eu nem precisei dizer: “Não sou homem de fazer haicais, nem de comer pastel de frango com catupiry”.
Tava na cara que era de carne, porra!
Ato contínuo, com aquela sabedoria milenar de quem vende pastel na feira, ela me disse: “Sua alma é maior que você, relaxa. Um dia vocês se encontram.”
“Relaxar, relaxar… vai ser difícil, mas até que a pasteleira tinha razão. No dia que eu & minha grandiosa alma nos encontrarmos, nesse dia eu morro, né, não?”
“A idéia é essa. Pra viagem?”
Pensei com meus botões: “Essa pasteleira pode até ser uma reencarnação de Buda Gautama. Mas, ora, cazzo! Se fosse pra viagem, eu pediria!”
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O nome do livro é: Diálogos, editora Globo. Trata-se do encontro de Borges e Sabato depois de vinte anos de rompimento. Borges & Sabato. O mediador, um jornalista deslumbrado, atrapalha bastante quando resolve dar seus pitacos, mas dá para ignorá-lo na boa. O nome de Ernesto Sabato ficou um bom tempo martelando na minha cabeça: “(…) seria melhor se publicássemos um jornal a cada século. Ou quando algo de realmente importante acontecesse – ‘o senhor Cristovão Colombo acaba de descobrir a América'”. Comprei O túnel – que faz parte da coleção de clássicos ibero-americanos editado pela Folha – somente uns cinco anos depois. Li em dois dias. Puta livro. Quando se tem afinidade com o escritor a coisa flui, vai que vai. Tive um imenso prazer ao devorá-lo e desfrutei da sensação de ser amigo do autor e da obra. De outro jeito, não acontece. Comigo, não. Uma coisa, porém, é ser amigo do autor. Outra, completamente diferente, é ser amigo do autor e da obra. Nem sempre os dois elementos coincidem. Raro que aconteça. Ler por obrigação é burrice. Ainda que o autor da obra seja seu amigo pessoal.
Eu, por exemplo, não gosto dos livros de um bom amigo, não descem. O novo livro dele apenas vem confirmar o nosso respeito e amizade. E ele também, graças a Deus, detesta as coisas que escrevo.
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Depois de ter levado um chapéu daquela “desgracida”, meu interesse por ETs e pelo mundo espiritual – que já era grande – só fez aumentar. Em vez de ouvir Lupicínio Rodrigues, tenho me ocupado obsessivamente com o mundo da lua. Além da garantia de esfriar os cornos, a possibilidade de sair do rame-rame diário é maior e, por absurdo que pareça, mais crível do que chafurdar no terreno pantanoso das dores de cotovelo. Não, não vou escrever um novo Joana a contragosto por causa dela.
Desta vez, eu escolhi os ETs e as esferas sobrenaturais. Vocês sabiam que os mortos também sonham?
Quando abri o site da revista UFO, e me deparei com um artigo seriíssimo dizendo que o Papa Bento XVI renunciou porque não teria aguentado a pressão dos extraterrestres, quase tive um treco. Ah, que felicidade!
Pensem bem. Entre revelar para a humanidade a iminente chegada de Jesus Cristo numa nave espacial, e ir pra Maracangalha, o que você, depois de levar um pé na bunda, faria?
Bem, eu fui consultar o Caetano, e ele disse o seguinte:
“E aquilo que nesse momento se revelará aos povos
Surpreenderá a todos, não por ser exótico
Mas pelo fato de poder ter sempre estado oculto
Quando terá sido o óbvio”.
Imagine que você é o sumo pontífice da Igreja Católica. Agora, imagine o índio do Caetano, espécie de tenente-coronel Sgt. Pepper’s de Jesus Cristo, imagine uma criatura dessas de peito estufado e cocar em riste, descendo de uma nave espacial. Nesse caso, ultrapassamos o terreno do puro exotismo, e mergulhamos na seara do tropicalismo ladeira abaixo, porre d’outro mundo. Pense bem, caro leitor: a chance de um índio desse naipe ir cagar regras no programa da Regina Casé é muito grande, duvido que ele perderia a oportunidade de decretar que no universo é “tudo junto e misturado”.
Ainda mais porque esteve oculto quando nunca deixou de ser óbvio.
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Tão óbvio como a marquetagem e o oportunismo da Daniela Mercury. Será que ninguém reparou nas fotos que ela divulgou? Valha-me, ET de Varginha! As únicas coisas de autêntico que tem ali são a má-fé e o alpinismo escancarados; imagens em P&B, fotos de estúdio. Um ensaio milimetricamente pensado e premeditado para virar vírus nas redes sociais. Nessa hora, Sabato vem ao meu socorro inutilmente: “o senhor Cristovão Colombo acaba de descobrir a América”. Inocente Sabato, tão inocente e impraticável neste mundinho ajambrado por Daniela Mercury, descobridora do continente fantasma e estéril chamado manipulação.
De modo que a coisa tomou proporções que nem ela, nem sua nova mulher jamais poderiam ter imaginado. O clitóris intumescido da cantora mirou na Sonia Abraão… e foi parar na capa da Veja. Mas antes passou pelo Jornal Nacional e por todas as capas de jornais e sites e revistas de fofoca, até que fechou a presepada com chave de ouro no Fantástico, valha-me Sabato, valha-me Borges, valha-me ET de Varginha!
Eu bem sei que em terra de Bispa Sônia mulher quem tem grelo duro é rainha da Apae, mas tudo tem limite. Ninguém vira serial-killer gratuitamente. Quando a baiana marqueteira (desculpem a redundância) declarou, com aquele sorriso de Photoshop que – pasmem – o “importante é o amor”, pensei com carinho nas bochechas rosadas de Kim Jong-un.
Estou na torcida pro Picachu norte-coreano deflagrar uma guerra atômica antes de indicarem a chupa-grelo oportunista pro Nobel da Paz. Quem diria, o Brasil, logo o multicolorido e multirracial, a Roma negra do Darcy Ribeiro, o lugar das matas, das cascatas e dos olhos verdes das mulatas, acabou virando um paisinho de merda e binário. Isso mesmo, de merda e binário: de um lado o arco-íris big brother e do outro as falanges do obscurantismo malafaia, valha-me Kim Jong-un, valha-me que eu não tenho mais onde amarrar meu jegue!
Tô cansado de esperar. Em menos de um mês farei 47 anos. Devia ter morrido no meu quinto livro. Teimoso, publiquei mais sete, fora Hosana Poluída, que deve sair até o final deste ano. Não bastasse, a crítica especializada está levando a sério o “infantil” que escrevi a quatro mãos com Furio Lonza. Já deu. Só falta ganhar o Jabuti. Espero que minha grandiosa alma se encontre comigo antes disso, não é pedir muito? Ou é?
Bora, Kim II, você é o Picachu-guarani que vai salvar o mundo e especialmente o Brasil da babaquice e do rés-do-chão, aponta seus mísseis pro Projac e pra Praça dos Três Poderes, você é o índio resplandecente que irromperá de um cogumelo atômico bochechudo. Vai, gordinho, você que sempre esteve oculto porque nunca deixou de ser óbvio, aperta o botão e acaba logo com isso!
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