O Brasil tem experimentado, nos últimos anos, um avanço considerável na mobilidade social, fruto de um crescimento vigoroso do emprego assalariado formal, da estabilização da moeda e do controle da inflação. Esta ascensão social ampliou de maneira exponencial o consumo de massa, principalmente, de bens de consumo duráveis com maior valor unitário, como os casos de fogão, geladeira, máquina de lavar, televisão, telefone, automóvel, entre outros. O destaque vai para a maior difusão de telefone celular entre a população.
É preciso destacar que o consumo de massa ocorreu graças à excepcional expansão do crédito no Brasil nos últimos dez anos. Concomitantemente ao aumento na demanda por crédito, tem ocorrido o endividamento das classes de renda menos aquinhoadas, com o crescimento acentuado do cartão de crédito, modalidade que apresenta o maior grau de inadimplência. Ressalte-se que esta modalidade de crédito é a que registra taxas de juros estratosféricas, provocando imensas dificuldades para que os inadimplentes retomem o curso da normalidade creditícia.
Na teoria econômica a vulnerabilidade do consumidor está associada à disponibilidade de informações importantes na hora de tomar a sua decisão creditícia. Nesse particular, a inclusão da classe de renda mais baixa no mercado de cartão de crédito não foi precedida de disponibilização de informações importantes para a decisão deste segmento consumidor na hora da contratação ou não da dívida. Registre-se, também, que os demais segmentos que ascenderam socialmente, na última década, não obtiveram estas informações.
As últimas análises das informações sobre o crédito no Brasil quanto à inadimplência e comprometimento de renda identificam que a população de baixa renda será a mais prejudicada nestes momentos de contração econômica pelos quais passa o nosso país. Neste momento, não serão observados os constantes aumentos na renda real média dos últimos anos, que serviram para amenizar o impacto das dividas contraídas no comprometimento da renda familiar destas famílias.
Este cenário que hoje enfrentamos demonstra, de maneira cabal, que o consumo das famílias não consegue, sozinho, estimular os investimentos que geram empregos e elevação da renda, já que a população, despreparada para dimensionar o volume de comprometimento do seu orçamento, é presa fácil do crédito a taxas de juros escorchantes. E o crescimento desorientado do crédito produz inadimplência.
Para suplantarmos esta conjuntura adversa é fundamental que estimulemos a educação financeira na formação de uma cultura de poupança e na conscientização dos indivíduos para lidar com os produtos oferecidos pelo sistema financeiro. Em relatório de 2004 a OCDE (Organização de Cooperação e Desenvolvimento) já alertava que a “educação financeira sempre foi importante aos consumidores, para auxiliá-los a orçar e gerir a sua renda, a poupar e investir, e a evitar que se tornem vítimas de fraudes.”
Indivíduos informados ajudam a criar um mercado mais competitivo e eficiente. Consumidores conscientes demandam por produtos e serviços condizentes com suas necessidades financeiras de curto, médio e longo prazos, exigindo que os mercados financeiros ofertem produtos com características que melhor correspondam a essas demandas. A educação financeira é fundamental para a sociedade brasileira, pois ela influencia diretamente as decisões econômicas do governo, dos indivíduos e das famílias. Por fim, devemos ter a noção básica que a educação financeira deve começar na escola, pois é recomendável que as pessoas obtenham este conhecimento precocemente.
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