Paulo Pimenta*
Bogotá, final da década de 1980. A capital da Colômbia vivia sitiada pelos criminosos comandados pelo chefe do cartel de Medellín, Pablo Escobar. Até o início dos anos 1990, a turma dos narcoterroristas matou, apenas na capital, cerca de 300 pessoas, entre policiais, juízes e políticos. A Colômbia passou a ser conhecida mundialmente como uma terra sem-lei. No ano de 1993, a taxa anual de homicídios em Bogotá atingiu 80 mortos por 100 mil habitantes. Em 2005, essa taxa caiu para 18 homicídios em 100 mil. O que mudou na década que se passou?
É importante trazer à tona o caso colombiano para que, em primeiro lugar, a sociedade brasileira não se sinta aterrorizada, achando que estamos vivendo um caos insolúvel. Os ataques de membros de facções criminosas em São Paulo, que culminaram com o seqüestro do jornalista da TV Globo Guilherme Portanova, no último final de semana, demonstram que atitudes profundas precisam ser tomadas para que evitemos chegar ao que ocorria em terras colombianas.
Em entrevista concedida à imprensa brasileira, na segunda, 14, o sociólogo colombiano, Hugo Acero, que foi secretário de Segurança da prefeitura de Bogotá de 1995 a 2003, traça um diagnóstico de como políticas públicas podem ser capazes de enfrentar o crime organizado.
Em seu depoimento, Acero, que atualmente é consultor do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), destaca que na Colômbia foi instituído um novo sistema prisional. Novas cadeias foram construídas, aparelhos eletrônicos instalados, limitando o contato entre carcereiros e presidiários. Presos que queriam mandar nos presídios eram mantidos em regime de isolamento durante um mês inteiro. Visitas, somente uma vez por mês, de parentes e cônjuges, no caso de presos de alta periculosidade. Para prevenir a corrupção, proibiu-se a circulação de dinheiro. Funcionários corruptos ou indisciplinados passaram a ser punidos com rigor. Por outro lado, os agentes penitenciários passaram a ser mais bem tratados, evitando a corrupção.
A vitória das autoridades colombianas sobre o narcoterrorismo mostra que o desafio é possível de ser ultrapassado. Neste momento difícil em que vive o país e em especial o estado de São Paulo, é preciso deixar as diferenças políticas partidárias de lado.
Em vez de termos que ouvir discursos de sacripantas da política nacional querendo atribuir os fatos criminosos a atitudes pré-eleitorais, o que nossos governantes e líderes partidários deveriam fazer é construir um diálogo nacional em busca de saídas.
O momento exige seriedade e também serenidade. O êxito na luta contra os criminosos não deve ser monopólio desse ou daquele partido, desse ou daquele governo, mas de toda a sociedade brasileira.
* Técnico agrícola e jornalista, Paulo Pimenta é deputado federal pelo PT do Rio Grande do Sul (primeiro mandato) e relator da CPI do Tráfico de Armas.