Editoriais
Dia 29 de maio de 2012. Com a tropa unida e artilharia pesada, a “grande imprensa” ataca Lula e o PT. A base para o ataque foi uma matéria de “alto crédito” da “inquestionável e imparcial” revista Veja.
Veja divulgou um encontro, ocorrido no dia 26 de abril, no escritório do ex-ministro Nelson Jobim, entre Lula e Gilmar Mendes. Segundo a revista, nesse encontro Lula pediu a Gilmar para adiar o julgamento do chamado mensalão para depois das eleições. O pedido não foi confirmado por Nelson Jobim. Portanto, temos a palavra de Lula contra a palavra de Gilmar Mendes. No entanto, alguns editorialistas e colunistas acreditaram em um dos lados.
O Estadão, com sua “decência” de oposição, atacou com o editorial “Suprema indecência”. Para dizer-se imparcial dá uma cutucada em Nelson Jobim, ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ao afirmar que promover o encontro entre Lula e o ministro Gilmar Mendes “foi um grave lapso moral”. Com uma varinha totalmente flexível “cutuca” também Gilmar Mendes, afirmando que o mesmo “errou ao aceitar a reunião”.
O Estadão, pelo teor de seu editorial, acredita fielmente em Mendes e na revista Veja e passa imediatamente ao ataque, afirmando que Lula superou as “próprias façanhas em matéria de indecências políticas”. E mais: “Chantageou o interlocutor [Gilmar Mendes], ao oferecer-lhe proteção na CPI do Cachoeira, que teria se gabado de controlar”. Pesadas acusações.
Em outro front, a Folha de S.Paulo ataca com seu “Lula contra Gilmar”. Erraram o título. Deveria ser: “Nós (Estadão, Folha, Globo, Merval, Cantanhêde, Schwartsman, Kramer e outros) contra Lula”. A Folha já inicia no ataque: “O mais acabrunhante no episódio da estranha reunião do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes relatada na revista Veja está no fato de ela soar absolutamente plausível”, pois “se sabe que Lula está em campanha frenética para negar o mensalão”.
Mesmo com Jobim não confirmando o diálogo, a Folha, assim como o Estadão, dá todo o crédito à Veja e afirma que Lula esta sequioso em usar a CPMI do Cachoeira como “antídoto ao iminente processo do mensalão”. Afirma ainda que o “encontro de abril arranjado à socapa pelo onipresente Nelson Jobim já pareceria suspeito; que Lula o tenha usado para fazer pressão – ou até chantagem – sobre Gilmar o colocaria definitivamente na categoria do intolerável”.
Como se lê, a Folha, ao contrário do Estadão, não dá estocada em Gilmar e Jobim. Coloca-se como paladina da “imprensa independente” (independente?) e faz a premonição, de maneira parcial, de que se um dia for elucidado este encontro “ficará evidente que um (ou dois) dos três próceres faltou com a prudência, se não com a verdade”.
Da premonição acima está claro que, para a Folha, o único que não faltou com a verdade foi o senhor Gilmar Mendes, como se ele fosse dono da verdade absoluta.
Colunistas
Da mesma data, não se podem esquecer as versões do senhor Merval Pereira, no seu “Fatos e versões”. Assim como os editoriais do Estadão e da Folha, Merval parte da premissa de que a matéria de Veja é insuspeita. De início, condena o ex-presidente, que se “se desse ao respeito, não poderia nem pensar em pressionar um ministro do Supremo”. Para ele, não só a Veja esta com a verdade, mas também Mendes. Por isso afirma que o “advogado Jobim não conseguiu sair-se bem da missão de desmentir o indesmentível”.
Escreve Merval que “Gilmar Mendes teria de ter uma imaginação prodigiosa para inventar tantos diálogos e situações…”. Pois bem, senhor Merval, sou daqueles que suspeitam que Gilmar Mendes tem uma imaginação prodigiosa – ou não foi Mendes que inventou o grampo inexistente de uma conversa entre ele e Demóstenes?
As versões e especulações a respeito da reunião entre Lula, Jobim e Gilmar Mendes também foram tema de Eliane Cantanhêde, no artigo “STF não é sindicato”. Para não perder a oportunidade, ela já aproveita e condena a presidenta Dilma pelo pouco crescimento do Brasil. Condena sem nenhuma referência à crise econômica mundial.
