Soraia Costa *
Com média de gastos de R$ 7,6 milhões por candidato eleito, as campanhas vitoriosas aos governos estaduais foram financiadas principalmente por grandes indústrias, construtoras e empresas de comércio exterior. A maioria dos financiadores ou tinha interesses locais na região para a qual a doação se destinou ou estava ligada direta ou indiretamente ao candidato. O total de despesas dos 27 governadores eleitos foi de R$ 207.005.755,88.
No primeiro turno, proporcionalmente, o governador de Tocantins, Marcelo Miranda (PMDB), foi quem mais gastou, considerando a divisão do valor total das despesas efetuadas pelo número de votos obtidos. Quem gastou menos foi Jaques Wagner (PT-BA). No segundo turno, a deputada federal Yeda Crusius (PSDB), eleita governadora do Rio Grande do Sul, teve na média os gastos mais baixos, enquanto Alcides Rodrigues (PP-GO) teve o voto com o mais alto custo médio.
Para bancar as eleições aos governos estaduais, o dinheiro arrecadado pelos partidos também teve participação significativa. A campanha mais cara entre os governadores eleitos, a do ex-prefeito de São Paulo José Serra (PSDB), por exemplo, foi totalmente financiada com os recursos do comitê de campanha do PSDB em São Paulo. Serra declarou à Justiça eleitoral despesas totais no valor de R$ 25.912.995,55, financiada por um único doador: o comitê financeiro para governador do PSDB-SP.
O levantamento feito pelo Congresso em Foco mostra ainda os governadores reeleitos gastaram neste ano 62,6% a mais do que o total gasto para se elegerem em 2002.
Interesses regionais
Apenas Waldez Góes (PDT-AP), Paulo Hartung (PMDB-ES), e Eduardo Braga (PMDB-AM) não utilizaram dinheiro dos seus partidos em suas campanhas. Os dois últimos tiveram os gastos financiados com grandes doações de empresas com interesses regionais.
Só a Cisa Trading, uma das maiores importadoras em atividade no Espírito Santo, doou sozinha R$ 1,288 milhão para a campanha de Hartung. Reeleito no primeiro turno, Hartung também recebeu R$ 1.401.825,00 de empresas ligadas à construção civil, R$ 1 milhão da MBR Minerações Brasileiras Reunidas e outros R$ 600 mil da Companhia Siderúrgica de Tubarão (CST).
As empresas que atuam na Zona Franca de Manaus, em especial as de aparelhos eletroeletrônicos, foram responsáveis pelo grosso das doações recebidas por Eduardo Braga. Para conquistar mais quatro anos à frente do governo do Amazonas, o governador contou com R$ 750 mil da Gradiente, R$ 700 mil da Semp Toshiba, R$ 420 mil da Videolar, R$ 750 mil da Recofarma, indústria ligada à Coca-Cola, R$ 500 mil da Yamaha e mais de R$ 1 milhão de duas fabricantes de bicicletas, a Caloi e a Sundown.
No Mato Grosso do Sul, André Puccinelli (PMDB) recebeu R$ 860 mil de usinas de açúcar que produzem na região. Os usineiros investiram significativamente na campanha de Teotônio Vilela Filho (PSDB-AL), também empresário do setor sucroalcooleiro. Só da Cooperativa Regional dos Produtores de Açúcar e Álcool de Alagoas ele recebeu R$ 1,27 milhão. Isso sem contar o R$ 1 milhão recebido da Usinas Reunidas Seresta, da qual Téo Vilela Filho é sócio.
As doações dos bancos
O atual senador Sérgio Cabral (PMDB), eleito governador do Rio de Janeiro, teve boa parte de sua campanha patrocinada por bancos. Juntas, as instituições financeiras doaram R$ 3,1 milhões para a campanha do peemedebista, sendo que o maior investimento foi do Banco Itaú, que contribuiu com R$ 900 mil.
Em Minas Gerais, Aécio Neves também recebeu uma boa doação do Itaú: R$ 800 mil, mas seus maiores financiadores foram as construtoras, que contribuíram com mais de R$ 4 milhões, e as mineradoras e siderúrgicas.
Os concorrentes petistas foram os menos beneficiados com doações das grandes empresas. Os principais candidatos do partido foram financiados com o dinheiro do comitê de Lula ou com recursos do Diretório Nacional do PT.
O preço do voto
O governador eleito do Amapá, por outro lado, foi o único financiador de sua própria campanha. Embora seus gastos (R$ 2.427.063,06) tenham sido relativamente baixos, em comparação aos dos demais eleitos, o custo de cada voto recebido por Waldez Góes foi de R$ 15,15, uma das médias mais altas do país. Isso porque o Amapá tem um dos menores eleitorados brasileiros. Na última eleição, foram computados no estado 160.150 votos válidos para governador.
