Marcos Magalhães*
O presidente Lula, bem definiu a revista inglesa The Economist, é um homem de sorte. Prometeu um governo limpo, enfrentou um enorme escândalo de corrupção e ainda parece capaz de dar a volta por cima e ganhar uma segunda chance do eleitorado. Para tornar esse trajeto mais fácil, o maior partido de oposição ainda terá de recosturar a própria unidade interna, depois do lançamento da candidatura a presidente da República do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin.
As fotos de um Alckmin sorridente ao lado do prefeito paulistano José Serra, que abriu mão de sua pré-candidatura por se opor à idéia da realização de prévias, serão fartamente usadas para demonstrar a coesão do PSDB. Mas o governador precisará dedicar as próximas semanas em um processo de pacificação interna. O próprio anúncio de sua candidatura presidencial, no diretório estadual do partido em São Paulo, não contou com a presença do prefeito, que um dia antes havia admitido colocar seu nome à disposição do PSDB.
Enquanto a oposição se rearticula, Lula aproveita a vitrine permanente do governo para se expor ao eleitorado. Durante algumas boas semanas, ele ainda percorrerá o país inaugurando obras e apresentando projetos, antes de admitir oficialmente a sua candidatura à reeleição. Além de trabalhar, como o próprio presidente admitiu, por uma composição do PT com o PMDB para as eleições de outubro.
O tempo agora corre contra Alckmin. Ele precisará de muito trabalho para unir o PSDB, construir um projeto alternativo para o país e ainda tornar o seu nome conhecido em todo o Brasil. Em São Paulo, o governador já demonstrou que conseguiu superar o favoritismo de adversários e virar eleições. Para conquistar o apoio da maioria do eleitorado do Brasil, porém, terá de provar a quem não o conhece que representa uma boa alternativa ao atual governo.
Alckmin começou batendo na corrupção. O PSDB e o PFL deverão mesmo insistir, até o fim da campanha, na tarefa de lembrar ao eleitor todos os episódios que mancharam a reputação ética do PT, desde que o ex-deputado Roberto Jefferson resolveu contar o que sabia em uma comissão da Câmara. Mas a oposição vai precisar de mais do que isso para reverter o atual favoritismo de Lula. A começar por dizer o que fará se conseguir voltar ao Palácio do Planalto.
A escolha do governador paulista, nesse caso, pode representar uma maior aproximação do PSDB com o chamado “mercado”. Há poucos meses, Geraldo Alckmin foi apontado pela revista Exame como o candidato preferido dos empresários. E ele tem reiterado sua disposição de retomar logo no início do governo, se for eleito, o processo de reformas inaugurado por Fernando Henrique Cardoso. A austeridade pode vir a ser a marca da campanha de Alckmin, no momento em que crescem as críticas contra o desperdício de recursos públicos no governo Lula.
Para chegar à condição de candidato, o governador paulista abriu mão de qualquer projeto de reeleição. Com isso, conquistou a simpatia de seu colega mineiro Aécio Neves, que tem indicado a disposição de concorrer ao Palácio do Planalto em 2010, quando o próprio Lula – se conquistar a reeleição – estará fora do páreo. Resta saber se, daqui a quatro anos, o PSDB terá de enfrentar uma nova disputa interna. Desta vez entre Aécio e o candidato preterido de 2006, José Serra.