A cassação do senador Demóstenes Torres (ex-DEM/GO) não foi um marco de moralização da vida pública brasileira. Fatores conjunturais determinaram a perda do mandato dele. Nosso sistema político, já a partir da etapa eleitoral, com seus financiamentos milionários e pouco transparentes de campanha, continua estruturalmente corrompido. Isso não deve nos impedir de atuar de imediato, em cada caso concreto, como o Psol sempre faz, e outros partidos também deviam fazê-lo, por elementar zelo. Mas a iniciativa pontual que culmina em raro resultado em favor do interesse público não indica que a política institucional começou, afinal, a se republicanizar.
Qual Demóstenes foi cassado, após 132 dias de chocantes revelações de suas relações espúrias com o esquema Cachoeira/Delta?
Certamente o ‘falso moralista’, do qual seus antigos desafetos puderam afinal se vingar. No mundo da política não é incomum lobo comendo lobo. Não adiantou Demóstenes ter, pateticamente, pedido perdão por seu ‘dedo em riste’ de ontem. Foi, para alguns, “a volta do cipó de aroeira no lombo de quem mandou dar”. Razões menores, mas reais.
Mas Demóstenes foi despedido de seu “mandato” de despachante de bicheiro, que decepcionou muitos dos seus 2 milhões de eleitores de Goiás, sobretudo por praticar, no exercício que dizia impoluto, a poluição do tráfico de influência, dos negócios subterrâneos, do toma-lá-dá-cá, da vida de luxo e presentes em função do prestígio.
Foi afastado da vida pública até mesmo o homem pseudo humilde, sua última ‘persona’, clamando por clemência, sem reconhecer qualquer erro. “Eu não fiz nada de errado, jamais. Sou senador honesto, pai de muitos dos direitos dos idosos, das mulheres, das crianças”. Tanto autoelogio só fez lembrar que o pecado do pregador é ainda pior que o do pecador…
Demóstenes, mesmo no momento em que poderia ver “acabada sua vida”, revelou-se pretensioso e pouco compromissado com a verdade. No discurso derradeiro, abordou várias questões periféricas e deixou de lado, por indefensáveis, as centrais. Tem até 2027 para repensar os caminhos que escolheu e, então, tentar voltar a ocupar cargo eletivo. Até lá, não irá mais desmoralizar a probidade, fazer do discurso enganoso armadura para esconder práticas indecorosas.
Com o ex-senador Demóstenes Lázaro Torres, todos nós, da vida parlamentar, temos muito o que aprender – a como não se comportar, a separar com rigor o público do privado, a não dissociar o pregado do praticado. Sem assimilar essa lição, não sairemos do reino dos mortos.
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