Carol Ferrare, Lucas Ferraz e Rodolfo Torres
A bancada feminina na Câmara, composta por 45 deputadas, vai analisar, nos próximos dias, a possibilidade de entrar com uma representação no Conselho de Ética contra o deputado Clodovil Hernandes (PTC-SP) por causa de suas recentes declarações sobre as mulheres.
Ao chegar ao Palácio do Planalto, na última sexta-feira (20), para entrevistar a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, para o seu primeiro programa na TVJB (antiga CNT), o parlamentar afirmou que desistiu de criar vestidos para mulheres porque elas se tornaram "muito vulgares, ordinárias e cheias de silicone". "Hoje em dia, uma mulher trabalha deitada e descansa em pé", disse.
Ontem (25), Clodovil ocupou a tribuna da Câmara para tentar explicar suas declarações. De cara, o estilista e apresentador de TV afirmou que seria uma explicação “difícil”. De fato, ele não esclareceu muito. A tentativa, no entanto, resultou num bate-boca com a deputada Cida Diogo (PT-RJ) e em uma nova ameaça de representação no Conselho de Ética.
“Não podemos concordar que um parlamentar se refira às mulheres brasileiras dessa forma. Tenho certeza de que nossa bancada feminina vai exigir desta Casa uma posição à altura para defender de fato as mulheres do nosso país, que merecem respeito”, disse a deputada. “Não queremos atacar ninguém, mas não queremos ser atacadas; queremos ser respeitadas neste país”, completou.
Única mulher a integrar o Conselho de Ética, a deputada Solange Amaral (DEM-RJ) adiantou ao Congresso em Foco que vai propor à bancada feminina que entre com uma representação contra Clodovil no colegiado. “É um absurdo ele tratar do assunto em forma de gênero. Ele já está aparecendo demais, não precisa atacar as mulheres”, justificou.
Bate-boca
Ao tentar se explicar, o deputado disse ontem que sua intenção não era ofender as mulheres. “Eu disse isso para defender as mulheres, porque não me digam que uma moça que vai fazer filme pornô pode servir de referência na televisão”, afirmou. Nesse instante, Clodovil foi interrompido pela deputada Cida Diogo: “Mas dizer que todas ficaram ordinárias?”.
O primeiro-vice-presidente da Câmara, Narcio Rodrigues (PSDB-MG), que presidia a sessão, interrompeu a deputada, alegando que, naquele momento, por questões regimentais, ela não poderia falar. “E eu tenho que ouvir uma coisa que não foi dita desta forma? A senhora precisa do meu apoio? Use-o, por favor. Tanta gente usa. Tem tanta gente que nunca me pagou e que fala bobagem”, respondeu Clodovil.
“Eu tenho meu próprio apoio. Eu luto pelo meu direito”, retrucou Cida. “Eu conheço bem o andamento… Quando eu estava com câncer no hospital, a senhora foi me visitar?”, emendou Clodovil. Nesse instante, os dois foram advertidos por Narcio, que pediu ao deputado que concluísse rapidamente seu pronunciamento.
“Querida, a senhora tem um programa, com duração de uma hora, aos domingos, de graça – eu não trabalho só por dinheiro –, para se defender e dizer o que quiser. Eu convido a senhora para o meu programa, quando poderá me atacar quando quiser; esse é um direito seu”, disse Clodovil a Cida, em referência ao espaço aberto em seu programa, que estreou no último domingo, para a “defesa” da Câmara.
Garoto-propaganda
O apresentador de TV e estilista ressaltou que foi “bem recebido” pelos colegas deputados e que virou uma espécie de “garoto-propaganda” da Casa. “Tornei-me garoto-propaganda da Câmara dos Deputados, pois tudo que aqui acontece a mídia corre atrás de mim para saber notícia”, disse.
Ao retomar suas explicações sobre a declaração polêmica de sexta-feira, Clodovil alegou que não teve a intenção de generalizar. “Todo mundo sabe que eu luto pelas mulheres. Mas existem mulheres de todo tipo, como existem pessoas de todo o tipo. Quando me descobri homossexual, olhei para a direita e vi travestis vilipendiando as mulheres. Olhei, depois, para a esquerda e vi Garcia Lorca, Leonardo Da Vinci e Santos Dumont. Fui para a esquerda”, declarou.
Nas comemorações do último Dia Internacional das Mulheres (8 de março), Clodovil representou os deputados na sessão especial promovida no Senado pela bancada feminina para lembrar a data. "Eu sou do tipo de homem que gosta verdadeiramente de mulher porque eu nunca enfrentei uma mulher", disse, logo após ser homenageado por deputadas e senadoras.
Questionado por um repórter se a homenagem da bancada feminina ajudaria a reduzir o preconceito contra os homossexuais, Clodovil disse que se sentia orgulhoso de suas "células femininas". "Você também é mulher, mas você tem vergonha da mulher que tem dentro de você, e eu não. Ao contrário. É uma honra ter as células femininas tão ativas em mim", afirmou.
Polêmica após a eleição
Esta não é a primeira vez que o deputado – o terceiro mais votado em São Paulo nas últimas eleições, com 493.951 votos – sofre a ameaça de uma representação no Conselho de Ética por causa de suas declarações polêmicas. Ainda no ano passado, logo após ser eleito para o seu primeiro mandato, Clodovil afirmou, em entrevista publicada pelo jornal argentino Perfil, que poderia aceitar dinheiro para votar a favor do governo durante sua passagem pelo Congresso.
"Vou aprender com os políticos com experiência, mas não me ensinarão a roubar porque eu, por pouco, não vou me sujar. Tudo dependerá de quanto me ofereçam para votar os projetos do governo", disse.
Clodovil afirmou à publicação argentina que tudo dependeria da quantia oferecida. "Cada um pesa o dinheiro em sua própria balança. Eu não resolverei os problemas de ninguém. Aqueles que votaram em mim acreditando que eu iria solucionar os seus problemas se enganaram, isso é uma bobagem digna de quem foi mal colonizado".
A declaração fez que com o presidente do Conselho de Ética, deputado Ricardo Izar (PTB-SP), advertisse o então deputado recém-eleito de que suas palavras como parlamentar tinham um peso diferente a partir de então. "Se ele repetir essas palavras após a posse, corre sério risco de sofrer um processo de cassação por falta de decoro parlamentar", declarou Izar na ocasião.
Em entrevista exclusi
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