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Em primeira mão, o Congresso em Foco apresenta nesta manhã a lista dos deputados federais que os quase 126 milhões de eleitores brasileiros escolheram para representá-los nos próximos quatro anos (veja a lista). Os resultados compõem um quadro tão contraditório quanto o país. De um lado, acentuam iniqüidades da política brasileira, com a vitória de dezenas de parlamentares envolvidos em acusações de práticas criminosas. Do outro, exprimem, ainda que de maneira difusa, o desejo de renovação ética.
No primeiro caso, é simbólico o fato de o deputado mais votado do país, Paulo Maluf (PP-SP), eleito com quase 740 mil votos, ser réu conhecido de ações penais, chegando a passar pela experiência da prisão no ano passado.
No segundo, parlamentares que se destacaram na atual legislatura por seu trabalho em favor da moralização dos nossos costumes políticos deram um verdadeiro passeio nas urnas. Fernando Gabeira (PV-RJ), um dos principais integrantes da CPI dos Sanguessugas, foi o mais votado em seu estado (293.057 votos).
O mesmo ocorreu no Paraná com Gustavo Fruet (PSDB), que se destacou pela conduta firme e técnica durante a CPI dos Correios. O relator da comissão, o também paranaense Osmar Serraglio (PMDB), foi outro que ficou entre os parlamentares mais bem votados do estado.
As grandes bancadas
Os resultados confirmam, em linhas gerais, as previsões feitas por este site com base em levantamento realizado em conjunto com o Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap) – leia mais.
O PMDB, com 89 deputados, se tornou a maior bancada da Câmara, seguido pelo PT (83), PSDB (66) e PFL (65) . Ou seja, como antecipou há quase duas semanas o Congresso em Foco, o partido de Lula foi capaz de conservar o naco de poder que hoje detém na Casa (a rigor, ganhou dois deputado em relação aos 81 que possui hoje).
Os partidos considerados médios ou pequenos ficaram com as seguintes bancadas: PP, 41; PSB, 27; PDT, 24; PL, 23; PTB, 22; PPS, 22; PCdoB, 13; e PV, 13. As cadeiras restantes couberam aos chamados partidos nanicos: PSC, 9; PTC, 3; PMN, 3; Psol, 3; PHS, 2; Prona, 2; PAN, 1; PRB, 1; e PTdoB, 1.
Ao todo, 269 deputados se reelegeram. Isso sem contar com os sete suplentes da atual legislatura que agora garantiram vaga na Câmara e com três deputados que renunciaram ou perderam seus mandatos entre 2002 e este ano.
Em Goiás, das 17 vagas em disputa, nada menos que 14 permanecerão com atuais parlamentares. A situação se repetiu em várias outras unidades da federação, em muitas das quais sobressaíram-se parlamentares que respondem a denúncias criminais.
Jader Barbalho (PMDB), réu em processos em andamento na Justiça, foi o mais votado do Pará (294.118 votos). Welignton Fagundes (PL) e Pedro Henry (PP), denunciados por envolvimento com as fraudes nas licitações de ambulâncias, elegeram-se no Mato Grosso. O ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha, acusado de participar dos esquemas ilegais de cooptação do governo Lula, foi o deputado federal petista que obteve maior votação em São Paulo.
Também saíram vitoriosos de lá o ex-ministro Antonio Palocci, que perdeu emprego por causa do episódio da quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo; o presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto (outro acusado de participar do mensalão); e o ex-presidente nacional do PT José Genoino, afastado do comando do partido no auge da crise política do ano passado.
Confirmou-se, até mesmo, a previsão que fizemos de vitória de José Nobre Guimarães (PT-CE), o irmão de Genoino cujo assessor foi flagrado em São Paulo com dólares na cueca. Menos sorte teve um petista reconhecido por seu trabalho em favor da ética na política, o atual presidente da CPI dos Sanguessugas, deputado Antônio Carlos Biscaia (RJ).
Derrotas e vitórias
Atingidos pela excelente performance da coligação PSDB/PFL em São Paulo, foram abatidos pelo fracasso eleitoral, entre outros, os atuais deputados Delfim Netto (PMDB) e Fleury Filho (PTB).
Também não conseguiram a reeleição Robson Tuma (PFL), Paulo Lima (PMDB) e vários parlamentares petistas, como Luiz Eduardo Greenhalgh, Ângela Guadagnin e um dos acusados de participar do esquema ilegal do mensalão, o ex-líder do governo na Casa Professor Luizinho.
Não tiveram êxito nas urnas, ainda, o ex-presidente da Câmara Severino Cavalcanti (PP-PE), e – boa notícia – diversos deputados acusados de participação em atos irregulares. Um deles é o coordenador da bancada evangélica, Adelor Vieira (PMDB-SC), acusado de participar da máfia das ambulâncias.
No outro extremo, destacaram-se os candidatos bons de urna. O ex-ministro Ciro Gomes (PSB), com 667.830, foi quem obteve maior votação proporcional, 16% do total dos votos válidos do Ceará. Outros campeões de voto foram ACM Neto (PFL-BA), 436.966 votos; Manuela Pinto (PCdoB-RS), 271.939; Armando Monteiro (PTB-PE), 205.212; e Carlos Abicalil (PT-MT), 128.851 votos.
O vigor eleitoral de uns garantiu a vitória fácil de outros. É o caso do Coronel Paes de Lira (PTC-SP). Graças aos quase 500 mil votos obtidos pelo apresentador de TV Clodovil, ele se elegeu com apenas 6.673 votos.
* Também participaram da elaboração do levantamento Diego Moraes, Tarciso Nascimento e Guillermo Rivera.
Publicado em 02.10.06. Última atualização em 19.10.06.
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