Décio Pizzato* |
Lorde Acton (1834-1902), em seu “Ensaios e Estudos Históricos”, escreveu: “ O poder tende a corromper, e o poder absoluto corrompe absolutamente. Os grandes homens são quase sempre homens maus” . Mas o que agora está acontecendo nos depoimentos dos então todos poderosos da República vai além disso e se torna apenas esquecimento. O poder não só corrompe, mas também traz consigo a falta da memória. Como escreveu o Marquês de Maricá (1773-1848) em suas “Máximas”: “Fingimo-nos de esquecidos quando não nos convêm parecer lembrados” . Assim está acontecendo. Nas entrevistas e depoimentos combinados, uma amnésia paira sobre esses que sempre se outorgaram o título de os mais patriotas dos patriotas desta Nação. As palavras mais ouvidas foram: nunca e jamais. Parecia título de bolero. Mas estavam nas frases: “ n unca ouvi falar” ou “jamais tive conhecimento” . Não foram apenas as promessas de campanha que foram esquecidas, mas também tudo o que se supunha que haviam amealhado e guardado como dito serem o partido detentor da ética. Entretanto, ficará para a história como emblema do partido que elegeu o atual governo, não a sua estrela, mas uma cueca. Pois foi nessa roupa íntima que foi encontrado muito dinheiro escondido. Pertencia ao assessor do irmão do então presidente do partido, José Genoino. Por mais que se tenha escrito sobre o assunto, sempre será dessa triste trapalhada que as pessoas se lembrarão. Mostra a que ponto chegou a estrela da toda poderosa organização que elegeu o governo. Para não dizer que o governo não estava nocauteado, os marqueteiros inventaram uma tal de agenda positiva. Não se definindo muito bem do que se trata, apareceram entrevistas mostrando que tudo estava bem, e o presidente se atirou com entusiasmo ao que mais gosta e nunca deixou de fazer: subir no palanque, onde lançou bravatas contra as elites. Sem definir quais são. Já que as elites financeiras são as que mais receberam afagos no seu governo. Por outro lado, o presidente mostrou arroubos para as classes C e D. Se existe classe E, essa será a prova viva de que os programas sociais do governo não as estão atingindo. Paralelamente, o que se ouvia e lia no último mês de julho era a necessidade de se blindar o presidente e também a economia. Como se isso fosse possível. Os números de nossa dívida interna e do superávit fiscal falam por si só. Nunca se economizou tanto neste país com relação aos gastos públicos. O superávit primário encerrou o primeiro semestre com uma economia recorde de R$ 59,95 bilhões, equivalentes a 5,08% do PIB, crescendo 29,8%. Bem acima dos percentuais da época do acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Mas esse torniquete nos gastos públicos permitiu apenas suprir 75% dos gastos com juros no mesmo período. Foram pagos R$ 80,13 bilhões, com crescimento de 29,6% no semestre, graças à elevação da taxa Selic para 19,75% ao ano, e a sua manutenção neste patamar. A dívida pública interna já está em R$ 956,7 bilhões. O total estimado para pagamento de juros até o final de 2005 é de R$ 155 bilhões. Será necessário arrecadar mais, essa é a razão da nova super Secretaria da Receita. O comando do país está com um pequeno grupo de técnicos encarregados de levar adiante a política monetária, cujo carro-chefe é a manutenção da taxa de juros alta. Essa política atrai capitais que vêm investir no país, já que os juros reais estão na casa de 14%, os mais altos do mundo. E não pára de entrar dinheiro no país. Como se pode ver, os estrangeiros não estão aqui por altruísmo. E como dizem os analistas de Wall Street: enquanto o governo continuar com a sua política fiscal, o cenário econômico continuará estável. Para o público interno, e para manter a tranqüilidade, os ministros e o presidente do Banco Central dizem serem sólidos os fundamentos da economia. Mas as instituições estrangeiras estão acompanhando de perto a crise política e, ao primeiro sinal desfavorável, estarão fora. A atual política monetária em andamento não permite manobras bruscas, para satisfação do sistema financeiro internacional. No curto prazo, as revelações da crise e seus desdobramentos ditarão a linha de conduta. Basta ver as recentes oscilações na Bolsa de Valores. Procurando se distanciar das trapalhadas do PT, o governo em sua total falta de memória, faz duplicidade em suas falas, com os arroubos presidenciais e afagos ao sistema financeiro. * Décio Pizzato é economista e ex-diretor da Associação Brasileira dos Analistas do Mercado de Capitais no Rio Grande do Sul (Abramec-RS). |