Apesar de ter feito a campanha mais cara em valores absolutos, o tucano José Serra teve uma das menores médias de custo por voto nas eleições. Ele conquistou 12.381.038 votos, que, comparando-se às despesas totais do candidato, saíram por R$ 2,09 cada.
Proporcionalmente, como mostramos antes, o voto mais caro na disputa foi o do eleitor de Tocantins. Para continuar no governo, o peemedebista Marcelo Miranda gastou uma média de R$ 20,25 por voto. Entre os eleitos no primeiro turno, quem menos gastou por voto recebido foi Jaques Wagner (PT-BA). Com despesas de R$ 4.286.723,35 e 3.242.336 votos válidos, o petista gastou em média R$ 1,32 por cada voto recebido.
No segundo turno, porém, a deputada federal Yeda Crusius (PSDB-RS) superou Wagner, apresentando o mais baixo custo do voto. Ela conquistou o governo do estado gastando uma média de R$ 1,01 por voto. O voto mais caro do segundo turno foi o de Alcides Rodrigues (PP-GO), que precisou desembolsar uma média de R$ 10,31 por cada um dos 1.508.024 votos recebidos.
Se consideradas as somas das despesas dos governadores eleitos de cada partido, a campanha mais cara também foi a do PP. O único governador eleito pelo partido, o goiano Alcides Rodrigues, declarou uma despesa total de R$ 15.546.006.
As candidaturas tucanas também custaram caro. Os seis governadores eleitos pelo PSDB declararam, juntos, gastos de R$ 64.499.738,15, o que corresponde a uma média de R$ 10.749.956,36 por candidato. Só o partido contribuiu com R$ 29.668.870,20 do total de despesas.
O PDT e o PT foram os partidos com as menores médias de despesa por governador eleito. Para eleger Waldez Góes (AP) e Jackson Lago (MA), o partido desembolsou R$ 587.740 dos R$ 5.794.098,06 gastos, no total, pelos dois candidatos. Como Waldez Góes usou apenas recursos próprios, o partido precisou colocar dinheiro apenas na campanha pelo governo do Maranhão, em que saiu derrotada a senadora Roseana Sarney.
Já o PT elegeu cinco governadores a um custo médio de R$ 3.219.284,98. A campanha mais cara foi a da senadora Ana Júlia Carepa (PA), única petista eleita no segundo turno. Para vencer a disputa contra o ex-governador paraense Almir Gabriel (PSDB), que começou liderando as pesquisas de intenção de voto, o PT liberou R$ 3.267.550.
Construtoras lideram doações
Em uma campanha de grandes somas, a corrida pela maior doação foi apertada. Quatro governadores eleitos – Aécio Neves (PSDB-MG), Alcides Rodrigues (PP-GO), Paulo Hartung (PMDB-ES) e Teotônio Vilela (PSDB-AL) – receberam doações individuais de mais de R$ 1 milhão. A maior delas foi da empresa de comércio exterior Cisa Trading, que investiu R$ 1,288 milhão na reeleição do governador capixaba.
As construtoras e empresas de engenharia, no entanto, foram as maiores financiadoras das campanhas dos governadores eleitos. Elas investiram um total de R$ 23.866.648,00 nas campanhas de 21 eleitos. Os governadores que mais receberam doações foram os de Minas Gerais (R$ 4,3 milhões), Goiás (R$ 3,5 milhões), Paraná e Rio de Janeiro (R$ 2,1 milhões, cada). A maior doação individual entre as empresas do setor foi para Alcides Rodrigues. Ele recebeu R$ 1 milhão da Engesa Engenharia.
O grupo JBS-Friboi também contribuiu com R$ 1 milhão para a reeleição de Alcides Rodrigues, eleito em 2002 como vice de Marconi Perillo e que assumiu o governo de Goiás em março deste ano. O JBS-Fiboi, que trabalha em Goiás com o abate de gado de corte, investiu ainda R$ 500 mil na campanha de José Roberto Arruda (PFL-DF).
A Ambev e o grupo Gerdau também se destacaram entre os maiores financiadores no âmbito nacional. Por meio de uma das empresas do grupo, a Fratelli Vita Bebidas, a Ambev contribuiu com R$ 2 milhões para as campanhas de 11 governadores. As doações variaram de R$ 80 mil a R$ 430 mil.
