Circula nas redes sociais um post interessante que demonstra bem nosso atávico apego pelas contorções do barroquismo mental, pelas falácias da argumentação barroquista e pelo falseamento compulsivo da realidade! Problema mais profundo do que as campanhas contra as alegadas fake news da grande imprensa.
Trata-se de uma tabela comparativa sobre a média de assassinatos por mil habitantes entre duas cidades americanas, Chicago, onde é proibida a venda e posse de armas, e Houston, onde é liberada.
No rodapé da tabela, o comentário irônico, não fosse trágica a farsa da argumentação desarmamentista com a qual está comprometida a maior parte de nossa “inteligência”, sobretudo jornalistas, artistas e intelectuais de viés esquerdista.
Pela ironia da “Brilliant conclusion”, não é a legislação que garante o direito de defesa dos cidadãos de Houston, que resulta em menor índice de homicídios por mil habitantes, mas sim a média de temperatura mais fria de Chicago que causa mais homicídios.
E o que é este falso argumento senão a típica falácia da consequência indevida ou da falsa causa que, dentre tantas que assomam ao debate público demagógico nacional, expressa o nosso barroquista contorcionismo mental.
Se adoramos retóricas, figuras de linguagem, oratórias discurseiras, caímos frequentemente em falácias.
Costumo dizer que não salvaremos o Brasil e a civilização latino-americana da estagnação e decadência se, para além de medidas políticas e econômicas, não enfrentarmos a renhida batalha cultural.
E para aqueles que se apressam em regurgitar a infundada crença de que “cultura não se muda”, aconselho uma reflexão menos rasa sobre o que vem acontecendo com o país desde o advento da Lava Jato.
Para tanto, temos de recuar aos tempos da descoberta do Brasil, quando a Renascença já não era mais classicista, mas tomada pelo barroco (XVI). E a tal ponto que, visto no seu início como um desvio ou mero ornamento, o barroco passou a ser considerado um novo estilo de época. Se não mesmo uma nova visão de mundo.
Dois séculos depois, o iluminismo europeu esbarrou no Brasil com a resistência do romantismo, do indianismo e do positivismo! Até mesmo nosso modernismo nas letras, no cinema e na arquitetura é pleno de barroquismo. Vide Guimarães Rosa, Glauber Rocha e Oscar Niemayer e seu gosto inarredável por espirais, volutas, circunlóquios, hipérboles e paradoxos.
O esquerdismo só foi doença infantil do comunismo na Europa que teve Iluminismo! Na América Latina, por escassez de bom senso, o esquerdismo tem sido a doença senil do barroquismo. Mal de cura muito mais difícil!
E nossa imprensa, de viés socializante e coletivista, consegue fazer de uma campanha contra o fake news o próprio fake thought em que está irremediavelmente imersa. Pois o que se tratava primordialmente de expedientes tão antigos da luta política que remontam aos tempos de Roma, como calúnia, boataria, rumores, persistiu na idade moderna com as notícias plantadas, a imprensa marrom, os panfletos destruidores de reputações.
Mais recentemente se tornou libelo de acusação de Trump contra uma grande mídia de viés esquerdista, que insiste em lhe rotular as pechas as mais negativas. Com o advento das redes sociais como ferramenta de luta política, a grande mídia passou a fazer campanha contra o fake news por uma alegada imparcialidade em face da blogosfera. Mas a grande mídia progressista, seja a liberal americana ou esquerdista populista latino-americana, mesmo excluindo deliberadamente os atores políticos conservadores de seu noticiário, sempre acaba por deixar à mostra seu rabo preso ao facciosismo tendencioso do esquerdismo.
Com uma agenda decidida a priori da própria cobertura de qualquer fato social, atesta que pior do que o fenômeno do fake news é o fenômeno do fake thoughts que o fundamenta.
Senão, vejamos a agenda esquerdista, progressista, desarmamentista, abortista, anti-família, gaysista, sexista, feminista, estatista, banditista, vitimista etc, que toma como verdade absoluta termos e expressões que só revelam a defesa da mesma.
Como por exemplo a de definir como “Golpe de 64”, bem como a “ditadura militar” que lhe seguiu, como versão definitiva e inquestionável sobre o período histórico, quando correntes cada dia mais representativas de historiadores conservadores estão a defender abordagens as mais diferenciadas.
Ou a de se referir ao filósofo Olavo de Carvalho como “guru” ou “ideólogo” do novo governo sem sequer avaliar a grandeza de sua obra, se apegando aos impropérios do personagem que o próprio escritor resolveu assumir nas redes sociais e inexistem na sua obra filosófica.
Aliás, se o filósofo é seguido por centenas de milhares de leitores e frequentadores de seu curso, os grandes ativistas do novo conservadorismo brasileiro que saiu do armário e elegeu um presidente, a despeito de todos os prognósticos da imprensa, isto não significa nada?
É mesmo curioso que as estrelas do jornalismo político brasileiro não admitam seus erros da mesma forma como os próceres petistas condenados não admitem os seus. Ou quando veiculam pesquisas “científicas” de “especialistas” e ongs ativistas do desarmamento que associam a posse e porte de armas como “causas” da escalada de homicídios como desmascarado na tabela acima.
Ou quando assacam contra a fé religiosa e os valores morais da tradição judaico-cristã da maioria da população brasileira com expressões do tipo “viúva” de uma mulher morta, ou “marido” de outro homem.
Quando falseiam o debate público conotando negativamente como de “direita ou de extrema direita” legítimos argumentos conservadores contra os argumentos de esquerda sempre enaltecidos. Quando a etimologia dos termos sempre foi exatamente o contrário na tradição da sinonímia de direita com “direito” e esquerda com “sinistro ou canhoto”.
Quando bombardeiam os noticiários com notícias de “feminicídios”, novilíngua criada por movimentos feministas mundiais, apelando para a falácia de amostragem e testemunhos escolhidos.
Quando falam de “cortes no orçamento das universidades públicas”, omitindo que são no custeio e que o mesmo é para realocar recursos para o ensino fundamental. Quando apelam para motes retóricos do tipo “meu corpo, minhas regras”, sugerindo que um atributo de natureza possa justificar uma propriedade humana indevida.
Quando abusam de metonímias tomando um princípio geral como a liberdade de expressão como licença para assaques à reputação alheia.
Quando abusam das figuras de generalização diluindo a responsabilidade individual penal para o coletivo inimputável da sociedade.
Enfim, nossa grande imprensa, a serviço voluntário ou involuntário de uma visão de mundo esquerdista, exacerba atribuições sociais como as de investigar, denunciar e julgar de instituições típicas de Estado como o Ministério Público e a própria Justiça, num flagrante barroquista de contorção do fake thoughts em fake news.
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