Última coluna de 2010, continuo completamente envolvida com a edição e recriação do meu novo livro de não-ficção Politicamente Incorreta. Quer dizer, este ano para mim não finaliza exatamente, mas continua e se desenvolve nos fios desse livro que se entretece, se distende e se expande como o destino, pleno de surpresas, percalços, atalhos e descaminhos.
Daí que já estou escrevendo uma espécie de introdução, porque o prefácio vai ser do Sylvio Costa, meu editor e alguém que imagino como o detonador dum processo – uma espécie de bruxo involuntário – que começou há cinco anos (outubro/2005) e determinou a emergência dum talento complementar nesta escriba, até então oculto, o do prazer pelo ensaio, pelo artigo, pela reflexão crítica sobre praticamente qualquer coisa. E isto – a capacidade de escrever sobre qualquer assunto – é algo que vem da ficção.
Também mania do intelectual público engajado (essa criatura em extinção) em se meter em assuntos que não são da sua conta. Esta a crítica da direita a nosso respeito – quando argumenta que apenas o especialista pode opinar sobre isto ou aquilo, médicos sobre medicina, engenheiros sobre pontes, etc. – argumento cujo verdadeiro propósito é eliminar o debate público, digamos, “privatizando-o”.
Voltando: no caso, o desafio foi escrever quatro colunas por mês: duas versando sobre política, abordando nossa história recente (ou seja, pelo viés das formas superiores do simples boato politicóide tais como a ideologia, a teoria política, a filosofia, a sociologia, inclusive até – cruz credo! – a semiótica, algo que combina com o escritor que escreve em profundidade, não fica na superfície do fato jornalístico, tal como o pratiquei durante 30 anos), história já tão mutilada pela mídia hegemonia; e duas colunas com pauta livre.
Duas colunas que poderia escrever com TOTAL liberdade – um privilégio e uma maldição, aliás – algo infinitamente mais difícil do que ser pautado (quem é jornalista que o diga). Porque aí tive que utilizar minha técnica mais apurada, aperfeiçoada no laboratório da língua (a ficção), a serviço da não-ficção, algo extremamente complexo pois, como qualquer crítico literário está careca de saber, a prosa de raiz poética (ou ficcional) atinge o leitor pela emoção, ao passo que a prosa discursiva alcança o leitor pela razão. Não me perguntem como, mas acabei mixando essas duas prosas. A questão central é que escrevi não como quem “toca o serviço”, simplesmente, mas pra valer, dando o melhor de mim. E os nomes aos bois.
O resultado? No geral, uma obra contra-hegemônica, politicamente incorreta (para muitos), escrita contra-a-corrente. Uma espécie de anti-auto-ajuda: porque abre a gaiola e diz pra você VOAR! Aprender a pensar por si próprio, afiar o espírito crítico. Um livro com momentos ora muito engraçados ora muito irônicos ora mordazes. E sim. É possível.
Algumas opções editoriais: 1) as datas dos textos, inseridas ao final de cada um, seguem o prazo de criação e não de publicação (por motivos que levaria tempo pra explicar e aqui não tenho espaço); 2) Nem sempre mantive os títulos originais uma vez que muitos seriam demasiado perecíveis para o formato-livro; 3) Reescrevi e reeditei muito, retirando referências meramente de contexto; 4) Citações e aspas foram todas enxugadas, mantendo-se a referência à fonte: autor, obra, etc. para: não sobrecarregar o texto tampouco o leitor, porque afinal esta não é uma obra rigorosamente acadêmica.
No fundo, uma leitura instigante para quem, como eu, continua em busca de respostas.
E vou ficando por aqui, mil felicidades em 2011 para todos vocês, são os votos sinceros desta La Denser!