Heitor Peixoto*
Depois do ficha limpa, tramita na Câmara dos Deputados o projeto cara limpa. Mas esse não é para “pegar político” barra suja.
Como assim? Explico. De autoria do deputado federal (não reeleito) Marcelo Ortiz (PV-SP), o projeto de lei 7.393/2010 proíbe o uso de qualquer artifício que impeça a identificação de indivíduo participante de evento de massa, seja esse evento social ou político.
Capuz, gorro, máscara, capacete, touca, disfarce e qualquer outro apetrecho que oculte a face do sujeito estarão proibidos nesse tipo de aglomeração, caso o projeto se torne lei.
Ortiz destaca que, muitas vezes, os responsáveis pela prática de atos de violência ou vandalismo, “por terem a sua face encoberta, deixam de ser identificados e, consequentemente, punidos por sua prática”.
Na Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado da Câmara, o relator Paes de Lira (PTC-SP) manifestou-se favorável ao projeto. Só pediu para que trocassem o termo “usuário” da proposição por “manifestantes ou turbadores”, para salvaguardar, por exemplo, motociclistas que estivessem apenas passando pelo local. Salvou também aqueles que, por dever do ofício, pudessem estar no ato apenas representando “personagens cômicos”.
Bem, fosse eu o relator, também daria meus pitacos. E talvez eu ampliasse a proibição de esconder o rosto a um agrupamento muito peculiar: o dos “personagens trágicos”.
E quais seriam eles? De pronto, uma categoria me vem em mente: a daqueles políticos que teimam em não mostrar sua verdadeira cara quando pedem votos, mas apenas no (mau) exercício de suas atividades. Sem capuz, gorro, máscara, capacete, touca, ou disfarce, e, muito menos, escrúpulos. Ou vergonha na cara.
Ainda na fictícia condição de relator, concluo: ao eleitor, assim como gorros, máscaras, capacetes, toucas e disfarces, é vedado o uso de vendas e tampões, não só na hora do voto, mas ao longo de toda a vida política do país.
E que, de uma vez por todas, saibamos reconhecer os bons políticos, mesmo entre aqueles que aparecem com a cara mais lavada do mundo.
É fato que nem sempre é fácil, mas, não raro, essa diferença tá na cara!
Afinal, com que cara poderemos cobrar retidão de nossos representantes, quando nos recusamos a enfrentar o problema do desinteresse político… face a face?
*Repórter da TV Assembleia de Minas Gerais. Leia também seus textos no blog Multipolítica