A desvalorização contínua do dólar em relação ao real tem causado preocupação nos empresários e no governo, a ponto de este gastar bilhões de reais na compra da moeda norte-americana para segurar a queda das cotações.
É inegável que a variação cambial interfere na economia nacional. Aliás, em todas as economias do mundo. Tanto negativa quanto positivamente.
Várias são as conseqüências disso: dificuldades nas exportações; ingresso de produtos mais baratos no Brasil; repercussão negativa na venda interna de produtos nacionais; demissões… Por outro lado, temos a redução de preços em vários produtos, inclusive da cesta básica, que em alguns casos utilizam insumos importados em sua composição, bem como dos eletroeletrônicos, o que aumenta a qualidade de vida da população.
Entretanto, a gritaria do empresariado é geral, especialmente por causa da dificuldade nas exportações e do barateamento das importações. Na medida em que o dólar fica mais barato, as mercadorias brasileiras ficam mais caras no mercado exterior, e, conseqüentemente, perdem espaço na concorrência com produtos que chegam mais baratos àqueles mercados e, na contramão, ao Brasil.
A grande dúvida é: o dólar continuará caindo? Qual a alternativa?
Primeiro, é importante salientar que, por mais que o Banco Central atue imediatamente, adquirindo dólares para forçar sua valorização, é o mercado internacional que regula a variação cambial.
Temos no Brasil um volume significativo de investimentos estrangeiros diretos, principalmente voltados para os combustíveis alternativos, os famosos biocombustíveis. Obviamente, o ingresso de dólares contribui para a queda da moeda norte-americana.
Entretanto, com ou sem a queda do dólar, o fato é que o Brasil não é um país competitivo e não o será enquanto não se fizer uma reforma tributária significativa, de modo a reduzir o custo da produção.
Nós, jovens empresários, costumamos usar somente o argumento tributário ao abordar o problema. Mas a culpa não é só do governo. Existe a nossa ineficiência, decorrente da própria falta de planejamento e de investimento em tecnologia e capacitação. Assim, a culpa é nossa também!
É fato que a alta carga tributária e, especialmente, os reflexos dela sobre a folha de pagamentos encarecem nossos produtos, na comparação com países como China, por exemplo, cuja média salarial é cinco vezes menor que a do Brasil.
Porém, apesar de a carga tributária e a rigidez da legislação trabalhista serem fatores responsáveis pela falta de competitividade nacional, é indubitável que o Brasil ainda vive nos tempos da ditadura em termos de protecionismo à indústria nacional. Excetuando-se as grandes companhias, que já competem significativamente no mercado internacional, inclusive com instalação de parques fabris no exterior, os empresários brasileiros não estão preparados para a concorrência internacional.
Aliás, isso não é fato novo. As empresas brasileiras já passaram por problemas semelhantes com a abertura do comércio internacional, promovida pelo ex-presidente Fernando Collor, na década de 1990. E a lição não foi aprendida.
A abertura ao mercado mundial trouxe competitividade e necessidade de atualização para os pátios das nossas fábricas e escritórios. Agora, o problema é ainda mais complexo. Quando se tratava, apenas, de redução tarifária para importações, o governo ainda dispunha de mecanismos de controle de mercado, por meio de salvaguardas ou quaisquer outros meios para a garantia da indústria interna.
Com a desvalorização do dólar, qualquer mecanismo é inócuo, posto que estão em questão, exclusivamente, preço e tecnologia.
Com relação ao preço, sem dúvida, o principal problema é a carga tributária. Já com relação à falta de tecnologia, não há desculpas, senão a própria ineficiência e descaso do empresariado brasileiro.
As empresas ainda são vistas por seus proprietários ou acionistas como mero patrimônio, e não como desenvolvedores de negócios e da economia com uma função social.
Os empresários não investem em tecnologia e na sua capacitação ou de seus empregados, deixando sua gestão e seus produtos obsoletos ou sem qualidade.
Precisamos acabar com o protecionismo do Estado para nos preparar para a globalização dos mercados. Não se justifica mais, hoje, distinguirmos entre o mercado interno e externo. Assim como vendemos para o estado vizinho, temos que estar aptos para vender para a Índia, China ou qualquer outro país.
O custo de produção, onerado pela excessiva carga tributária e pelos reflexos sobre a folha de pagamento, é um dos fatores que impedem a competitividade das indústrias brasileiras. Além disso, a ineficiência na produção é uma barreira à competitividade.
O investimento em educação, capacitação e tecnologia é uma necessidade de cada empresa para poder competir condignamente no mercado mundial.
Portanto, é preciso cobrar do governo e do Congresso, sim, a sua responsabilidade em permitir que possamos concorrer, promovendo uma profunda reforma tributária. Entretanto, é imprescindível que estejamos aptos para a competitividade, enquanto essa reforma não vem. Caso contrário, ou nossas empresas fecham, ou serão compradas por concorrentes estrangeiros.
A contribuição da Confederação Nacional dos Jovens Empresários (Conaje) para este tema começa com a defesa de grandes pilares: educação, capacitação e crédito. Somente com maciços investimentos públicos e privados nessas áreas, conseguiremos encontrar o caminho para melhorar a nossa competitividade.
* Marcelo Azevedo dos Santos é vice-presidente da Confederação Nacional dos Jovens Empresários (Conaje).