Tales Faria*
Não se assuste com abertura do texto, mas esta é uma coluna de política mesmo. Vamos lá:
Processador Intel-Celeron D315; memória RAM 256MB; Drive/gravador CDR (ou seja, gravador de CD);Disco rígido de 40 GigaBytes; placa de Fax/Modem PCI 56kbps; Rede Ethernet 10/100 integrada; placa gráfica integrada até 64MB; floppy disk 3.5" 1.44MB; Windows XP Starter Edition Pré-instalado; teclado ABNT2; Mouse 3 botões com scroll; caixas acústicas amplificadas; monitor de 15 polegadas.
Você pode não entender grandes coisas de informática, então eu lhe digo: essa é uma configuração bastante aceitável. O homem do supermercado também nada entendia do que estava falando. Voz bonita, engasgava no inglês: drive, bytes, floppy disk, windows, starter, edition, mouse, scroll… e terminava assim: "Isso mesmo, somente mil reais. Em dez vezes sem juros. Dez de cem reais!"
Minha mulher ficou irritada porque não resisti e acabei comprando. O meu último computador custou R$ 4,5 mil, uns quatro anos atrás, e está praticamente obsoleto. Esse aí é melhor do que ele! Lembrei do amigo Chico Câmpera, que entende mais do que eu dessas máquinas infernais, e disse: "Elas estão mudando o tempo todo. É melhor comprar algo barato e mudar logo, do que adquirir algo caro e ser obrigado a ficar com aquilo um tempão".
Pronto! Não preciso de mais do que 40 gigabytes, um gravador de CD e internet. Comprei, embora saiba que vou sofrer para explicar aos meus amados filhos, garotos bem-nascidos e bem-criados do Lago Sul… "Papai comprou um on-board!"
Agora, caro internauta, imagine aquele sujeito que ganha algo próximo dos quatro salários mínimos por mês, cuja filha está no colégio e que nunca pensou em ter um computador. Ele devia estar no mesmo supermercado que eu. Ouviu aquela mesma voz confusa em inglês, e fez as contas. Pensou numa contribuiçãozinha mensal da sogra para a neta, foi lá e… comprou o seu primeiro computador!
PublicidadeJá imaginou a emoção?
Então, companheiro, pense que há milhões de pessoas assim. Ou que compraram seu primeiro computador, ou que estão tendo o primeiro filho completando o colegial, ou o primeiro filho de 17 anos empregado, ou recebendo o Bolsa Família. Tem intelectual que argumenta: "É tudo fruto de um momento especial da economia internacional, com reflexos no Brasil, em que os juros por aqui podem baixar à vontade porque a inflação estará sob controle e os mercados internacionais, calmos". Você pode se perguntar se isso tudo é fruto da brilhante política econômica do Antonio Palocci, à qual Guido Mantega era contrário.
Mas uma coisa é certa: o presidente da República chama-se Luiz Inácio Lula da Silva. Ele pode ter feito isso sem querer, ou de caso pensado. Tanto faz… Inevitavelmente, os eleitores põem a responsabilidade sobre os seus ombros. Se a economia fosse mal, a culpa era do presidente. Vai bem? Ele é o responsável! E se no país existe o mecanismo da reeleição, Lula está reeleito. Culpa de quem? "Da economia, idiota!", como disse certa vez o marqueteiro de Bill Clinton.
É a economia que está fazendo o tucano Geraldo Alckmin comer grama, sofrer tanto nas pesquisas. Tem uma dosagem de Primeiro Comando da Capital (PCC) aí. Mas o problema mesmo é a economia: como convencer um sujeito que está melhor empregado, comendo mais e até comprando computadores a votar em outro cara que não o presidente atual?
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