Cláudio Versiani*
Nova York é a terra das oportunidades. Fazer a América é o sonho de todo imigrante que desembarca na Grande Maçã. Pergunte a um paquistanês, a um mexicano ou a um brasileiro o que eles acham da possibilidade de se ganhar um salário mínimo em um dia de trabalho.
Ajudante de garçom, entregador de pizza, pedreiro ou peão da construção civil começam ganhando por volta de US$ 8 e podem chegar a US$ 13 por hora. Por mais que sejam explorados, sem direito a seguro médico ou previdência, ninguém reclama. Só 5% dos trabalhadores de restaurantes são sindicalizados. Comparado com as condições trabalhistas dos países de origem, isso é o paraíso, mesmo com a discriminação que sofrem os ilegais. E o melhor de tudo é que toda e qualquer profissão é respeitada. Os americanos não querem saber dessas tarefas, mas sabem que a cidade e o país não funcionam sem a mão-de-obra barata dos imigrantes.
Em Nova York, existem mais de 6 mil restaurantes, sem contar os estabelecimentos que vendem fast food, ou melhor, junk food, uma das paixões americanas. Mas 60% deles fecham depois de três anos. A concorrência acirrada, o custo operacional e, principalmente, o valor do aluguel são as principais causas das falências.
Se na América é costume o empreendimento individual, um novo estabelecimento veio contrariar a regra. Cinqüenta trabalhadores - garçons, chefes de cozinha, ajudantes, lavadores de pratos, enfim, pessoas que fazem um restaurante funcionar - resolveram arriscar e ir além do sonho de fazer a América. Depois de quatro anos, eles conseguiram abrir o seu próprio restaurante em Manhattan. É uma cooperativa dos sobreviventes do restaurante Windows of the World, que ficava numa das torres do World Trade Center, de trágica memória. Ao todo, 73 empregados do restaurante morreram no fatídico 11 de setembro de 2001, além de cem clientes. É o segundo restaurante na forma de cooperativa da cidade. Por enquanto, é uma excentricidade que tem o nome de Colors, uma alusão ao caráter multinacional do empreendimento.
Não é brincadeira. O sonho de todo imigrante é ser dono do próprio negócio. Se der certo será a consagração, se der errado. O investimento é de US$ 2,2 milhões, foram quatro longos anos para juntar tanto dinheiro. Cada cooperado contribuiu com cem horas de trabalho. E cada um deles ofereceu uma receita de família para formar o eclético cardápio, que irá mudar de tempos em tempos. O dinheiro veio de empréstimos bancários, fundos de apoio e, principalmente, de uma cooperativa italiana que acreditou no projeto e emprestou os primeiros U$ 500 mil.
O restaurante abriu no começo de janeiro e tem três anos para provar que veio para ficar. Não é pequeno, são 120 mesas e um pesado aluguel de U$ 21.500. Tarefa difícil. Os proprietários estão felizes, mas um tanto apreensivos com tamanha responsabilidade. Todos os funcionários do restaurante irão ganhar pelo menos US$ 13,50 por hora e eventualmente terão direito a seguro-saúde e aposentadoria. Também irão dividir os lucros, se existirem.
O único funcionário que veio de fora da turma foi Stefan Mailvaganam, um canadense com raízes no Sri Lanka. Ele, o gerente geral, é o encarregado de fazer o Colors dar certo. No comando com Stefan estão Bruce Herman, representante da cooperativa italiana Good Italian Food, e Saru Jayaraman, do centro de oportunidades para restaurantes de Nova York, um dos patrocinadores do projeto. Os donos do Colors estão conscientes de que as pessoas podem ir uma vez ao restaurante por curiosidade, mas só voltarão se a comida e o serviço forem bons de verdade.
O ambiente é bonito e os donos do restaurante são muito simpáticos. A comida ainda não provei. Tem tudo para emplacar como uma referência gastronômica da cidade. Mas como diz Julio Anzures, o encarregado das saladas e um dos mexicanos da comunidade, só falta um detalhe para o Colors ser perfeito, um representante do Brasil. Realmente, é uma falha lamentável.