Marcos Magalhães*
A festa pode não ser tão animada como a de 2003. As largas avenidas de Brasília não seriam tomadas, como há três anos, pelos militantes petistas e suas bandeiras vermelhas. Mas as pesquisas divulgadas nos últimos dias tornam cada vez mais verossímil o cenário de uma segunda posse do presidente Lula no Palácio do Planalto, em janeiro de 2007. Para evitar que isso ocorra, os concorrentes diretos de Lula terão de apresentar aos eleitores na televisão um pouco mais do que um compacto das denúncias de corrupção que inundaram o país nos últimos meses.
Qualquer um pode acionar seu ibope particular e conversar informalmente com o tipo de eleitor que não lê jornais todos os dias, nem revistas todas as semanas. Duas constatações se tornam cada vez mais aparentes. As notícias divulgadas pela televisão a respeito do escândalo do mensalão começam a cair no esquecimento de uma boa parte da população. E começa a se insinuar no meio desses eleitores uma tímida e quase envergonhada sensação de que o cara, no poder, até que fez, afinal de contas, alguma coisa pelos pobres.
A campanha promete muita lama. Horas e horas de gravações de comissões parlamentares de inquérito estarão estocadas como munição para ser usada a qualquer momento da propaganda eleitoral gratuita. Os partidos de oposição vão aproveitar a oportunidade para, mais uma vez, tentar colar a imagem de Lula a todo o farto noticiário sobre corrupção e tráfico de influência.
Funcionará? Lula já perdeu o apoio de muita gente até aqui. Vários intelectuais deixaram o barco petista. Boa parte da classe média já torce o nariz para ele. Os movimentos sociais, sempre tão próximos ao PT, questionam o rumo tomado pelo governo. E os empresários permanecem divididos. Embora alguns ainda se mantenham fiéis a Lula, muitos outros torcem aberta ou discretamente pela volta ao poder do PSDB.
Mas existe aí uma grande massa anônima que não conta muito na chamada opinião pública. É para essa massa que o governo tem se dirigido, ultimamente, com acenos como o aumento do salário mínimo e a ampliação do programa Bolsa Escola. De forma meio silenciosa, os acenos começam a ser vistos com maior simpatia pelo povão. E o eleitor menos escolarizado e menos informado, esse que não está sujeito a patrulhamento ideológico, tem indicado estar mais próximo do voto pela continuidade.
Insistir na divulgação de denúncias, durante a campanha, pode acabar sendo um tiro no pé. Um número crescente de eleitores parece cada vez mais disposto a seguir quem apresente soluções – e não problemas. O tímido crescimento da economia nos últimos três anos – quando o mundo experimentou uma expansão considerável – mostra que o atual governo não é lá tão bom de solucionática. Mas a cabeça pragmática desse eleitorado vai cobrar opções mais criativas e interessantes para mudar de voto.
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