Márcia Denser*
Uma sociedade sem autoconsciência, composta por uma classe média empobrecida, encurralada sob todos os ângulos e pontos de vista, com cada vez mais setores sendo empurrados para a exclusão por uma elite perversa, burra e entreguista, classe média que – ainda assim, contra toda lógica, todo bom senso – sai em defesa desta última, eis o diagnóstico que se pode fazer do Brasil na atualidade.
Mesmo que setores mais progressistas da mídia ameacem dar o Prêmio de Ficção do Ano à revista Veja.
Mesmo lendo no New York Times que a questão energética, ressurgindo mundialmente (Rússia, Nigéria, Grã-Bretanha, China, Coréia, Venezuela, Honduras, Equador, Bolívia etc.), foi identificada como uma "ressurgência mundial das políticas nacionalistas", a idiotice conservadora no Brasil continua falando de "populismo latino-americano".
Contudo, como escritora, preciso continuar atuando como a boa e má consciência coletiva. Será que todos entendem o que isto significa, até as últimas conseqüências? OK. Se vocês gostaram das idéias de Oswald de Andrade, será que continuarão gostando, 50 anos depois, das idéias do polêmico escritor da nova geração Joca Terron **?
Joca Terron é um dos autores mais originais da década de 90, poeta e prosador, autor de Curva de rio sujo, Hotel Hell (mesmo nome do blog dele), dono da editora Ciência do Acidente e professor universitário. Participou de várias antologias importantes. Entre elas, Contos cruéis, da Geração Editorial.
Eis o que ele disse ao Arte & Política:
"As políticas de educação não deveriam incluir mais autores contemporâneos?
Quais políticas de educação? Onde você viu isso? Quando? Me explique, por favor. Do que você está falando?
O que acha das últimas produções do cinema nacional?
Os cineastas brasileiros são uns filhinhos de papai enriquecidos pela publicidade que não conseguem contar histórias nem mesmo com o auxílio de escritores ou de bons livros brasileiros adaptados. São uns doentes de superficialidade, assim como a maioria dos escritores brasileiros. Que o diabo os carregue.
Em que a cultura do audivisual modificou o papel da literatura na vida das pessoas?
O papel da literatura continua a ser o mesmo, as pessoas é que mudaram. As pessoas, numa larga medida, deixaram de ser pessoas. Ao menos aquelas pessoas do século XIX que liam livros e tomavam chás com madeleines, que conversavam sobre problemas adultos civilizadamente em cafés e teatros. As pessoas adultas agora preferem passear em shoppings vestindo moletons idênticos aos de seus filhos. Os homens não usam mais chapéus e as mulheres nem sabem pronunciar a palavra peignoir. Porém, o cinema e a tevê não têm nenhuma responsabilidade nisso. As pessoas sempre foram idiotas, o problema é que agora elas estão em maior número e fica mais difícil disfarçar sua idiotice.
A arte não seria uma coisa supérflua para um país com problemas sociais tão graves como o Brasil?
Supérfluo é o Brasil para a arte. Arte é uma coisa para a elite, mas nossa elite é mais burra que a dos outros.
Que advertências daria aos jovens incautos que pretendem seguir carreira literária?
Se você não tem dinheiro para comprar um Audi, é a melhor forma que você conseguirá para comer alguém. Bem, não é bem uma advertência, mas quase um anúncio de camisinha."
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A crítica ficou ácida, corrosiva demais? E poderia ser diferente?
Convenhamos. No tempo de Oswald, ainda existiam ministeriáveis tipo Gilberto Freyre, imbecis como Nelson Rodrigues e escritores medíocres como Zé Lins do Rego ou José Conde. E agora, existe o quê?
Espírito crítico é isto, se dar conta disso, de todas essas coisas pelas quais todos nós somos responsáveis.
**Entrevista exclusiva para o site Arte & Política. Endereço: http://www.arteepolitica.com.br/entrevistas/entrevista_JocaTerron.htm.