Na segunda-feira (15), a semana começou com nuvens de chumbo para a cúpula do PMDB. As novas denúncias que vieram na imprensa contra o agora ex-ministro Wagner Rossi e contra o ministro do Turismo, Pedro Novais, levavam os peemedebistas a imaginar que a presidenta Dilma ia operar um triplo strike no seu Ministério. Demitiria Rossi, Novais, e afastaria ainda Romero Jucá da liderança do governo no Senado – foi o irmão de Jucá, Oscar Jucá Filho, o Jucazinho, que fez as primeiras denúncias contra o Ministério da Agricultura em entrevista à revista Veja.
À noite, porém, o clima melhorou um bocado. Dilma teve um encontro com líderes do PMDB e do PT e, segundo o líder peemedebista na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), “conversou sobre política”. A conversa teria, ainda segundo Henrique Eduardo Alves, inaugurado “um novo período no governo”. Não saíram Rossi nem Novais nem Jucá. E o governo ainda prometeu a liberação de umas emendinhas ao orçamento para adoçar a boca dos parlamentares insatisfeitos.
Na terça-feira, parecia a todos que as coisas tinham se acalmado na relação entre Dilma e sua base de sustentação política. A demissão de Wagner Rossi no início da tarde de quarta-feira trouxe de novo as nuvens cinzas de chumbo para o ambiente político, nesta época de seca em Brasília em que nem reza brava é capaz de promover alguma chuvinha.
Dizem que Dilma chorou ao ouvir de Wagner Rossi seu pedido de demissão. Deve ser verdade. Ela, ao que parece, não pretendia demiti-lo. Além disso, é bem provável que a essa altura Dilma saiba os efeitos políticos que isso pode ter. A “faxina” de Dilma parece estar saindo de seu controle. Algo parecido com o que aconteceu com Mickey Mouse, no episódio Aprendiz de Feiticeiro do célebre desenho animado Fantasia, de Walt Disney: as vassouras ganharam vida e começaram a fazer a “faxina” sozinhas, com uma intensidade muito maior do que Mickey gostaria, ou pretendia.
Assista a um trecho de Mickey no célebre Aprendiz de Feiticeiro:
As prisões no Ministério do Turismo foram já o primeiro capítulo da rebelião das vassouras. Dilma afirma que não sabia da Operação Voucher (não teria sido a primeira vez que um presidente reclama de não saber de uma operação da PF, Lula também não soube da Satiagraha). As prisões com o uso de algemas foram criticadas no Palácio do Planalto, e o ministro José Eduardo Cardozo chegou a tentar, em vão, que a PF reconhecesse que houve excessos.
PublicidadeA saída de Wagner Rossi foi outro capítulo dessa rebelião das vassouras na faxina ética de Dilma. O ex-ministro da Agricultura pediu demissão depois que a Polícia Federal resolveu abrir investigação sobre as denúncias contra a sua pasta. A entrada da PF na investigação significa o início de uma etapa em que as denúncias não mais serão “notícias da imprensa”, mas ganharão uma chancela oficial. Além disso, passam concretamente a significar o risco de um final como o do Turismo, com gente algemada e fotografada sem camisa em frente a um número, como os irmãos Metralha, em mais uma citação a Walt Disney.
E, seguindo a rebelião das vassouras, há a leitura política das denúncias e dos fatos posteriores. Na sua carta de demissão, Wagner Rossi aponta o dedo para um “político” que seria o responsável pela publicação das denúncias. Alguém que, segundo ele, seria o único capaz de pautar a revista Veja e a Folha de São Paulo por semanas com “mentiras que não se sustentam”. Wagner Rossi, na avaliação de dez entre dez políticos ontem em Brasília, estava se referindo a José Serra.
Mas se na carta ele atirava contra alguém da oposição, nos bastidores os peemedebistas falavam em fogo amigo. Algumas denúncias eram atribuídas ao PT. E lembrava-se que o chefe da Polícia Federal é o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. E Cardozo é um político do PT de São Paulo, mesmo estado de Wagner Rossi. Na Operação Voucher, que prendeu a turma do Ministério do Turismo, sobrou para o ex-presidente da Embratur Mário Moisés. Petista, Moisés é ligado à senadora Marta Suplicy, adversária interna de Cardozo no PT. Agora, diziam os peemedebistas, a nova investigação da PF miraria no PMDB de São Paulo. Rossi é ligado ao vice-presidente Michel Temer.
Assim, as nuvens que se dissiparam na segunda-feira voltaram com força ao cenário político de Brasília. Num governo em estado de crise permanente, ninguém confia em ninguém.