Rodrigo Montezuma*
E vai ter Copa, os jogos começarão e sua alegria contagiante levará o mais ávido e tenaz dos manifestantes de junho de 2013, e mesmo os Black Bloc a “espiar” junto com os torcedores os resultados e podendo até comemorar alguns gols, afinal, somos o País do futebol, e isto é bem natural, pois na essência, não somos contra a Copa do Mundo em si, mas tão somente contrários aos caminhos dados aos recursos públicos frente às necessidades prioritárias dos cidadãos.
O País se prepara para se mostrar ao mundo e aos 600 mil estrangeiros esperados (segundo vídeo do Portal da Transparência), que se aventurarão nas cidades sede dos jogos, já sabidamente com sérios problemas na locomoção urbana (rodoviária e aeroviária), na segurança pública, no sistema de saúde pública ou privada, mas com a cara e a coragem, vivenciarão em um mês, o dia a dia constante do brasileiro que enfrentam não só estes, mas tantos outros problemas, na educação, no emprego e renda, na decepção com seus governantes reiteradamente envolvidos em escândalos financeiros com o dinheiro público.
O espetáculo será belo, e não tem como não ser, os dados consolidados de gastos beiram os 30 (trinta) bilhões de reais, isto mesmo, R$ 30.000.000.000,00, e serão ao todo 64 jogos até o grande campeão da Copa do Mundo da FIFA de 2014, a um custo de quase 500 milhões de reais cada jogo, pagos quase a totalidade com o dinheiro do contribuinte, mas ficará o grande “legado” da Copa, estádios monumentais (grandes elefantes brancos), e as “melhorias” no transporte aéreo e rodoviário urbano.
Os estádios, ah! Os estádios! Dentre todos eles, se destaca mundialmente o “Mané Garrincha”, em Brasília, inicialmente previsto em 696 milhões, já se vislumbra ultrapassar os 2 bilhões de reais, um grande exemplo noticiado mundo a fora de como não se deve empregar o dinheiro público, já é o mais caro do planeta e quem sabe do universo, mas com expectativa de retorno do “investimento” em pouco mais de 1000 anos, sem contar inflação, câmbio e flutuações. Se Juscelino Kubistchek entrou para história com o mote “50 anos em 5” em programa de desenvolvimento nacional, Agnelo Queiroz, Governador do Distrito Federal, também entrará para história no sentido inverso de “4 anos em 1000” para o retorno do gasto.
Reiteradamente só são mencionados os gastos com a construção dos estádios e obras de infraestrutura, pois em momento algum é mencionado o vulto dos gastos paralelos com todas as firulas que envolvem o evento da FIFA, como por exemplo, os gastos diretos e indiretos com a segurança (estadual e federal), isenção fiscal à FIFA, as FESTFIFA e as propagandas do governo para convencer o mundo de que vir para o Brasil, neste momento, é fantástico. Depois quem paga a conta? Nós contribuintes.
E os problemas estruturantes do País, como ficaram? A percepção da população nos serviços públicos é a mesma ou pior, grandes filas nos hospitais sem atendimento adequado, grandes congestionamentos todos os dias nas cidades, escolas precárias e ensino deficitário, a segurança pública em crise constante e índices de violência crescentes e alarmantes, desemprego (apesar das propagandas do governo pregarem o inverso) e desespero, contudo, o Portal da Transparência do Governo Federal indica o aporte de quase 18 bilhões em estações de metrô, terminais de integração, 13 BRTs, 2 VLTs, e novas vias urbanas, e em 100 vezes mais recursos que o destinado para os estádios da Copa do Mundo da FIFA para a educação e saúde, ao todo 825 bilhões desde 2010 quando começaram as obras para a copa.
O resumo é que o Estado é mínimo onde deveria ser máximo (serviços públicos) e máximo onde deveria ser mínimo (atividade econômica privada).
Então, que comecem os jogos! Neste ano de eleição, certamente os frutos, bons ou podres, serão colhidos, exatamente do que se plantou. Será que continuaremos a ser subservientes e satisfeitos apenas com o pão e circo? Ou melhoramos? Atingiu-se um novo status de cidadania e cidadãos ao exigir mais dignidade, moralidade e principalmente prioridade dos governantes?
Nosso maior protesto não foi em junho de 2013, nem será na Copa, mas sim nas urnas com seu voto, vote consciente em outubro, renovemos os políticos e as casas legislativas intensamente, quando então poderemos verdadeiramente levantar a bandeira na esperança de um novo Brasil, campeão do mundo nas modalidades: Índice de Desenvolvimento Humano (IDH); desenvolvimento sustentável; transporte público; saúde; segurança; educação; dignidade, respeito e tantas outras grandes necessidades desta sofrida nação que vive de migalhas desde o seu “descobrimento”. Lembrando, aguardamos as Olimpíadas!
*Rodrigo Montezuma é médico veterinário e ativista social
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