Há tempos remotos, década de 70 do século passado, e de maneira rápida, estudei psicologia. Nunca estudei filosofia, fiz leituras esparsas, portanto o que escrevo sobre a possível origem da decepção é resultado de observação. O caro leitor ou leitora pode dizer que é “chute”. Mesmo entendendo ser um “chute”, convido: termine de ler o texto.
Entendo que o sentimento de decepção nasce com a gente. Creio que, ao nascer, este sentimento já vem junto. O recém-nascido e ainda por um bom tempo de vida não conhece a palavra e ainda não reflete sobre a vida, o que é e o que significa o sentimento. Mas, mesmo não entendendo o significado do mesmo e sem conseguir expressar em palavras, reage, com o choro ou com a revolta.
Com o passar do tempo e ao ganhar idade, a palavra surge com sua carga. Algumas pessoas sabem trabalhar melhor o sentimento, outros sofrem por mais tempo e, dependendo da razão que causou, a decepção jamais o perdoará.
Decepcionam-se mais as pessoas emotivas. Em segundo lugar, creio, os ignorantes ou desinformados. Há aqueles que, usando da razão, confiaram em algumas pessoas, e mesmo estes também se decepcionam. Talvez para estes a melhor palavra não seja decepção, mas sim, traição. Sentem-se traídos.
Neste último caso é que me coloco, e creio que não estou só. Decepciona-me o comportamento do senador Cristovam Buarque (PPS-DF). Como pode um homem inteligente não enxergar que está em curso no Brasil um golpe de Estado? Pior, se concretizado, como pode acreditar que haverá melhora da oferta de possibilidades e da qualidade do ensino público? Que coisa triste: Cristovam e Alexandre Frota na mesma trincheira, defendendo a escola pública de qualidade e sem partido.
Eu, que li alguns de seus textos, sinto-me decepcionado. Pior, traído. Ele será mais um do “esqueça o que escrevi”.
Muitos ignorantes ou desinformados devem estar decepcionados com o juiz Sérgio Moro, principalmente aqueles que usam máscaras reproduzindo seu rosto e gritam a plenos pulmões “somos todos Moro”.
PublicidadeNa audiência pública do último dia 4 da Comissão Especial que analisa o projeto de lei que “estabelece medidas contra a corrupção”, o deputado Paulo Pimenta (PT-RS) questionou a seletividade da Justiça. Não citou, mas deu a entender: a seletividade do próprio Moro.
Pimenta fez uma série de criticas, tais como o não-combate à corrupção que atinge o Poder Judiciário. Muitos juízes corruptos, ao invés de serem expulsos para o bem do serviço público, são, para o bem pessoal, aposentados. Criticou a seletividade no caso Banestado, também julgado por Moro.
Na audiência pública, Moro citou pontos que entende positivos da legislação e prática dos Estados Unidos que deveriam ser adotadas no Brasil. Verdade deve ser usada, mas não só dos Estados Unidos. Toda e qualquer legislação de qualquer pais do mundo que contribua com o combate a corrupção e a qualquer tipo de crime deve servir de exemplo e, se possível, adotada.
Comentando esta passagem, Pimenta faz uma observação pertinente: “Quando se fala da legislação americana, imagina se um juiz de primeira instância nos Estados Unidos captasse de maneira ilegal uma conversa entre Bill Clinton, ex-presidente norte-americano, e Barack Obama, e jogasse nas redes de televisão, qual teria sido a atitude da justiça americana? E então por que nós não pegamos esses exemplos para serem adotados no Brasil”.
Muitos dos “somos todos Moro” devem ter ficado decepcionados. Sempre se espera do ídolo ou herói uma boa resposta, ou seja, um ‘cala a boca’ quando criticado. Esta não veio.
O juiz Sérgio Moro se recusou a comentar os questionamentos feitos pelo deputado Paulo Pimenta. Alegou falta de tempo e se retirou da audiência, pediu “desculpas” aos parlamentares e disse: “Não vou comentar”.
Ao não responder os questionamentos do deputado sobre a seletividade e sobre o abuso de autoridade cometido pela operação Lava Jato, Moro dá razão a Paulo Pimenta.
Comecei esta crônica/artigo com o título de “Decepção”, e poderia terminá-la com o título de “Não vou comentar”.
Fica para outra, mas como seria classificada a acusação de tentativa ou concretização (é preciso apurar) de estupro perpetrado pelo deputado Marcos Feliciano: Decepção ou traição?