O grupo Gerdau, por sua vez, doou R$ 1.723.000 para sete candidatos vitoriosos. Só a gaúcha Yeda Crusius recebeu R$ 500 mil. O grupo privilegiou os candidatos da oposição. Entre os governistas, apenas o petista baiano Jaques Wagner recebeu doações. Mesmo assim, com valor bem inferior ao dos financiamentos recebidos pelos tucanos, R$ 100 mil.
Eleições mais caras
Ao contrário do que esperava o Tribunal Superior Eleitoral, a comparação entre os gastos feitos pelos candidatos reeleitos mostra que houve um significativo aumento de despesas da última eleição para cá.
Enquanto a soma das despesas de 12, dos 14 governadores reeleitos, foi de R$ 57.028.603,22, nas eleições passadas (valores corrigidos com base no IPCA de outubro de 2002 para cá), o total gasto agora chegou a R$ 92.715.293,26. Com isso, a diferença entre as campanhas de 2002 e 2006 correspondeu a um aumento de 62,6%. No cálculo, foram desconsideradas as despesas de Alcides Rodrigues (PP-GO), que em 2002 foi eleito vice-governador, e de Ottomar Pinto (PSDB-RR), cuja prestação de contas de 2002 não estava disponível no site do TSE.
Além de Ottomar e Alcides, que assumiu neste ano o lugar do tucano Marconi Perillo (eleito senador em outubro), foram reeleitos Waldez Góes (PDT-AP), Eduardo Braga (PMDB-AM), Paulo Hartung (PMDB-ES), Aécio Neves (PSDB-MG), Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), Wellington Dias (PT-PI), Wilma de Faria (PSB-RN), Ivo Cassol (PPS-RO), Roberto Requião (PMDB-PR), Luiz Henrique (PMDB-SC), Marcelo Miranda (PMDB-TO) e Blairo Maggi (MT), eleito pelo PPS, mas agora sem partido.
De todos eles, apenas Blairo Maggi conseguiu reduzir suas despesas. Comparando as despesas nas eleições deste ano com o valor corrigido de seus gastos em 2002, a queda foi de quase R$ 3,5 milhões.
Roberto Requião (PMDB-PR) foi quem mais elevou suas despesas. Passou de R$ 4,5 milhões em 2002 (valores corrigidos) para R$ 12,9 milhões este ano. Um aumento de R$ 8,4 milhões, ou seja, 86,7%.
A expectativa da Justiça eleitoral era de que a proibição dos showmícios, outdoors e outras restrições estabelecidas para a propaganda eleitoral levassem à redução dos custos de campanha. No entanto, quase todos os candidatos declararam despesas mais altas. Uma das explicações para o fenômeno é que os escândalos dos últimos anos fizeram com que os candidatos fossem mais transparentes em suas declarações, reduzindo o dinheiro de caixa dois.
Outro argumento usado pelos políticos é que as restrições para a propaganda tornaram mais difícil divulgar as candidaturas, exigindo do candidato maior investimento em cabos eleitorais e material de campanha.
Relação completa dos financiadores
Segue, abaixo, a relação completa dos financiadores dos 27 governadores eleitos:
Acre – Binho Marques (PT)
Alagoas – Teotônio Vilela Filho (PSDB)
Amapá – Waldez Góes (PDT)
Amazonas – Eduardo Braga (PMDB)
Bahia – Jaques Wagner (PT)
Ceará – Cid Gomes (PSB)
Distrito Federal – José Roberto Arruda (PFL)
Espírito Santo – Paulo Hartung (PMDB)
Goiás – Alcides Rodrigues (PP)
Maranhão – Jackson Lago (PDT)
Mato Grosso – Blairo Maggi (sem partido, eleito pelo PPS)
Mato Grosso do Sul – André Puccinelli (PMDB)
Minas Gerais – Aécio Neves (PSDB)
Pará – Ana Júlia Carepa (PT)
Paraíba – Cássio Cunha Lima (PSDB)
Paraná – Roberto Requião (PMDB)
Pernambuco – Eduardo Campos (PSB)
Piauí – Wellington Dias (PT)
Rondônia – Ivo Cassol (PPS)
Roraima – Ottomar Pinto (PSDB)
Rio de Janeiro – Sérgio Cabral (PMDB)
Rio Grande do Norte – Wilma de Faria (PSB)
Rio Grande do Sul – Yeda Crusius (PSDB)
Santa Catarina – Luiz Henrique (PMDB)
São Paulo – José Serra (PSDB)
Sergipe – Marcelo Déda (PT)
Tocantins – Marcelo Miranda (PMDB)
* Colaboraram Edson Sardinha e Diego Moraes
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