Antonio Vital
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Nos Estados Unidos, a poderosa Conselheira Nacional de Segurança, Condoleeza Rice, foi obrigada a comparecer diante do Senado para explicar as trapalhadas e informações mentirosas divulgadas para justificar a invasão do Iraque. Na Inglaterra, o primeiro-ministro Tony Blair teve que, mais de uma vez, subir à tribuna do Parlamento para justificar por que apoiou, com entusiasmo até, a mesma invasão. E na terra da rainha ainda existe uma particularidade com grande potencial de risco de humilhação para quem está na posição do dirigente: cada estocada no coitado do primeiro-ministro, pronunciada com a devida fleugma e formalidade por algum oposicionista, é seguida por um "Êhhhhhhhhhhhhhh" da audiência, que no entanto se mantém em respeitoso silêncio ao longo da exposição (atenção, congressistas brasileiros, essa lição de civilidade pode ser conferida nos telejornais da BBC e da CNN). Publicidade
Tony Blair, aliás, não se furtou a debater o mesmo espinhoso tema, publicamente, com platéias mais heterodoxas. Participou de um debate, ao vivo, com pessoas comuns – donas de casa, comerciantes e estudantes – em um programa da BBC. E, coragem, aceitou debater a guerra com adolescentes em um programa da MTV. Quem dá aulas para o segundo grau ou tem filhos nessa faixa etária sabe o que é isso. Aqui no Brasil, o governo faz cara de que está recebendo a comunhão a cada denúncia envolvendo um figurão da Esplanada dos Ministérios. Primeiro, tenta desqualificar qualquer suspeita que recaia sobre as vestais petistas com o surradíssimo argumento de que tudo não passa de exploração política. Depois, considera satisfatórias explicações rasteiras, dadas por meio de comunicados oficiais de poucas linhas ou entrevistas nas quais a ninguém é dado o direito de perguntar. Por fim, cumprida a obrigação, se esfalfa para evitar que o suspeito, ou vítima, vá ao Congresso Nacional se explicar, como se isso fosse coisa de outro mundo e como se os parlamentares não tivessem o direito de cobrar explicações. Publicidade
Aconteceu isso no caso Waldomiro Diniz e está acontecendo de novo em relação às denúncias que recaem sobre os presidentes do Banco Central, Henrique Meirelles, e do Banco do Brasil, Cássio Casseb. Nos dois – ou três – episódios, o governo se esmerou em prolongar uma crise que poderia ser mais curta se as suspeitas fossem enfrentadas com transparência e, até, destemor. Quando Waldomiro Diniz foi apanhado pedindo propina a um bicheiro, o chefe dele, José Dirceu, sumiu do mapa e foi queimando, queimando, até perder parte do poder e da força que exibia antes com visível desenvoltura. Os líderes do governo no Congresso passaram os dois meses seguintes gastando tempo e liberação de verbas para que ele não fosse convocado para explicar o caso. PublicidadeA estratégia deu munição para a oposição explorar ao máximo a iguaria, que poderia ter esfriado rapidamente se o governo não se esmerasse em mantê-la quentinha e apetitosa. O resultado é que a popularidade de Lula despencou e até hoje Dirceu, sobre quem não surgiu qualquer prova de envolvimento nas estrepolias do ex-assessor, é olhado de soslaio nas ruas. Agora, o governo e seus cardeais se esforçam por fabricar a mesma arapuca. O ministro da Articulação Política, Aldo Rebelo, tentou até o último momento evitar a convocação de Henrique Meirelles e Cássio Casseb pelo Senado. Os dois acabaram convidados – sim, convidados, não convocados – apenas porque os governistas estavam ausentes da sessão da Comissão de Fiscalização e Controle. Se o presidente do Banco Central não sonegou o fisco, por que não comparecer ao Congresso? Se o presidente do Banco do Brasil não autorizou a liberação de dinheiro para a festa do PT, por que não explicar como isso se deu? Além de ser um erro estratégico infantil – ou autoritário, dependendo do ponto de vista – da parte do governo, é o caso do cidadão comum começar a se perguntar quem, afinal, esses senhores pensam que são e a quem pensam que estão servindo para se considerarem tão acima dos deveres do ofício, entre os quais está o da transparência na administração pública. Enquanto isso, Arthur Virgílio, José Agripino, Alberto Goldman, José Carlos Aleluia e companhia fazem a festa. |