Ronaldo Brasiliense *
Agora que o PMDB anunciou que está com o governo Lula e não abre, apesar de o senador eleito por Pernambuco, Jarbas Vasconcelos, antecipar sua posição de oposicionista, chegou a hora de fazer a distribuição das benesses do poder.
Daqui e até que o presidente Lula nomeie seu novo ministério e dome seu instável PT para não correr o risco de ver na presidência da Câmara dos Deputados um outro Severino, veremos o espetáculo da fome por cargos e saberemos até onde vai o apetite dos “profissionais” do PMDB.
Terão espaço no governo de Lula estrelas reluzentes e influentes durante o reinado do “príncipe dos sociólogos” Fernando Henrique Cardoso, como os deputados Gedel Vieira Lima (BA), Eliseu Padilha (RS) e Jader Barbalho (PA), além do ex-ministro da Justiça de FHC Nelson Jobim, que ensaia vôos com pinta de favorito rumo à presidência nacional do PMDB.
Os senadores Renan Calheiros (AL) e José Sarney (AP), que comandam abertamente a ala governista do PMDB desde o início do governo Lula, ampliarão seus espaços.
Resta saber se Lula e o comando petista aceitarão abrir para os peemedebistas os ministérios, fundações, autarquias e estatais, com “porteira fechada”, como se diz no jargão do fisiologismo, permitindo a indicação de todos os cargos de direção, inclusive nos estados.
O segundo governo de Lula, então, nos dará a oportunidade de ver novamente em ação, na cena nacional, indicando uns carguinhos federais, figurinhas carimbadas como os derrotados Orestes Quércia (SP) e Newton Cardoso (MG).
Com tanta sede de ir ao pote, pode faltar cargo à disposição do PMDB. Sem falar que boa parte do PT, insuflada pelo ex-superministro José Dirceu, não abre mãos dos espaços já ocupados.
O presidente Lula vai tentar impor ordem na casa para tentar frear o programa “fome zero” dos novos aliados do PMDB tucano, digamos assim. Lula sabe que deve sua reeleição a programas como Bolsa Família e Pronaf, de apoio à agricultura familiar, e Luz no Campo, iluminando as casas dos caboclos no interior deste país afora e enchendo de votos as urnas eleitorais, principalmente nas regiões mais carentes do Brasil: o Norte e o Nordeste. E dificilmente abrirá mão de manter estes programas sob seu controle direto.
No último dia 29, 314 deputados federais – com nenhum voto contrário – aprovaram substitutivo do Senado Federal e recriaram a Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (Sudam), extinta por corrupta em 2001. A volta triunfal da Sudam só aguarda a sanção presidencial.
A Sudam foi palco de um dos maiores escândalos da República no governo FHC: a Polícia Federal e o Ministério Público apuraram, em mais de 250 inquéritos, que as fraudes com os incentivos fiscais do Fundo de Investimentos da Amazônia (Finam) podem ter saqueado os cofres da nação em mais de R$ 1,2 bilhão.
Deixo aqui, então, uma humilde sugestão ao presidente da República, que não aceitou ser fotografado ao lado de Jader Barbalho em audiência no Palácio do Planalto. Barbalho até agora não conseguiu emplacar seu nome no primeiro escalão, sequer na presidência do PMDB e está sendo escorraçado por boa parte da bancada de seu partido, que não o quer como líder.
Diante deste quadro, Lula bem que poderia dar uma forcinha ao parlamentar papa-chibé. É só nomear Jader Barbalho para o comando da Sudam. Com isso, além de cortar os intermediários, o presidente garantirá à frente da Sudam um especialista na autarquia.
Na dúvida, consulte o juiz federal Alderico Rocha Santos, da 2ª Vara Federal do Tocantins, que mandou prender Jader Barbalho, apontando-o como “chefe da quadrilha” que saqueou os cofres da Sudam. Certamente, Rocha Santos terá argumentos para oferecer.