Marcelo Mirisola*
Vocês sabiam que “a evolução dos genes ligados à audição pode estar vinculada ao desenvolvimento da linguagem, uma das características que separam o homem dos animais”?
Isto é, se até os 12 anos o sujeito ouvir muito a banda Calypso, ele ainda vai conseguir ler a obra completa do Paulo Coelho e – independentemente do bom-senso que herdou dos primatas – recomendará o mago efusivamente aos amiguinhos de happy hour. A evolução da espécie não é mesmo fabulosa?
A bióloga Sarah B. e o primatologista holandês Frans de Waal são os autores desse estudo, que foi publicado na revista Nature. O caso deles é com o macaco-prego. Um tipo, segundo depreendi do estudo em questão, mais evoluído que os chimpanzés e os leitores do Paulo Coelho. Os cientistas concluíram que os símios têm ética!
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São – indiscutivelmente – mais confiáveis do que muitas apresentadoras de televisão. E, além disso, contam com uma delicadeza que é difícil encontrar na mulherada em geral: não jogam praga nas amigas, nem no gigolô das amigas.
Os testes foram feitos com fêmeas. Uma vez que elas, segundo os cientistas, “tendem a prestar muito mais atenção às interações sociais”.
Traduzindo: as macacas são bisbilhoteiras. Quase humanas. Só está faltando descobrirem o cartão de crédito e a musse de chocolate para que se feche o ciclo evolutivo.
“Sempre em duplas, uma delas tinha que passar uma pedrinha ao instrutor e recebia em troca uma rodela de pepino ou uma uva. Em geral, o pepino é considerado uma recompensa totalmente aceitável, mas bastou as fêmeas notarem que a companheira ao lado ganhava a uva (muito mais cobiçada) para alterar seu comportamento. Em alguns casos, elas simplesmente não entregavam a pedrinha ou se recusavam a pegar o pepino. Em outros casos, lançavam ‘o salário injusto’ para fora da jaula”.
Antes de qualquer chilique precipitado, eu quero dizer que adoro as mulheres. Queria só ver um teste desses com um piloto de Fórmula 1. No lugar das macaquinhas – com a escuderia buzinando no ouvido – qualquer Rubinho iria dar vexame parecido ou pior. Tem gente que ainda quer discutir a “evolução” da espécie humana.
Acredito que o Rubinho deve ter dado muito orgulho pro papai e pra mamãe (e pro Schumacher, é claro), então, não é exemplo a seguir. Mesmo porque, agora, never more. A Honda desistiu de dar bananas a ele.
Entretanto, a pesquisa de Sarah B. e Frans de Waal não deixa de suscitar interesse. Qual seria a reação do Papa ou de gente que mata e faz o bem por determinação da escuderia e/ou por questão doutrinária numa jaula dessas? Pensem nisso.
Em suma, eu acho que é melhor os darwinistas não se levarem muito a sério no debate com os criacionistas. Longe de mim puxar a sardinha para o segundo grupo, mesmo porque os céus – ainda – não me deram a oportunidade de beijar a boca da Mariana Ximenes. Tenho dúvidas.
Mas, aqui entre nós, em algumas regiões do mundo – do tipo Faixa de Gaza ou nas muralhas do morro Dona Marta disfarçadas de “ecolimites” – essa questão pode ser resumida numa palavrinha: escárnio.
Se eu não fosse tão preguiçoso, sugeriria uma terceira via. Qualquer coisa do tipo: o Messias esteve entre nós e ninguém desconfiou do Mussum. Ou, sei lá, Deus é chimpanzé. Alguém tem uma idéia mais refinada?
Se tiver, não conta pra ninguém. Chega a ser ridículo falar em Borges, Kafka, Saint-Hilaire. Inteligência não leva ninguém ao Faustão. Nem vou ser ingênuo de sugerir a leitura de Cioran. A propósito. A literatura do além só faz produzir auto-ajuda e historinhas infanto-juvenis. Espero que, agora, Fausto Wolff tome uma providência, e baixe
Mas eu falava da Faixa de Gaza.
Hoje, 7/1 – no instante em que escrevo – já são mais de cem crianças palestinas assassinadas. Pois bem, se eu fosse um general israelense – para espalhar o terror depois do genocídio – invadiria as cidades com trios elétricos. Isso mesmo! Ximbinha e a Banda Calypso nos cornos dos palestinos. A trilha sonora do apocalipse. A idéia não é superar os nazistas? Então… eis a contribuição brazuca testada e aprovada em nossas ruas. Depois, podiam mandar a Ivete Sangalo pra apoteose. Atrás do trio elétrico só não vai quem já explodiu!*
Do fundo do meu coração sertanejo, espero que algum diplomata do Itamaraty leia essa crônica e leve a idéia para o nosso guia iluminado. Tenho certeza que Lula vai considerar a hipótese; depois do biocombustível e dos travestis de Milão, a invasão tecno-brega. O Brasil tem muito a ensinar a essa gente: Ahmadinejad, Ehud Olmert, Khaled Mechaal, todos esses malucos, tanto de um lado como de outro, são pinto perto de Hermano Vianna e Regina Casé.
Impressionante como o ser humano é evoluído. Eu, aqui do meu posto, vou me recolher à minha insignificância. Bananas para todos! E tentarei acreditar que Deus existe e não faz pesquisas na USP. Nem trabalha no telemarketing do grupo Imagem, e muito menos bate ponto na Igreja do bispo Edir Macedo. Nem ele e – espero – nem o diabo. Ah, o diabo, esse pobre coitado.
Pós S. Quanto às novas regras gramaticais, bem, seguirei cometendo os erros antigos. Inclusive, para reforçá-los, usarei hífen e o trema.
* Para quem achar que esse tipo de injunção é de mau gosto, sugiro a capa dos jornais dos últimos dias, e também a leitura dos últimos artigos de Oscar Niemeyer, Gustavo Ioschpe e João Pereira Coutinho. Eu sou um animal em extinção, um cara refinado perto desses senhores.
*Marcelo Mirisola, 42, é paulistano, autor de Proibidão (Editora Demônio Negro), O herói devolvido, Bangalô, O azul do filho morto (os três pela Editora 34), Joana a contragosto (Record), entre outros.