Quanta baboseira se escreve no Dia dos Pais!
Pai herói! Pai, meu amigão!
Pai, eu sou você amanhã. Opss, acho que isso não!!!
Ou seria o contrário?
Urrrgghhh!!!! Horrível!!!!
Pai confunde a gente. Faz a gente parecer bobo. Novo. Uma criança boba, para ser mais preciso. Porque a gente não sabe onde começa pai, onde termina o filho, e onde os papéis se separam na curva da adolescência e de imperioso ciclo da vida!!!
Pôxa, olhe para o seu pai e verás quem é!!!!
Como eu disse, tudo baboseira!
Na verdade, se virarmos tudo de cabeça para baixo, aí sim, a coisa fica mais clara.
Tipo assim: olha para dentro de você, e aí encontrarás o pai! Hummm, na verdade, encontrarás vários pais!
O pai que você pensa que ele é, mas que nunca foi, sem qualquer menção de ter sido. Seu pai é uma construção sua! Ele é o nome próprio que deram a ele!!! O resto são seus lamentos, seus sonhos, suas projeções e identificações que construíram um pai também sujeito, mas principalmente objeto da sua fantasia.
Cuidado, ao navegar pelo seu mar de pais, para desviar também do pai que você é e pensa que é, mas que na verdade você também nunca foi.
Nem que seja do seu cachorro, todos nós também fomos um dia pai… ou pai por um dia hahaha.
E certamente achamos que fomos bem melhores do que nosso pai, que na verdade é nosso espelho.
Em cada filho também existe um pai, até porque ele precisou de um modelo para brincar de família na infância. Assim como nunca deixamos de ser filhos, nunca vamos deixar de ser filhos ao avesso, que é ser pai ao contrário, ai que confusão!!!.
Pai também é fantasma da gente que usa saia!!! Veja lá no IBGE quantas mães de arrimo, codinome para “pai moderno”.
Nos livros de história infantil, mãe com papel de pai se chama “pãe”. Boa sugestão para alterar o novo Código Civil Brasileiro.
Pãe não é nem mãe nem pai, mas certamente é alguém com as mãos e o coração calejado pela labuta de cuidar de alguém: com alma ou sem, com amor ou sem, com cuidado ou sem!!!
Ser pai é simplesmente um sentimento de estar inequivocamente ligado a outro, um terceiro que deve te mostrar o caminho e te agarrar pelo braço quando a correnteza aperta.
Se ele é real ou não, pouco importa.
Pai também é uma boa obra de ficção!
Mas, para falar de pai, a gente deve esquecer o coração, fechar a gaveta da emoção, esconder bem escondidos os ressentimentos, e abrir o compartimento da memória.
Tire, com cuidado para não quebrar, aquelas lembranças mais frágeis e apagadas pelo tempo: sabe aquele dia que seu pai te pedia um cafuné? Lembra quando ele sorria e te chamava de Betinha?
Então, anota aí!!!
O pai que jogava bola com você, ou que você adorava ver jogar bola?
Tica! Outro registro para arrancar lágrimas do velho!
Se recorda quando ele faltou à festinha do Dia dos Pais na escola?
Hummm, essa ficha hummm…. Bem, essa você guarda na gaveta de novo onde está escrito: arquivo morto para vacilos de pais humanos!!!
Uffaaaaa!!!! Que bom que eu já cresci e não tem Dia dos Pais no meu trabalho!!!
Que bom que a minha criança aprendeu a cozinhar e pode cuidar agora do pai como se filho fosse!!!!
E quem se esquece que, no estranho ciclo da vida, tudo se renova e eu posso reparar os erros que cometi, e reparar também os erros que os outros cometeram comigo sendo pai, sendo filho, sendo meio filho ou apenas a idealização do pai que nunca tive encarnado num pai postiço!
Pai hoje, filho depois, cada um pode ter o seu! Da sua escolha! Porque no final, a única coisa que importa é nutrir o sentimento de amor que floresce na simples pronúncia da palavra Pai!!!
Não é mesmo assim que chamamos o ser supremo de toda existência!!!!
Porque pai é assim: não tem cheiro, não tem cor, não tem comprovação científica ou refutação teórica.
Só mesmo quem não tem nenhuma imaginação – ou, na verdade nenhum pingo de amor próprio – pode ousar dizer que nunca teve um pai!
Ou seja, larga de baboseira, e, no dia que encontrar seu pai – e não no Dia dos Pais – diga apenas: Pai, eu te amo!!!
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