Galera Nos tempos da minha juventude não usávamos a palavra tribo. Nem “e aí, véi!”. Falávamos joia, bacana, legal, barato, bicho, cara, lance… Galera? Não usávamos.
Galpãozinho Junto com o Galpão, Escola Parque e o Centro de Criatividade, atual Espaço Renato Russo, na 508 Sul, era o centro cultural da cidade. Era o que o CCBB é hoje. Peças de teatro, happenings, filmes, shows, debates, oficinas. Era por ali que a cidade pulsava, respirava. Uma desastrosa reforma nos anos 1990 descaracterizou o Galpãozinho para sempre e, hoje, infelizmente, o local está decadente e abandonado. Um flagrante caso de falta de amor pela cultura, pela cidade, pela arte. Por tudo.
Gasolina azul Anos 1970. O embaixador da Alemanha, exigente, parou num posto no Eixinho com sua Mercedes e perguntou: “Ter gasolina azul?”. E o frentista: “Não, só tem essa vagabunda mesmo…”
Gente Passarela-viaduto entre o Conic e o Conjunto Nacional. Como gosto de flanar por ali… Visitar Ivan Presença, ir à Rodoviária comprar minha caneta favorita (Bic Cristal 1.6mm) com a qual escrevi este livro (foram várias!). Comer um pastel da Viçosa e tomar um caldo de cana, jogar na mega, ouvir discurso dos doidos, ver gente passando. Certa vez sonhei que andava ali no viaduto completamente nu, segurando uma melancia na cabeça. Caminhando em minha direção vinham Lucio Costa e Oscar Niemeyer, também nus. Assustado, acordei. Pedaços de melancia pelo chão do quarto.
Glaziou Auguste François Marie (1833-1906) foi um engenheiro francês, conhecido como “o paisagista do Imperador”. Chegou ao Brasil em 1858 a convite de Dom Pedro II, sendo responsável pela criação e implantação dos jardins que até hoje embelezam o Rio de Janeiro. Participou da segunda Missão Cruls (1994-95), tendo deixado um belo relato do que viu. “O aspecto das regiões até hoje percorridas é de um país ligeiramente ondulado; lembra-me o Anjou, a Normandia e mais ainda a Bretanha, exceto todavia na direção Oeste onde campeia a Serra dos Pireneus, tão pitoresca. A leste, estende-se o belo e grandioso vale que vai prolongando-se até os pequenos montes do rio Parnauá [Paranoá], ramificando-se, em outros pontos, em todas as direções. Esta planície imensa, de superfície tão suavemente sinuosa, é riquíssima de cursos d’água límpida e deliciosa que manam da menor depressão do terreno. Essas fontes, como os grandes rios que regam a região, são protegidas por admiráveis capões aos quais nunca deveria golpear a machada do homem, senão com a maior circunspecção. São magníficos de verdura os pastos e certamente superiores a todos os que vi no Brasil Central.
Todos esses elementos cuja disposição se poderia atribuir à inspiração de um artista sublime dão à paisagem o aspecto mais aprazível e de que não há nada comparável, a não ser em miniatura os antigos parques ingleses, desenhados por Le Notre ou Paxton. Tão profundamente gravou-me na memória a beleza do clima que de contínuo o tenho na mente.”
PublicidadeGoianos do quadradinho É como nós nos autodenominamos, carinhosos (!) que somos com nossos irmãos goianos. Mas o Distrito Federal não é uma ilha cercada de Goiás por todos os lados, como muitos pensam. Simplesmente porque fazemos divisa também com Minas Gerais. Uma pontinha do DF encosta em Minas, tendo como limite o rio Preto, sendo que do outro lado, está o município de Cabeceira Grande, uai.
GPS “Qual o seu endereço? Aqui fica entre a ponte… Não. Quero saber a sigla! Eu tenho GPS! Com GPS você não chega. Aqui fica entre a ponte… Por favor, a sigla do local”. Irritado, informei a sigla. Em meia hora me liga: “Não consigo achar. Fica perto de que ponte? Olha, fica entre a ponte do seu GPS e o balão do seu volante”. Uma hora depois chegou. Me desculpei. Ele não.
