Com a realização do segundo turno, aumentou a incerteza em relação ao próximo ocupante do Palácio do Planalto. Ao mesmo tempo em que a petista Dilma Rousseff continuou sendo a candidata favorita, ainda não é possível descartar completamente as chances do tucano José Serra.
A julgar pelos padrões observados na reta final do primeiro turno, eu diria até que essa será uma eleição bem mais apertada do que se imagina. Minha aposta é que o vencedor, seja quem for, provavelmente terá uma vantagem não muito distante de 5% dos votos válidos.
Vantagens avassaladoras, próximas a 20% dos votos válidos, como aquelas obtidas por Lula no segundo turno em 2002 e em 2006, estão fora de cogitação. E o retrospecto recente dos institutos de pesquisa também sugere que a atual vantagem de Dilma (próxima a 10% dos votos válidos, na média) esteja superestimada.
Entretanto, independentemente do tamanho da sua vitória eleitoral, o próximo presidente não terá dificuldades para contar com uma base aliada majoritária no Congresso. Em outras palavras, o novo governo terá votos suficientes na Câmara e no Senado para aprovar os seus projetos. É só olharmos para os números.
Os dez partidos que apoiaram oficialmente a candidatura de Dilma Rousseff terão 60,6% da Câmara e 61,7% do Senado na próxima legislatura. Por sua vez, as seis legendas da coligação de José Serra contarão com bancadas representando 26,5% dos deputados e 29,6% dos senadores. Outros sete partidos independentes (que lançaram outros candidatos ou que não apoiaram presidenciável algum) terão 12,8% e 8,6% dos votos na Câmara e no Senado, respectivamente.
Caso Dilma Rousseff seja eleita, ela já partiria de uma situação parlamentar privilegiada. Os seus aliados de primeira hora já lhe garantiriam uma maioria suficiente para aprovar (por pequena margem) até mesmo reformas constitucionais. Mas o mais provável é que ela buscasse ampliar ainda mais o tamanho da coalizão partidária governista.
No melhor cenário, a base dilmista poderia atingir até 3/4 das cadeiras na Câmara e no Senado. Para isso, precisaria atrair todos os independentes e mais alguns partidos da coalizão serrista que já estiveram alinhados ao governo Lula. Essa seria a maior base aliada de um presidente eleito nos últimos 21 anos.
Para a oposição, talvez restasse a sedutora opção de uma fusão (formal ou informal) entre o PSDB, o DEM e o PPS. Curiosamente, dessa ainda incerta união resultaria a maior bancada partidária na Câmara e a segunda maior bancada no Senado.
Caso o próximo presidente seja José Serra, a sua tarefa seria mais árdua – porém perfeitamente viável. A base serrista partiria de uma situação minoritária, e teria que se devotar a duas tarefas primordiais. A primeira seria angariar o apoio dos partidos do bloco dos independentes. Ainda assim, entretanto, o governo teria menos da metade dos votos no Congresso.
Para que Serra pudesse governar, seria indispensável a atração dos partidos da coligação dilmista situados fora do campo da esquerda. De fato, a maioria deles já participou do governo do ex-presidente FHC. Nesse cenário mais otimista, um governo serrista poderia dispor de uma maioria parlamentar próxima a 2/3 dos congressistas. O suficiente para governar sem problemas.
Naturalmente, a realização efetiva dessas projeções numéricas abstratas dependeria, como sempre, de uma adequada repartição dos cargos ministeriais entre os partidos aliados, obedecendo à lógica do nosso presidencialismo de coalizão.