Eis que, no apagar das luzes (fluorescentes) da Rio+20, Fernando Lugo é apeado da Presidência, por meio de um processo de cassação… legitimamente paraguaio.
Golpe! Xeque-mate (outra vez) na frágil democracia “além-ponte”, que reconduz ao poder, num escandaloso rasgo de arbitrariedade, o Estado Autocrático da Direita.
Que Lugo tivesse mandado calcinar metade dos paraguaios. Ainda assim, em 24h, não haveria possibilidade para análise de mérito, tampouco para ampla ou restrita defesa. O que houve foi nítida e flagrante execução/perseguição política.
Lugo, com sabedoria (e também sem ter o que fazer), acata a decisão, preocupado com o potencial e perigoso acirramento da violência nas reações populares. Essas sim, mais que justificáveis. Responsavelmente, protege seu povo, desprovido abruptamente de seu legítimo líder.
Questão de ordem (seja ela qual for, depois da virada de mesa): vale tudo para se confiscar o poder?
Lugo lá, Lula aqui, ali,… Salim!
Do lado de cá de Itaipu, o vale-tudo não é para se confiscar o poder, mas para conquistá-lo.
Ah, o poder, a mosca azul que nos entorpece os sentidos, a ponto de nos fazer ir ao encontro do abraço de afogado, ou melhor, do abraço de condenado!
As diferenças (históricas) entre Lula e Maluf são infinitamente maiores do que as semelhanças. Algo que, pelo menos em décadas passadas, saltava aos olhos.
Vamos ao baú da história política nacional?
Em 1989, artefatos explosivos foram deixados na porta de um comitê eleitoral do então candidato à Presidência da Repúbica, Luiz Inácio Lula da Silva.
O jornal O Globo, à época, mais precisamente na edição de 29 de agosto de 1989, levantou a possibilidade de o apetrecho ter sido ali deixado por algum aloprado (traduzindo para termos mais atuais). Um aliado, desejoso dos eventuais frutos eleitorais a partir daquele aparente papel de vítima.
O então concorrente de Lula na disputa pelo Planalto, Paulo Maluf (à época, no PDS), falou sobre o caso, em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo. Depois de, segundo o próprio Maluf, ter dado risadas do caso, ele disparou: “A polícia terá de investigar se é realmente um atentado ou se é uma notícia plantada pelo PT”.
A insinuação acendeu a ira vermelha de Lula e dos companheiros (de outros tempos, claro!). Vale a pena ler a nota oficial emitida à época pelo comitê do então candidato a presidente (pela primeira vez):
“O Globo e Paulo Maluf fazem essa afirmação absolutamente irresponsável, quando é de domínio público que há vários grupos terroristas de direita em ação no país. Que dirigentes sindicais, como Chico Mendes, continuam a ser assassinados. Que, recentemente, o Memorial dos mártires de Volta Redonda foi explodido, e que, na sua reinauguração, Lula foi ameaçado por carta anônima. Que alguns dias atrás, residências de dirigentes sindicais de Volta Redonda foram invadidas por terroristas encapuzados. Que Luiza Erundina [não é que ela entraria aqui também!!!], prefeita de São Paulo, e o próprio Lula foram ameaçados de morte por telefonemas anônimos. Ao invés (sic) de condenarem esses atentados fascistas e exigirem sua apuração, O Globo e Paulo Maluf preferem acusar o Partido dos Trabalhadores de ser terrorista de si mesmo. Demonstra mais uma vez, portanto, sua absoluta falta de compromisso com os mais elementares direitos democráticos [grifo meu]. São Paulo, 29 de agosto de 1989. Wladmir Pomar, coordenador do Comitê de Campanha de Luiz Inácio Lula da Silva”.
Sim, em favor do (des)arranjo atual, podem alegar que 23 anos nos transformam a todos. Não tanto (penso eu) quanto um minuto e quarenta e três segundos a mais no tal tubo infecto, hein, Marcelo Tas?!
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