Graminha “Corre! Corre! Olha o graminha!” E o grito de alerta se espalhava pela superquadra naquelas manhãs perdidas no tempo, no início de Brasília. “Segura a bola. Não deixa ele pegar a bola!” A repressão naqueles tempos não poupava nem as crianças, que só queriam jogar bola na grama recém-plantada. Que feio! Censurar filmes, prender pessoas, bater em gente e furar a bola das crianças na frente delas. Entre o triste e o ridículo, a repressão chegou cedo aos gramados de Brasília. Mas a grama voltou a crescer.
Grande Circular A linha ainda circula. Dá uma volta completa no Plano Piloto. Minha vida, entre os anos 1970 e 1980, era andar de ônibus. O contato com a cidade parando de ponto em ponto. “L2 é pouco / W3 é demais / quando estou muito triste / pego o Grande Circular / e vou passear de mãos dadas com o banco”, diz um poema meu. Passava tanto tempo dentro dos “baús” que fiquei amigo do Charles, trocador, que não me deixava pagar a passagem. Eu comprei um carro e Charles tomou outros itinerários. Nunca mais nos vimos.
Grande JK Assim foi o meu sonho: eu estava em uma solenidade oficial, numa espécie de auditório e ao meu lado sentou-se um jovem estudante do Colégio Militar de Brasília, uniformizado. Mostrou-me uma condecoração que recebeu de Juscelino Kubitschek. Curioso, perguntei pelo presidente e o jovem apontou-me JK na lateral do auditório, já de saída. Sim, era ele, em pessoa, mas no formato de um gigante. Fui ele, olhei nos seus olhos e disse: “Obrigado por ter construído Brasília”. Ele apenas sorria. Ao cumprimentá-lo, aconteceu algo que só em sonho mesmo: nossas mãos não se soltavam e ele continuava a andar e andar e os nossos braços se esticavam, se esticavam… e não se rompiam. Como era um sonho e não um pesadelo acordei apenas na hora de me levantar.
Granja do Ipê É onde funciona hoje a Universidade Internacional da Paz de Brasília – Unipaz. A granja não foi assim denominada em homenagem à árvore do cerrado, mas sim às iniciais do seu primeiro ocupante: Israel Pinheiro. Outra curiosidade: quando da visita do Xá Mohammad Reza Pahlavi a Brasília, em 1965, Sua Majestade lá se hospedou. Mas não pegava bem o Reis dos Reis se hospedar numa granja. Trocaram a placa. Enquanto o último Xá do Irã estava lá, chamou-se Palácio do Ipê!
Guias. Destaco aqui quatro guias turísticos fundamentais:
• Brasília – Coração Brasileiro (1991), GDF – Detur. Esgotado.
• Guiarquitetura Brasília (2000), Empresa das Artes/Abril Multimídia. O melhor guia sobre a cidade, esgotado.
• Conheça Brasília (2008), Opium Marketing. Português/Inglês. Disponível nas bancas de jornal e livrarias.
• O Novo Guia de Brasília (2014), por Gabriela Bilá, edição da autora. Português/Inglês. Muito bom, recomendo. Peça o seu pelo facebook.com/novoguiadebrasilia.
Hino Brasília tem dois hinos: o oficial e o não oficial. Este último é mais conhecido, tem letra de Capitão Furtado e música de Simão Neto (que, na verdade, seria o maestro italiano Simonetti, mas essa informação perdeu-se na noite dos tempos…) e parece mesmo um hino, fácil de cantar. Pra cima, exultante, exagerado. “Em meio à terra virgem desbravada / na mais esplendorosa alvorada / feliz como um sorriso de criança / um sonho transformou-se em realidade. / Surgiu a mais fantástica cidade / Brasília, capital da Esperança”. Está em destaque no portal do governo local. Nos anos 1960/70 era cantado nas escolas e me surpreendo como algumas pessoas, hoje na faixa dos cinquenta, o sabem de cor, como eu. Do outro hino, o oficial, com letra de Geir Campos e música de Neusa França, só sei o começo. “Todo o Brasil vibrou / e uma luz brilhou / quando Brasília fez maior a sua glória.”
Outros verbetes de BRASÍLIA-Z – Cidade-palavra, de Nicolas Behr:
Brasília de A a Z: o que diz o A
Brasília de A a Z: o que diz o B
Brasília de A a Z: o que diz o C
Brasília de A a Z: o que diz o D