Diego Moraes
Em 2005, três deputados acumularam mais ausência do que presença na Câmara: Vicente Cascione (PTB-SP), Paulo Gouvêa (PL-RS) e Gerson Gabrielli (PFL-BA). O trio faltoso é acompanhado de perto por outros 19 colegas, que compareceram a menos de 60% das sessões do ano passado.
Vice-líder do governo e autor de um projeto para acabar com a remuneração extra para parlamentares em convocações extraordinárias, Vicente Cascione registrou presença em apenas 47,9% das sessões plenárias de 2005. Faltou 76 vezes, mas justificou 74 ausências.
Justificou, não faltou
Para o petebista, falta justificada não pode ser classificada como ausência. “Esse levantamento está errado, porque ausência é falta injustificada”, disse. O deputado explicou que, embora apareça como ausente em mais da metade das sessões, esteve em Brasília durante todas as semanas em que houve expediente legislativo. “Hoje mesmo (quarta-feira) não marquei presença, mas estou em Brasília. Já estive no Palácio do Planalto e em alguns ministérios”, afirmou.
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Segundo Cascione, o deputado precisa estar na capital para exercer seu papel de parlamentar, mas reforçou que nem sempre pode “se dar ao luxo” de passar o tempo todo no Congresso. “Às vezes, vamos a uma audiência com ministro pensando que vai durar uma hora, mas tomamos um chá de cadeira e, quando voltamos para a Câmara, a sessão já começou”, disse. “Mas, modéstia à parte, trabalho bastante”, completou.
O deputado Paulo Gouvêa divide com Cascione o primeiro lugar da lista dos mais faltosos. O gaúcho faltou a 76 das 146 sessões realizadas pela Câmara ano passado. Mas deixou apenas cinco ausências sem justificativas. A reportagem tentou falar com Gouvêa para saber o motivo do baixo comparecimento ao plenário, mas não obteve resposta. O site da Câmara informa que o deputado se afastou do trabalho, sob licença médica, em três ocasiões em 2005: entre maio e julho, de agosto a setembro, e em novembro.
“Me sentia um inútil”
O terceiro na lista dos faltosos é Gerson Gabrielli. O deputado participou de 49,3% das sessões deliberativas e acumulou 73 faltas. O pefelista é presidente da Confederação Latino-Americana de Líderes, órgão ligado ao comércio. Ele disse que visitou mais de dez países, com dinheiro do próprio bolso, para divulgar ações da entidade no início do ano passado. “Eram viagens no fim de semana. A maioria das faltas é na terça-feira”, argumentou.
Mesmo com faltas acumuladas ao longo de todo o ano, o pefelista atribui as ausências à crise política que emperrou as votações e transferiu para as CPIs o foco das atividades parlamentares. O deputado contou que preferiu utilizar o tempo ocioso para debater, em vários estados, a Lei Geral da Micro e Pequena Empresa, projeto que tramita em fase final no Congresso. “(A ausência) não atrapalhou os trabalhos legislativos porque o foco estava todo na CPI. Nada foi votado e, muitas vezes, me sentia um inútil dentro do gabinete”, disse.
Do plenário para o avião
Acusado de receber R$ 3 mil por mês de uma empresa de transportes aéreos para fazer lobby no Congresso, o deputado João Herrmann Neto (SP) não é um dos rostos mais vistos na Câmara. O parlamentar, que está suspenso do PDT enquanto a denúncia é apurada, participou de apenas 75 das 146 sessões realizadas no ano passado. Mas não deixou de justificar nenhuma das ausências.
Levantamento publicado pelo Congresso em Foco em junho passado apontou o deputado como o campeão de faltas em toda a legislatura (leia mais). Herrmann informou que, por fazer parte da Comissão de Relações Internacionais da Casa, fez várias viagens oficiais a convite da presidência da República e, por isso, nem sempre pôde participar das sessões plenárias.
“Eu não posso ver como deplorável o fato de ter escolhido um campo de trabalho como parlamentar”, defende-se o deputado. O paulista reforça que, apesar das ausências, seu trabalho fora da Câmara trouxe contribuições importantes para a política externa brasileira, como a criação do Parlamento Mercosul, previsto para ser instalado em 2007. “Uns trabalham no campo da agricultura, outros, no comércio, esse é o meu campo”, enfatiza.
O site da Câmara registra quatro viagens oficiais de Hermmann no ano passado. O deputado esteve no Japão entre 23 e 30 de maio, junto com a comitiva do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Herrmann foi também a Itália, entre 8 e 17 de março, a convite do ex-embaixador Itamar Franco. Fez ainda uma excursão a países árabes, entre 18 e 31 de março, e visitou a China e o Timor Leste, no período de 10 a 22 de dezembro. As viagens, pagas pela Casa, custaram R$ 19.250 e mantiveram o deputado 41 dias longe de Brasília.
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