A redução da Selic pela segunda vez consecutiva, parece consolidar uma nova visão das autoridades monetárias com relação à análise do cenário econômico. Ante às crises fiscais na Europa e Estados Unidos e o risco de contaminação global, e considerando que as pressões inflacionárias atuais são muito mais ligadas às commodities, preço dos alimentos e energia e pouco suscetíveis à influência dos juros, a melhor relação-custo benefício é mesmo baixar as taxas para estimular o mercado interno, os investimentos e o nível de atividade.
Parece que o Copom teve uma percepção mais clara de que os juros muito altos já não vinham sendo uma ferramenta eficaz para aliviar a pressão sobre os preços. Além disso, somados aos spreads bancários, ainda aumentam o custo das empresas, onerando os investimentos, tornando mais caro para o bolso dos brasileiros o crédito para consumo e agravando o serviço da dívida pública.
Assim, o início de um ciclo de redução da Selic, embora 11,5% ao ano ainda seja um patamar muito elevado, evita que se aprofunde a tendência recessiva emanada da crise no Hemisfério Norte e que sejam gerados efeitos colaterais negativos, como o aumento das despesas do governo com juros. Estas já alcançaram o montante de R$ 195 bilhões em 2010 e deverão atingir cerca de R$ 210 bilhões em 2011. Nos últimos oito anos, foram mais de R$ 2 trilhões. Com a redução da Selic, quebra-se um círculo vicioso, que vinha sendo sentido bastante na economia, em especial na indústria, que já enfrenta outros fatores limitantes à sua competitividade, como o câmbio apreciado e o forte assédio de produtos importados, principalmente da China.
A política econômica do governo mostra-se correta em numerosos aspectos. Isso pode ser comprovado pelo índice médio de crescimento do PIB nos últimos anos, a ampliação expressiva do número de habitantes incluídos no mercado consumidor, a invejável performance no enfrentamento da crise mundial, o menor desemprego na série histórica desse indicador fundamental, o elevado nível de investimentos produtivos externos e as perspectivas positivas para o presente e o próximo ano. Parece que as autoridades monetárias, cujas decisões e autonomia, aliás, vêm sendo respeitadas pelo governo, adquirem visão mais sinérgica com a gestão da macroeconomia a cargo do Ministério da Fazenda.
Essa reorientação do Copom e do Banco Central cria melhores condições para o Brasil enfrentar as novas adversidades internacionais e também no sentido de resgatar a confiança dos setores produtivos e dos consumidores. Trata-se de uma injeção de ânimo no mercado interno, que, a exemplo do ocorrido em 2008 e 2009, deverá novamente ser a grande base de sustentação de nosso crescimento econômico num cenário internacional permeado de riscos, inquietações e incertezas.
*Diretor presidente da Trevisan Escola de Negócios, membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social e do MBC Movimento Brasil Competitivo