Expedito Filho, de Nova York |
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O fantasma da eleição passada voltou a assustar os Estados Unidos nessa longa madrugada de 3 de novembro. A divulgação do resultado final da eleição americana foi suspensa quando o presidente George W. Bush, candidato à reeleição pelo Partido Republicano, liderava a votação direta com três pontos de diferença. A crise política teve início às 4h34h, horário de Brasília, no momento em que Bush poderia garantir a sua reeleição por mais quatro anos no Colégio Eleitoral se vencesse, como tudo indicava, a eleição no estado de Ohio, que conta com 20 delegados. A pedido do Partido Democrata, o Secretário de Estado de Ohio, Ken Blackwell, que é republicano, anunciou a suspensão da divulgação do resultado no estado sob a alegação de que existiam 250 mil votos provisórios, tomados em separado, que não teriam sido contabilizados por imposição de fiscais eleitorais. A essa altura, os democratas perdiam em Ohio por uma diferença de 79 mil votos. A rede de TV CNN, que liderava uma cautelosa apuração paralela, após entrevistar o secretario estadual decidiu também não contar com o resultado de Ohio. “Nessa eleição, cada voto será contado e contabilizado para o candidato em quem o eleitor votou. Nós vamos brigar por isso”, disse o senador John Edwards, candidato democrata a vice-presidente. Logo depois, o secretário de estado de Iowa, que é democrata, suspendeu também a divulgação dos resultados, seguido pelo secretário do Novo Mexico. Nesses dois estados, Bush também liderava, seguido de perto por Kerry. Publicidade
Foi uma noite longa e cheia de emoções. Bush começou ganhando os votos delegados do Colégio Eleitoral. O primeiro placar foi 34 para Bush contra três para Kerry. Logo em seguida, Kerry virou o jogo, chegando a 77 delegados contra 66 de Bush. No voto popular, Bush liderava com 57 % dos votos. Minutos depois, Bush fez 87 delegados e manteve a ponta tanto no voto popular, quanto no Colégio Eleitoral. Por volta de 1h43m, Bush tinha 193 votos no Colégio Eleitoral, enquanto Kerry amargava a fraca marca de apenas 112 delegados. Ohio e Florida confirmaram a condição de estados decisivos. Bush somente seria reeleito no Colégio Eleitoral, onde o vencedor precisa de pelo menos 270 delegados, se vencesse em Ohio e Florida, que, somados, formam um exército de 47 delegados, sendo 20 de Ohio e o restante da Florida. Para Kerry, bastava apenas a vitória em Ohio e a confirmação de favoritismo em outros estados. Às duas da madrugada, Kerry conseguiu chegar a 188 delegados, enquanto Bush, ainda na frente, contava com 197 delegados. A diferença no voto popular era de 3%, sendo 51 para Bush e 48 para Kerry. Publicidade
Na Casa Branca, Bush se deixou fotografar e declarou que a noite seria longa e emocionante. Em Ohio, milhares de pessoas ainda continuavam na fila de votação durante a madrugada. Às 3h30, Bush confirmou a vitória na Florida e abocanhou os 27 delegados. E o pior para os democratas ainda estava por vir. Bush começou a ganhar também em Ohio. A essa altura, ele já tinha vencido em Colorado e Montana, chegando à marca dos 237 delegados, enquanto Kerry continuava com 188. E aí começou a confusão. Se Bush vencesse em Ohio, Kerry teria que reconhecer a derrota. Bush liderava em outros estados e teria, com Ohio, os 270 votos necessários para vencer no Colégio Eleitoral. Bush chegou a 254 delegados contra, incluindo aí Nevada, 252 de John Kerry, que precisa agora vencer apenas em Ohio para vencer no Colégio Eleitoral. Desde o começo da semana já se previa que Ohio seria o estado-chave e um problemão para os advogados dos dois partidos. Os democratas registraram em todo o país pouco mais de 19 milhões de novo eleitores. Ohio e Florida foram dois dos estados em que ocorreram boa parte dos registros de novo votos. Kerry sabia que, quanto maior o número de novos eleitores, maior a chance de vencer. Os republicanos atuaram para anular a estratégia dos democratas e transformaram boa parte desses novos registros em votos provisórios, algo parecido com o voto em separado. Esse é mais um sinal de quanto o sistema eleitoral americano é arcaico e ultrapassado e precisa de mudanças urgentes. Publicidade |