Marcos Magalhães |
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PT e PSDB emergiram das eleições de outubro como protagonistas de um novo bipartidarismo brasileiro. Indicavam ter encontro marcado nas telas das urnas eleitorais que se espalharão pelo país no último domingo de outubro de 2006, no segundo turno das eleições presidenciais. De um lado, o atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva, candidato à reeleição. Do outro, provavelmente, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. A confirmação do cenário, porém, depende dos resultados de três movimentos políticos simultâneos, anunciados nos últimos dias. O primeiro deles vem do PMDB, maior aliado atual do PT no governo. Governadores do partido, já de olho em 2006, aceitam apoiar as forças governistas em votações importantes no Congresso Nacional, mas querem ver os filiados ao PMDB longe da Esplanada dos Ministérios. A autonomia do partido seria o primeiro passo para o possível lançamento de um candidato do PMDB à sucessão de Lula. Do PMDB, aliás, não. Do MDB, nome que o partido adotava no antigo bipartidarismo e que teve de ser acrescido do P inicial por determinação da reforma política adotada pelo então presidente João Baptista Figueiredo. Como uma espécie de volta às origens, até mesmo em busca do carisma perdido ao longo dos últimos vinte anos, o partido pretende resgatar para si a legenda que já foi de ídolos nacionais como o ex-deputado Ulysses Guimarães. O segundo movimento vem sendo cuidadosamente articulado pelo presidente do PFL, Jorge Bornhausen. Novato na oposição, o partido – que se aliou ao PMDB para garantir o fim da ditadura militar em 1984 – também anda em busca de uma renovação e pretende promover uma espécie de refundação no início de 2005. Algumas bandeiras já estão definidas: redução de impostos e promoção do crescimento econômico. E, no que depender de Bornhausen, também já estaria escolhido o porta-voz dessas bandeiras: o prefeito reeleito do Rio de Janeiro, César Maia, potencial candidato do partido às eleições presidenciais de 2006. Pela esquerda surge o terceiro movimento. PPS e PDT decidiram retomar um namoro que havia começado ainda em 2002, quando foi lançada a candidatura de Ciro Gomes ao Palácio do Planalto. A aproximação entre os dois partidos, segundo o site do PPS, poderá levar à criação de uma “nova formação política no país que possa se tornar alternativa para a bipolaridade entre PT e PSDB”. O lançamento de uma candidatura de oposição em 2006 foi definido pelo presidente do PDT, Carlos Lupi, como o “objetivo final” dos entendimentos que vêm sendo mantidos pelos dois partidos, que, juntos, obtiveram 12 milhões de votos nas eleições municipais. Os caminhos da aproximação serão discutidos no início de dezembro, provavelmente no Rio de Janeiro, por dirigentes das duas legendas. Ainda é cedo para dizer se algum desses três movimentos será capaz de minar a tendência ao predomínio, em 2006, de PT e PSDB. O PMDB terá de decidir se busca mesmo no antigo MDB a inspiração para o lançamento de uma candidatura de verdade à Presidência da República, ou se apenas ensaia a rebeldia como sinal de que se sentiria confortável com a vaga de candidato a vice-presidente, na chapa encabeçada pelo presidente Lula. No PFL, o lançamento da candidatura de César Maia faz parte de um movimento destinado a injetar novo ânimo no partido, que se dividiu na oposição e agora busca a unidade dentro de um novo projeto. Mas o próprio prefeito do Rio de Janeiro se adianta a sugerir que os dois principais partidos de oposição – PSDB e PFL – lancem pré-candidaturas ao Palácio do Planalto, para identificar, com o passar dos meses, qual delas teria maior viabilidade. Maia, na verdade, pode ser candidato a presidente, a vice-presidente – possivelmente na chapa de Geraldo Alckmin – ou até mesmo a permanecer no comando da segunda maior cidade do país, que será em 2007 sede dos Jogos Pan-Americanos, boa vitrine para possíveis vôos futuros. Trabalhistas e socialistas, por sua vez, não têm projeto de dar o vice para ninguém. Por isso, talvez tenham maior probabilidade de apresentar um candidato conjunto para as eleições de 2006. O PDT chegou perto do segundo turno em 1989, ano que também marcou a queda do Muro de Berlim. Leonel Brizola já não comanda mais o partido, e os antigos comunistas se reciclaram no PPS. O tempo dirá se o peso das duas forças políticas na história brasileira garantirá a elas um espaço maior no futuro. |