Marcos Magalhães*
Vamos ao cenário mais otimista. O governo sai do atoleiro moral em que se meteu, recupera-se aos poucos das feridas abertas pelas CPIs em série e recupera a iniciativa. Estabelece uma nova agenda política, obtém uma maioria razoavelmente estável no Congresso Nacional e consegue voltar a aprovar as reformas necessárias para que o país caminhe em direção a índices asiáticos de crescimento.
A má notícia? Por melhores que sejam as condições políticas ao longo dos próximos meses, este cenário tende mesmo a ficar para 2007. Ainda que o tempo esfrie as comissões parlamentares de inquérito e não surjam novas denúncias de corrupção, o tempo será curto no ano que começa para se projetar uma nova agenda legislativa de verdade. Dentro de poucos meses, já estará nas ruas a corrida eleitoral para a escolha do sucessor do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O clima estará mais para campanha do que para votações no Legislativo.
Ainda há espaço para algumas boas surpresas em 2006. Se tudo correr bem, a economia vai crescer mais do que em 2005 – embora possivelmente não tanto quanto gostaria o presidente recandidato. Na Câmara, existe ainda a chance de se avançar na proposta de reforma tributária, a partir do texto aprovado anteriormente pelo Senado. Se a tensão política diminuir, existe até mesmo espaço para a aprovação por consenso de matérias como a criação do Fundo de Manutenção da Educação Básica (Fundeb).
Pouca gente espera, porém, iniciativas mais ousadas. Os respingos da crise de 2005, a falta de tempo para votações de peso no primeiro semestre de 2006 e o desgaste do capital político de Lula ao longo dos últimos meses estão aí mesmo para inibir vôos mais altos neste ano eleitoral.
A retomada de uma agenda de mudanças vai exigir a renovação do poder político. Somente um presidente que acabe de receber um mandato popular terá energia suficiente para levar adiante, por exemplo, uma nova rodada da reforma da Previdência – mesmo que seja apenas para regulamentar dispositivos já incluídos na Constituição na última reforma, em 2003. Ou para se comprometer com uma agenda de cortes de gastos no setor público ao longo dos próximos anos, que permita a redução mais rápida dos juros, como cogitou a equipe econômica do atual governo.
Mesmo que em 2007 o Palácio do Planalto tenha o mesmo ocupante que tem hoje, ainda assim haveria um Lula diferente do que o da crise de 2005. Com mandato renovado, ele provavelmente teria caminho aberto para o estabelecimento de uma nova agenda política. Uma agenda que permitisse ao presidente – para quem quatro anos são muito pouco – imprimir a marca que tanto deseja na história brasileira.
PublicidadeSe a oposição ganhar as eleições, talvez venha a ter ainda maior margem de manobra para colocar em prática uma nova agenda. Isso porque não chegaria ao poder tendo que recosturar uma base de apoio no Congresso Nacional, como seria o caso do atual governo. Seja ele José Serra, Geraldo Alckmin ou mesmo Anthony Garotinho, que ainda corre por fora para conseguir a legenda do PMDB, um presidente de oposição chegaria ao Palácio do Planalto embalado pela novidade. E teria nas mãos uma enorme oportunidade para mudar o país.