O alerta é feito pelo documentário O veneno está na mesa, do renomado cineasta brasileiro Sílvio Tendler. O filme estreou na semana passada, e é um grito necessário para chamar a atenção dos brasileiros sobre a contaminação dos nossos alimentos e os riscos do agrotóxico.
Autor do documentário Encontro com Milton Santos ou o Mundo Global Visto do Lado de Cá, e do aclamado Jango, que chegou a ser sucesso de bilheteria durante a campanha das Diretas, Tendler – que, em suas obras, sempre buscou pensar a realidade – aponta que o uso indiscriminado e abusivo de agrotóxicos na produção agrícola brasileira está levando a um cenário desastroso de prejuízos à saúde humana e analisa os interesses por trás desse mercado.
Tendler mostra como o forte lobby do setor rural produtivo, em nome da produtividade agrícola, ultrapassa os limites legais de uso dos defensivos. No documentário, a presidenta da Confederação Nacional de Agricultura (CNA), senadora Kátia Abreu (DEM-TO), argumenta que o uso do agrotóxico é feito para baixar o preço dos alimentos para o consumidor.
“Essas pessoas se esquecem que elas também comem, e que elas querem comer barato. Se ele tem um bom salário na Anvisa, não é o caso de milhares e milhares de brasileiros que ganham salário mínimo ou que não ganham nada e que, portanto, precisam comer comida com defensivo sim, porque é a única forma de produzir barato. (…) Não compreendo onde essas pessoas querem chegar. Elas querem atingir as pessoas pobres, que não podem pagar comida cara? Ou eles estão revoltados que o Brasil reduziu o preço da comida a não sei quantos por cento? (…) O pior de tudo isso, o mais desonesto dessa luta, é que a bandeira é bonita: é a saúde humana em jogo. A população toda fica a favor deles”, afirma Kátia Abreu, criticando diretor da Anvisa entrevistado na reportagem Brasil Envenenado, do Le Monde Diplomatique, publicada no ano passado.
O mercado brasileiro é o maior consumidor de defensivos agrícolas do mundo, representando 16% da venda mundial, num mercado cujo faturamento é em torno de U$ 8 bilhões. Pesquisa da Anvisa, no Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (Para) do ano passado, mostrou que 65% dos pimentões fiscalizados possuem vestígios de agrotóxicos acima dos permitidos por lei. O mesmo acontece com o morango, com a uva, a cenoura e outros alimentos.
Os agrotóxicos são responsáveis pela segunda maior causa de intoxicação da população brasileira, além de causadores de problemas hormonais, reprodutivos, câncer e outros males. Nós, brasileiros, estamos engolindo quantidades genocidas de agrotóxicos mesmo sem querer. Portanto, se a bandeira da “saúde humana em jogo” é desonesta, mais desonesto ainda é embutir no discurso da produtividade agrícola a falaciosa preocupação com a população mais pobre.
Assista à íntegra do documentário O veneno está na mesa: