Tem sido intensa a movimentação dos pré-candidatos Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB) no debate das propostas para economia brasileira. Encontros, almoços e jantares se transformam em palanques especializados, onde os citados pré-candidatos falam para líderes empresariais de vários ramos econômicos sobre suas avaliações acerca da inflação, das expectativas para o crescimento do PIB, a atração de investimentos e outros motes que estão na ordem do dia.
Nessa jornada, os temas monetários ocupam lugar de destaque. Tanto Aécio quanto Eduardo tem criticado com insistência o perigo da volta da inflação. Segundo eles, há uma “incapacidade” do governo da presidenta Dilma Rousseff de manter a inflação dentro dos limites do atual regime de metas. Por isso, esforçam-se em defender o aprofundamento do atual modelo, através de um ajuste fiscal mais duro, além de reafirmarem o compromisso com a promoção, até por meio de nova legislação, da chamada autonomia do Banco Central.
Ambos correm contra o tempo. Aécio Neves e Eduardo Campos miram setores estratégicos da economia, pesos pesados do PIB nacional, capazes de alavancar suas candidaturas na direção da oposição e torná-las competitivas até outubro. Como têm opiniões parecidas sobre quase tudo nesse ramo, fica difícil imaginar qual das duas candidaturas seria a preferida desse seleto universo de eleitores.
Por serem similares, as críticas e propostas de Aécio e Eduardo carregam as mesmas limitações. Criticam a inflação persistente, julgando-a ameaçadora, mas não explicam sua natureza, nem seu processo de resistência. Defendem o tripé ‘câmbio flutuante, regime de metas de inflação e superávit primário’, mas têm sido incapazes de fazer uma avaliação profunda desse modelo, de suas ferramentas e consequências nos últimos 15 anos. Passam a léguas de distância de uma avaliação da atual situação internacional de nossa economia, sua inserção externa, competitividade de nossas exportações, balança comercial e balanço de pagamentos. Não respondem por que razões o Brasil está “reprimarizando” sua economia, transformando-se em importador de bens de média e alta tecnologia, com progressiva perda da participação da indústria de transformação no PIB.
Dessa forma, observa-se que ambos, Aécio e Eduardo, têm sido incapazes de olhar o país de forma articulada. Não constroem com precisão um diagnóstico profundo das relações que predominam hoje entre política monetária, câmbio, formação da taxa de poupança e sua transformação em taxa de investimento. Criticam a falta de investimento, mas não indicam o que gera essa incapacidade. Passam longe, de resto, das razões de nossas profundas desigualdades regionais e sociais. Por exemplo, as escolas públicas da educação básica no Nordeste brasileiro, com elevados percentuais de professores com contratos temporários e sem licenciatura, mesmo nas séries finais do ensino fundamental, têm 60% menos insumos inovadores (acesso à internet, laboratórios de ciências, informática, bibliotecas, quadras cobertas), quando comparadas com as escolas do Sudeste.
Ao baterem na volta do fantasma inflacionário, os pré-candidatos à Presidência da República não expõem com exatidão os problemas gerados pelos preços administrados e aqueles comercializáveis (comoditties bem cotadas nos mercados externos). Dessa forma, Aécio e Eduardo são muito mais arautos da continuidade endurecida do velho modelo herdado de Fernando Henrique Cardoso, flexibilizado tantas vezes por Lula e Dilma, do que vozes de mudanças objetivas nessa arquitetura que dá, a cada dia, sinais de sua ineficiência como instrumento fiador da relação estabilidade-crescimento-desenvolvimento.
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