Tales Faria*
O presidente Lula disse que quer saber primeiro com quem conta no Congresso – ou seja, qual a sua base parlamentar – para depois definir seu novo ministério. Alguém precisa dizer urgentemente ao presidente que a base que ele tem é exatamente a mesma base que tinha pouco antes das eleições: uma porcaria de base, que não serve para nada!
Lula tem hoje um pedaço do PMDB, nacos maiores dos pequenos partidos de esquerda e pequenos pedaços dos partidos médios, como PP, PTB etc. Além de uma oposição renhida do PFL e do PSDB. Foi essa base que levou o presidente a chegar às eleições em meio a uma tremenda crise. O eleitorado não se deixou levar pela onda de denúncias porque, no frigir dos ovos, a economia foi bem.
Sei lá. Começo a desconfiar de que o presidente se embriagou com seus 58 milhões de votos e volto a dizer o que já havia dito em outro artigo aqui neste site: ele venceu as eleições, mas o eleitorado quer que mude sua forma de agir. E Lula não está parecendo disposto a mudar.
Essa história de deixar o ministério para depois, cozinhar os aliados e prometer pagar depois que receber é conversa para boi dormir. Quando Lula chegou ao poder, no início do primeiro mandato, ainda deu para convencer alguns parlamentares com isso. Depois, não mais.
Lula não cumpriu as promessas de cargos e benesses àqueles que votassem com o governo. Foi deixando de cumprir, deixando de cumprir e perdendo votos no Congresso, continuou prometendo e não cumprindo até que perdeu a credibilidade. No final, não teve o PMDB, ficou com uma série de nacos fisiológicos de várias legendas sustentadas pelo tal do mensalão.
Até que um de seus aliados, chamado Roberto Jefferson – a quem fora prometido o paraíso -, achou que também estava sendo enrolado e resolveu virar a mesa. Quando se levantou o tapete da base governista, só se encontrou lixo, severinos cavalcantis, marcos valérios, luizinhos, zezinhos, joões paulos…
Será que é preciso recontar essa história toda ao presidente? Ele vai continuar achando que dá para governar mais quatro anos enrolando, empurrando a base com a barriga?
Ali no Congresso, costuma-se dizer que os ingênuos ficaram para as últimas suplências. Não tem um bobo! A turma sabe que Lula sai das eleições de bem com a opinião pública. Ele fala grosso e a turma não bate de frente. Espera as votações.
No início, a tal base de espertos deixa aprovar algumas coisinhas, depois muda um projeto um pouquinho, muda outro um pouco mais, e recusa a aprovação de outro adiante. Até o governante aprender que tem que negociar. É o jogo do estica-e-puxa. Fizeram isso com Lula no primeiro mandato. Ele acabou deixando que sujassem sua biografia e lhe tirassem do governo seus maiores amigos.
O presidente veio para o segundo mandato com 58 milhões de votos, mas agora, sem seus maiores amigos e com menos PT do que já teve um dia, está menos protegido.
Acenou que aprendera a lição e que começaria o segundo mandato sem o jogo do estica-e-puxa, mas sim jogando limpo e às claras com sua base parlamentar. Agora voltou a agir como no passado. Sei não, isso tem cheiro de que vai dar errado…