Antônio Carlos Roxo*
Marcus Eduardo de Oliveira**
É natural que um governo novo, resultado de ampla coalizão político-partidária que o levou ao poder, no qual se misturou alhos com bugalhos, tenha em suas ações, nesses primeiros meses de administração, algumas contradições; na verdade, graves contradições, diríamos nós. Afinal, em termos de posições contrárias, não se junta impunemente numa mesma sala figuras como Sarney, J. Barbalho, Collor, e outros menos conhecidos que agora têm a ilustre presença de Kassab e companhia.
O fato é que o governo Dilma logo em seu início se posicionou em termos de mudança de postura com respeito à questão dos Direitos Humanos; a condenação veemente ao apedrejamento de mulheres, ilustrativo, por sinal, foi um avanço, e também uma negação de que as posições de um país, nesta e em outras questões, tem de ser pautada pelo cinismo cimentado nos interesses corporativos. Sem dúvida, um avanço em relação aos governos anteriores.
Em seguida, ensaiou-se uma mudança ainda mais significativa para os nossos olhos enviesados de economistas, tão acostumados ao receituário tradicional, ao encarar-se o combate à inflação com outras ferramentas que não o suspeitíssimo expediente clássico de aumentar a taxa básica de juros. Pontualmente, firmava-se assim uma posição heterodoxa em termos de se fazer políticas econômicas mais ousadas, longe, portanto, do tradicionalismo acadêmico.
Com isso, passou-se a tentar ganhar a opinião pública (leia-se: o mercado!) com anúncios de medidas prudenciais que atacassem de outro modo o aumento dos preços, inclusive procurando-se de forma efetiva diminuir o consumo (demanda agregada) via restrição ao crédito, que não fossem simplesmente a aplicação das receitas conservadoras sopradas pelo deus-mercado.
Dentro da tentativa de implementação de uma nova visão em termos específicos de política monetária, o aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) sobre as aplicações estrangeiras de cunho especulativo, embora com tibieza dado o gigantismo do problema, indicava a disposição de não usar, como até então, a valorização do câmbio, isto é, do Real, como um dos principais instrumentos no combate à inflação à custa da perda acentuada da competitividade do setor industrial, a duras penas constituída pelo país. Até mesmo porque o outro nome disso chama-se desindustrialização.
Entretanto, na hora do vamos ver, a reação do mercado, de seus áulicos ao levantar um pouco mais a voz na grande imprensa conservadora, tão coesa e repetitiva em seus argumentos de defesa dos juros escorchantes e da livre movimentação de capitais, transformada em verdade científica mais uma vez, desabou em seu canto de sereia.
Assim, aproveita-se do momento para retomar novo mote para embates futuros que garanta, na essência do problema, juros estratosféricos por mais tempo, ao se afirmar que um dos problemas da inflação é que as metas inflacionárias (4,5% ao ano) estão estabelecidas em patamar alto demais por período de tempo muito prolongado.
Resultado: o Banco Central, dentro de seu conservadorismo peculiar, sucumbiu e divulgou nota, para atender ao mercado, atestando que permanecerão os juros altos por um período de tempo suficientemente prolongado.
Ora, com isso, dança-se conforme a música e voa-se para onde o vento soprar. O problema é que nem sempre esse vento conduz a um porto seguro. Tempestades costumam derrubar navios, e políticas econômicas, mal desenhadas, costumam aumentar a taxa de desemprego e enfraquecer o poder de compra da população. As pesquisas de opinião pública, em breve, quando aferirem novamente a popularidade da presidenta Dilma poderão fornecer dados mais abalizados sobre isso. O tempo dirá!
*Economista, com doutorado pela USP. Professor do UNIFIEO e coordenador do curso de Comércio Exterior e Negócios Internacionais da mesma instituição. Fundador e membro do GECEU Grupo de Estudos de Comércio Exterior do UNIFIEO
**Economista e professor de economia da FAC-FITO e do UNIFIEO. Mestre pela USP e membro do GECEU Grupo de Estudos de Comércio Exterior do UNIFIEO.