João Bosco Leal*
Por motivos diversos, tenho acompanhado o comportamento de algumas pessoas idosas quanto ao seu envelhecimento e noto claramente que, além delas, os seus mais próximos também são, com suas atitudes, responsáveis por escolher se vão acompanhar ou carregar esses idosos em sua velhice.
Muitos jovens, na intenção de ajudar, acabam prejudicando o envelhecimento dos seus, quando começam a “fazer tudo” por eles. Esse comportamento acaba por castrar a possibilidade de um envelhecimento mais saudável. Os comentários e atitudes familiares no sentido de mamãe ou papai não poder mais isso ou aquilo são altamente prejudiciais.
Claro que prefiro que alguém vá ao banco por mim para retirar minha aposentadoria. A acomodação é natural em todo ser humano, independentemente de sua idade. Entretanto, ao fazermos isso, como no exemplo citado, impedimos que esse idoso se exercite com uma caminhada, por menor que seja, com o ficar de pé numa fila, com o ato de se vestir para sair e com o funcionamento cerebral que tudo isso envolve.
Ao incentivarmos preocupações, por menores que sejam, fazemos com que essa pessoa continue exercitando suas atividades cerebrais, o que, além de ajudá-la, evita doenças. Isso fica muito claro ao observarmos os vários tipos de idosos existentes em nossa volta. Há aqueles sentados em um banco de praça, escorados em uma bengala, tomando sol e olhando o tempo passar, e há aqueles, com a idade até maior, fazendo projetos, tocando obras, trabalhando ou dançando rumba, como outro dia vi uma senhora com 92 anos fazer, melhor e com muito mais agilidade que muitos jovens.
Esse mesmo comportamento pode ser notado em pessoas que passam por alguma dificuldade ou por aquelas que possuem algum tipo de deficiência física. Há os que se deitam e dizem “jamais poderei” e aqueles que dizem “não estou podendo agora”, mas iniciam a busca do necessário para “voltar a poder”, mesmo que com sacrifícios, maiores ou menores.
Há ainda aqueles que aceitam que, por algum motivo, seja ele de doença ou acidente, por um período ou permanentemente, jamais poderão fazer determinadas coisas que faziam, mas não se conformam e imediatamente passam a buscar algo que possam fazer naquelas condições. Se não podem movimentar o corpo, certamente poderão movimentar seus neurônios e, com isso, encontrar algum caminho para ainda produzir muito, mantendo-se útil para a sociedade, melhorando seu próprio bem estar e, principalmente, sua auto-estima.
Penso que os idosos podem e devem escolher como envelhecerão, mas que seus próximos são responsáveis por ajudá-los, assim como eles nos ajudaram em nossa infância, a passarmos por essa fase da melhor e mais saudável maneira possível e, como eles fizeram com suas crianças, cobrar deles os exercícios físicos e incentivar os mentais, pois assim certamente envelhecerão com muito mais qualidade de vida.
Os exemplos estão aí, aos milhares, a escolha é sua.
*Produtor rural, articulista e palestrante sobre assuntos ligados ao agronegócio e conflitos agrários. Foi presidente do MNP (Movimento Nacional de Produtores) por oito anos, de 2001 a 2009
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