Não tenho a lista completa dos agraciados desde a criação da Medalha da Inconfidência, mas confesso que gostaria de ter. Gostaria de tê-la para mais uma vez expor a hipocrisia da maior parte das empresas privadas de comunicação e dos políticos do PSDB, DEM e PPS.
A Medalha da Inconfidência foi criada em 1952 pelo então governador de Minas Gerais, Juscelino Kubitschek, e pela primeira vez nos últimos 12 anos a solenidade de entrega foi aberta ao público. Antes, sob o governo do PSDB, a entrega era feita em ambiente fechado, provavelmente porque tinham vergonha de apresentar ao público seus homenageados.
Gostaria de ter a lista porque provavelmente nela devem existir personalidades que serviram à ditadura militar, personagens não afeitos à democracia e até mesmo alguns sobre os quais pairam manchas quanto à seriedade e honestidade. Mesmo sem a lista, alguns conheço e vou nominá-los: Ricardo Teixeira, Demóstenes Torres e Eduardo Azeredo.
Ricardo Teixeira, ex-presidente da CBF, foi investigado e indiciado por corrupção. Hoje está foragido da justiça brasileira e mora nos Estados Unidos. Este “honrado” cidadão recebeu a Medalha da Inconfidência das mãos do então governador e atual presidente do PSDB, Aécio Neves.
Em 2011, Antonio Anastásia, ex-governador de Minas Gerais e hoje senador pelo PSDB, que está sendo investigado pela Operação Lava Jato, condecorou o então senador Demóstenes Torres (DEM-GO), cassado por estar na lista do bicheiro Carlinhos Cachoeira.
Ah! É importante lembrar que todo o PSDB votou contra o relatório do deputado Odair Cunha, relator da CPMI do Cachoeira, que pedia o indiciamento de Demóstenes e do próprio Carlinhos Cachoeira. Agora vêm com discurso de moralidade e contra a corrupção. Será que não têm olhos para ver o próprio rabo? Melhor, não têm espelho para se enxergar.
Hélio Garcia, quando governador, em 1992, homenageou o mensaleiro tucano Eduardo Azeredo. O pedido para que Azeredo, do PSDB, fosse julgado pelo STF fez com que ele renunciasse o mandato de deputado federal.
Corruptos comprovados e suspeitos de corrupção são agraciados com a Medalha da Inconfidência e não vejo, leio ou ouço alguém pedindo a devolução da honraria, como têm feito em relação a João Pedro Stédile. Como são hipócritas!
Há jornal, como a Gazeta do Povo, que chegou a escrever em editorial (“O ‘general’ condecorado”) que homenagear Stédile seria premiar o “desrespeito aos direitos mais básicos do cidadão, como o de propriedade”. Se o direito a propriedade for um direito básico respeitado pelas leis do país, todos os cidadãos e cidadãs deveriam nascer com esse direito assegurado, principalmente para garantir a própria subsistência. Nos países capitalistas, consequentemente no Brasil, este direito não existe e a luta de Stédile e de tantos outros é para que passe a existir.
O problema de Stédile é que ele está ao lado do povo e luta contra a exploração, a opressão e contra a corrupção. Luta pela reforma agrária, ou seja, pelo direito básico de ter a terra para dela tirar o sustento à vida.
Uma pergunta se faz necessária: por que quando um homem como Stédile é homenageado recebe tantas críticas e os mesmos que criticam Stédile não criticam a concessão da mesma homenagem a Ricardo Teixeira, o foragido, Demóstenes Torres, o cassado, e Eduardo Azeredo, o renunciado?
Olhando esta lista de “honrados” cidadãos que receberam a medalha de Tiradentes, e observando a critica feita ao atual governador Fernando Pimentel por ter entregue a medalha a João Pedro Stédile, repito a pergunta de Gilberto Maringoni: “Como tratariam Tiradentes?”
Tiradentes foi um dos grandes rebeldes da história do Brasil. Graças à sua e à rebeldia de tantos outros foi que o Brasil mudou, conquistou a independência. Se todos tivessem o comportamento do delator de Tiradentes, Joaquim Silvério dos Reis, provavelmente, claro que exagerando, o Brasil ainda seria colônia.
Dos homenageados acima citados somente João Pedro Stédile tem o perfil do rebelde, do inconformado, como era o de Tiradentes. Os demais têm o perfil semelhante ao daqueles que o condenaram.