Hélio Schwartsman, em seu “Propostas indecorosas”, pergunta a Lula se ele “fez ou não uma proposta indecorosa ao ministro Gilmar Mendes?”. E por si só responde que é “impossível dizer”, pois “a menos que a reunião entre os dois (que ninguém nega) tivesse sido filmada, o desencontro de versões é uma fatalidade, uma decorrência da arquitetura de nossos cérebros”. A partir desta observação desenvolve o seu texto para provar como cada um dos participantes de um diálogo pode interpretá-lo ao final. Mas, de seu texto tiro uma pergunta: se não quer também interpretar parcialmente o que leu na Veja, por que o título (“Propostas indecorosas”) do artigo?
Dora Kramer, no seu “Criação coletiva”, manteve as armas em punho e partiu para o ataque: “Lula não está fora de si. Está, isto sim, cada vez mais senhor de si. Investido no figurino do personagem autorizado a desrespeitar tudo e todos no cumprimento de suas vontades”.
Mas, como ela gosta de parecer imparcial, dá uma no cravo e outra na ferradura. Afirma que Gilmar e Jobim não dispõem da “prerrogativa da inocência”, sendo assim não poderiam aceitar o encontro com Lula.
Sobre a reunião, diz que “se aceitarmos a versão do desmentido apresentada por Nelson Jobim teremos de aceitar a existência de um caluniador com assento no Supremo Tribunal Federal e esperar contra ele algum tipo de interpelação”.
Não vou tão longe afirmando que há caluniadores no STF, mas, lembro, Gilmar Mendes tem que explicar a história do grampo nos telefonemas dele com Demóstenes Torres. E, se não explicar, o que podemos pensar?
Kramer termina seu artigo afirmando que “ninguém fica bem nessa história”. Também acho e, principalmente, não fica bem para a mídia que, em coro, com maestro e tudo, não desafinou e elegeu o mesmo inimigo – Lula.
Destes editoriais e colunas, vê-se que a “grande mídia” bebeu sem hesitar a versão Mendes-Veja. Bebeu e continua bebendo, sem levar em conta as fortes suspeitas de que o jornalista Policarpo Junior, da Veja, esteja envolvido com a organização criminosa de Carlinhos Cachoeira. Será que não é mais uma ação orquestrada para valorar a Veja e impedir que Policarpo e a revista sejam investigados?
Como perguntar, dizem, não ofende, continuo perguntando: será que todas essas manifestações na “grande mídia” não têm o objetivo de impedir a investigação do trecho São Paulo-Brasília quando da volta de Gilmar Mendes de uma viagem a Berlim?
Alguns colunistas, como Miguel do Rosário e Marcos Coimbra, tratam a reunião de Lula e Gilmar Mendes com mais responsabilidade. Miguel do Rosário, no blog Cafezinho, faz uma pergunta no artigo “Mídia e oposição tentam a última cartada”: “A quem interessa desqualificar a CPI e associar o seu ímpeto investigativo à tentativa de ‘vingança’ contra a mídia ou ao esforço de ‘melar o mensalão’?”.
Ele mesmo dá a resposta: “Ao DEM, envolvido por causa de Demóstenes Torres; ao PSDB, atolado no crime organizado em função das ligações do seu governador, Marconi Perillo, com o esquema; à Veja, cuja relação de longa data com Cachoeira e Demóstenes gerou pesadas suspeitas de que incorreu em crime de formação de quadrilha; a outros órgãos de mídia que pactuavam e pactuam com a Veja”. Assino embaixo.
Concluo, e tenho razões para isso, que são manobras explícitas da “grande mídia”, condenando por antecedência os envolvidos no chamado mensalão. Vejo também que essa mesma mídia joga pesado para que alguns dos ministros do STF se declarem impedidos ou passem a ter posição ofensiva em relação ao “mensalão”.
Para corroborar esta afirmação, reproduzo o que escreveu Izabelle Torres, em “Suprema pressão”: “Coube ao presidente do STF, Ayres Britto, a tarefa de contornar a crise. Mas ministros como Joaquim Barbosa, Ricardo Lewandowski e Dias Toffoli permanecem alvo de pressões externas. Nunca em sua história o Supremo Tribunal Federal sofreu tanta pressão política às vésperas de um julgamento”.
Por fim, concordo com Marcos Coimbra, em seu artigo “Gilmar Mendes conseguirá julgar com isenção?”. Colocando em dúvida a isenção de Mendes, Coimbra formula a seguinte pergunta: “Gilmar Mendes tem, hoje, essa condição?”. Após a pergunta, emenda: “Conseguirá por de lado a mágoa que revelou em seus pronunciamentos e julgar com isenção?”.
Esta lançada a dúvida.