Cláudio Versiani, de Nova York*
Americano adora uma parada. Em Nova Iorque existe parada para tudo quanto é gosto. Desde o Dia Nacional dos Sikhs (religião monoteísta surgida na Índia) até a parada gay. Todas têm o mesmo endereço, 5ª Avenida, o ponto nobre da ilha de Manhattan. Desfile aqui tem tanta importância que geralmente o prefeito é quem abre o cortejo.
O Dia dos Veteranos não foge à regra, os velhinhos e os mais jovens desfilam pela avenida mais chique da cidade. O Memorial Day homenageia os mortos da guerra. O Dia dos Veteranos trata de reverenciar os mortos e os vivos, ou seja, também é dia dos sobreviventes das guerras. E como guerra não falta na história deste país megalomaníaco, sobram veteranos, são mais de 24 milhões. Quem foi para a primeira guerra do Iraque aos 20 anos, tem hoje 34 anos. São jovens que exibem suas medalhas na parada dos senhores da guerra (veja fotos).
A segunda guerra do Iraque irá completar três anos em março de 2006. A cada dia que passa e a cada soldado americano morto nas terras que um dia foram de Saddam Hussein, cresce a oposição à tresloucada aventura de Bush filho. Este ano a parada dos velhinhos foi marcada pelo protesto pacifista de um pequeno, mas barulhento grupo. Estavam lá os “Veteranos pela paz”, “Veteranos do Iraque contra a guerra”, “Famílias de militares contra a guerra”, “Famílias medalhas de ouro pela paz” e muitos outros.
Ninguém discorda que os americanos prestaram um serviço à humanidade quando bateram ou ajudaram a bater o exercito de Adolf Hittler. Porém os nossos irmãos do norte resolveram partilhar o mundo com os camaradas de Joseph Stalin. Como a União Soviética já não existe mais, Bush e sua turma se sentiram no direito de dominar o mundo. O império ataca novamente. Só que parece que o tiro saiu pela culatra e a turma de Bush não sabe o que fazer com o Iraque. Por mais paradoxal que pareça, Bush pavimentou o caminho para os xiitas tomarem conta do Iraque. Os sunitas resistem e o Irã agradece.
Orgulhosos, os velhinhos vão saudando a galera e pedindo passagem, tem veterano da Segunda Guerra, da guerra da Coréia, do Vietnã, do Iraque, do Afeganistão. É uma celebração à guerra. O que impressiona é que é um programa familiar. As criancinhas estão lá para bater palmas, deveria ser proibido para menores de idade. É a apologia da guerra, a perpetuação do culto à estupidez. Coisa de quem acha que o mundo é uma bagunça e que alguém tem que dar um jeito nessa situação, como certa vez declarou a Secretária de Estado, Condoleezza Rice.
Se serve de consolo, uma boa parte da população está cansada da guerra e de tanto sofrimento. Quanto à guerra do Iraque, mais da metade da população do país não só está cansada como acredita que o país já foi longe demais. É hora de voltar para casa, o difícil é achar o caminho de volta e encontrar uma saída honrosa. Vietnã basta um.
Na quarta-feira 30 de novembro, George filho ofereceu à nação a sua estratégia da vitória, não convenceu muita gente. Foi o discurso do mais um pouco do mesmo, não agradou. No dia 7 de dezembro, Bush voltou à carga, mais um discurso, agora tentando convencer os americanos que a economia iraquiana vai bem, não agradou nem a platéia que pouco aplaudiu. O presidente continua desconectado da realidade.
O Iraque se tornou o mais novo pesadelo dos americanos. O Afeganistão é a guerra sem fim e o Iraque é o fim de Bush, que anda com uma cara de quem se pudesse pedia o boné e se mandava para Crawford, lá no Texas. O imperador está nu. Só não vê quem não quer. Felizmente mais da metade dos súditos de Tio Sam já enxergam a nudez de George Walker.
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