Soraia Costa
Os desdobramentos da Operação Navalha da Polícia Federal estão espalhando a desconfiança e o medo nos corredores do Congresso Nacional. Desde o início da divulgação das primeiras denúncias de desvio de verbas em benefício da Construtora Gautama, não se fala em outra coisa no Parlamento.
"A sensação que dá é de que estamos todos grampeados", comentou o senador Inácio Arruda (PCdoB-CE) ontem em plenário.
"Está difícil fazer política no Brasil. Você apresenta uma emenda para beneficiar um município da sua região e amanhã pode ser acusado de ajudar uma empreiteira", reclamou o senador Wellington Salgado (PMDB-MG).
Nos bastidores, os parlamentares falam que estão com medo até de falar com seus familiares por telefone e criticam a divulgação de informações pessoais que, segundo eles, nada têm a ver com os escândalos de corrupção.
Outro comentário ouvido freqüentemente é de que "o ano acabou" no Congresso. Isso porque, a exemplo do que aconteceu em 2005 e em 2006, quando das denúncias do mensalão e da máfia das ambulâncias, a cabeça dos parlamentares está sendo ocupada com outra coisa que não a aprovação de leis. Todos querem saber quem serão os próximos da lista a terem os nomes citados em denúncias e o que acontecerá com eles.
A própria opinião dos congressistas com relação à necessidade de abertura da CPI da Navalha demonstra um pouco a confusão mental provocada pelas acusações e prisões feitas pela Polícia Federal. De uma hora para outra, senadores que se mostravam contra a criação de uma CPI e diziam que uma nova comissão só atrapalharia o andamento dos trabalhos legislativos passaram a defender as investigações para que os fatos fossem esclarecidos logo.
Da mesma maneira, deputados que haviam assinado o requerimento pedindo a CPI decidiram retirar a assinatura alegando que, antes mesmo de ser formada, a comissão estava sendo transformada em um circo e que não serviria a seu propósito.
"Cancelei a viagem"
A impressão que se tem é que os parlamentares estão perdidos e sem saber o que é certo ou errado.
Um exemplo disso foi dado hoje pelo senador Valdir Raupp (RO), líder do PMDB no Senado que, sem saber da reportagem publicada ontem pelo jornal O Globo (leia mais) que apontou um grupo de sete parlamentares que viajaram a Nova York com todas as despesas pagas pela Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F), comentou que ele e sua mulher, a deputada Marinha Raupp (PMDB-RO), estavam de malas prontas para ir também.
"Estava com viagem marcada para Nova York esta semana e na última hora desisti e decidi devolver as passagens por causa dessa confusão toda de denúncias", disse o senador.
Ao ser informado de que seu nome poderia ter sido citado na reportagem, ele se mostrou surpreso e comentou que muitas das informações divulgadas tanto pela imprensa quanto pela Polícia Federal são graves, mas que outras são exageradas e só servem para desgastar ainda mais a imagem do Congresso.
"Você não pode ir contra os fatos, mas têm nessas operações um pouco de pirotecnia", afirmou Raupp. "A coisa tinha que ser mais segura. Só deviam soltar as informações com 100% de certeza".
O senador deixou claro, no entanto, que considera que as denúncias da Operação Navalha são graves. "A situação é difícil, e só o tempo mostrará os resultados disso", garantiu.