Tales Faria*
Já sentia repulsa pelas verdadeiras sanguessugas, os bichinhos. Aqueles animais nojentos e escorregadios que grudam na pele da gente. Quanto aos sanguessugas do Congresso, estes nem pensar! Acho-os asquerosos. Foi muito importante para o país termos descoberto que eles existiam e é muito importante que todos sejam punidos e que, se possível, não sejam eleitos em outubro. E ponto final. O caso dos sanguessugas não pode é se transformar em fonte de desinformação para o público.
Por exemplo: o deputado Miro Teixeira resolveu pegar uma carona no noticiário em torno dos sanguessugas e apareceu em Brasília com um verdadeiro factóide: provocou o Tribunal Superior Eleitoral a se manifestar sobre a anulação de candidaturas à reeleição de parlamentares contra os quais pesam provas de envolvimento em irregularidades, e se eles podem ser impedidos de assumir os cargos, caso sejam eleitos.
A imprensa deu imediata repercussão à proposta de Miro. Por quê? Porque ser contra os sanguessugas virou moda, passou a dar audiência. Então foram dias a fio de campanha e textos às pencas com jornais, revistas e TVs dando a entender ao pobre público que a proposta de Miro poderia ser encampada pela Justiça. Pura desinformação!
Bastava ouvir especialistas. Presidente da comissão de direito político e eleitoral da Seccional de São Paulo da Ordem dos Advogados do Brasil, Éverson Tobaruela afirma que a consulta de Miro não tem validade. Segundo ele, o princípio da presunção de inocência, garantido pela Constituição, não permite que os mandatos sejam impugnados antes do julgamento completo do processo. "Isso constituiria um crime de lesa-pátria, seria o mesmo que rasgar a Constituição. O princípio não pode ser atropelado".
Miro é advogado, e dos bons. Deve saber que sua proposta não vai a lugar algum, embora sirva para colocar o seu nome na mídia às vésperas das eleições. Na internet, Tobaruela classificou a atitude de Miro como "um oportunismo barato". "Ele fez essa consulta para aparecer e ganhar mídia", explicou…
Digamos que pode estar havendo aí algum exagero do advogado da OAB, fruto do preciosismo técnico com que encara o assunto. Digamos que o deputado tem lá o seu direito de apresentar propostas chamativas em época de eleição. Mas a imprensa ter embarcado nessa, só para dar tom de campanha à cobertura dos sanguessugas… Isso foi um desserviço!