Edson Sardinha*
A disparidade de renda que caracteriza a sociedade brasileira também se reflete no perfil dos postulantes à Presidência da República. A diferença patrimonial entre o candidato mais rico e o mais pobre, segundo as declarações de bens apresentadas ontem ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), chega a 87,7 vezes. Enquanto o ex-deputado Luciano Bivar (PSL), próspero empresário do setor de seguros, declarou ter em seu nome R$ 8,77 milhões, entre aplicações e bens imóveis, na outra ponta, o jornalista Rui Pimenta (PCO) informou ter um patrimônio de R$ 100 mil, valor referente a um terço de um apartamento em São Paulo.
A diferença é ainda mais acentuada entre os vices. Pedro Paulo de Abreu, o Pepe, que compõe a chapa de Pimenta, declarou ser proprietário de apenas um lote, avaliado em R$ 3.200. Já o vice-presidente José Alencar (PRB), candidato à reeleição e fundador do grupo Coteminas, comunicou ao TSE ter um patrimônio de mais de R$ 12 milhões. Uma distância patrimonial de 3.750 vezes, aproximadamente.
Entre os sete candidatos ao Palácio do Planalto, o segundo mais abastado, de acordo com informações repassadas à Justiça Eleitoral, é José Maria Eymael (PSDC). Com quatro veículos e oito imóveis em seu nome, ele declarou ter R$ 985,8 mil em patrimônio.
Os investimentos de Lula
Quase quatro anos após sua eleição, quando declarou possuir bens avaliados em R$ 422,9 mil, o presidente Lula registrou uma evolução patrimonial nominal de 98,4% e desponta, agora, como o terceiro candidato mais rico: R$ 839 mil.
De julho de 2002 a junho deste ano, a inflação acumulada pelo IPCA foi de 38,7%. O que significa que Lula teve uma evolução patrimonial 59,7 pontos percentuais acima da alta de preços em quatro anos. Como presidente da República, Lula ganha um salário de R$ 8.885,48. A renda do petista é maior por causa de uma aposentadoria, no valor de R$ 4.294, e que lhe garante por mês uma renda bruta de R$ 13.179,48.
Nesses quatro anos, Lula tirou proveito dos juros altos do país. Nada menos do que 56,6% do patrimônio do presidente está aplicado em bancos: R$ 417,3 mil em fundos de investimentos bancários e R$ 57,3 mil em cadernetas de poupança. Além de diversas aplicações financeiras, incluindo ações da Petrobrás, Vale do Rio Doce e Banco do Brasil, o petista afirmou possuir cinco imóveis e uma caminhonete S10.
Em nota, o PT justificou a evolução patrimonial de seu candidato: "Deve-se à poupança de parte do seu salário como presidente da República e aposentadoria, bem como aos rendimentos de aplicações anteriores a 2002, acrescidos da aplicação da poupança mensal já referida em fundos de investimento especificados na declaração entregue hoje (ontem) ao TSE".
Alckmin perde para a inflação
O principal adversário de Lula, Geraldo Alckmin (PSDB), declarou um total de bens no valor de R$ 691,7 mil. Há quatro anos, quando venceu a disputa para o governo de São Paulo, o tucano dizia possuir R$ 554,5 mil. Apesar da evolução nominal de 24,8%, o ex-governador perdeu para a inflação – 13,9 pontos abaixo da taxa acumulada no período. O candidato declarou possuir seis imóveis, em sociedade ou no todo, um veículo, aplicações financeiras e vinte bezerros. O bem de maior valor declarado por ele é um apartamento de R$ 323,8 mil, em São Paulo. À frente do estado mais rico do país, Alckmin recebia R$ 12.720 mensais até renunciar ao cargo em abril passado.
Cristovam Buarque
O quarto candidato em patrimônio é Cristovam Buarque (PDT), que declarou bens no valor de R$ 769.198,70. O senador informou possuir dez imóveis, em sociedade ou só em seu nome, dois veículos e obras de artes e livros no valor de R$ 180 mil. Desde que assumiu o mandato no Senado, em 2003, Cristovam viu seu patrimônio aumentar em 66,9%. Em 2002, o então petista declarou ter R$ 460.683,97 em bens.
Heloísa Helena
A candidata Heloísa Helena (Psol-PSTU-PCB) declarou patrimônio de R$ 121 mil. Os bens da parlamentar se resumem a uma sexta parte de um apartamento em Marechal Deodoro (AL), dois veículos e uma caderneta de poupança de R$ 51,05. Em 1998, ano de sua eleição, Heloísa declarou possuir apenas um veículo Gol, ano 1994, no valor de R$ 3.000. Há quatro anos, o patrimônio declarado pela senadora era de R$ 59.996,75.
A legislação eleitoral não obriga o candidato a divulgar bens dos seus familiares nem exige dele a atualização de valores de imóveis adquiridos no passado. Com isso, a comparação entre a evolução patrimonial dos políticos nem sempre é das mais precisas, já que não há uma uniformidade nos critérios adotados pelos candidatos.
(Colaboraram Rafaela Céo e Ricardo Ramos)