Em 1991, analisando o ostracismo a que estava condenada a obra do escritor gaucho Érico Veríssimo, Jorge Amado fez a seguinte observação: “Quando você morre em um país sem memória, imediatamente eles te esquecem. Quando eu morrer, vou passar uns 20 anos esquecido”.
Mas o Brasil vem mudando. E nesta segunda-feira, 6 de agosto, o Congresso Nacional, contribuindo para o resgate de nossa memória, realiza sessão solene, por requerimento de minha autoria e com apoio de meus conterrâneos – os senadores João Durval e Walter Pinheiro –, em homenagem ao centenário de nascimento desse amado baiano, nascido em Itabuna em 10 de agosto de 1912, e que se tornou um inesquecível escritor brasileiro.
A iniciativa também mereceu o apoio entusiasmado do próprio presidente do Congresso Nacional, José Sarney. O Senado organizou uma exposição sobre o centenário, que estará aberta ao público, na Biblioteca Acadêmico Luiz Viana Filho, até 17 de agosto, com exemplares de obras do autor, gentilmente cedidos pela Fundação Casa de Jorge Amado, além de painéis mostrando a cronologia das publicações, fotos e frases do escritor.
A obra de Jorge Amado revelou, para o Brasil e o mundo, uma gente desconhecida, calada e marginalizada, que fazia com o seu suor e trabalho a riqueza da Bahia rural e urbana. Tinha, como marca de estilo, a adequação da língua das classes estigmatizadas pelas elites culturais, narrando o modo de viver dessa gente, com seu próprio sotaque e expressões.
De seu primeiro romance O País do Carnaval (1932), ao último publicado, A descoberta da América pelos turcos (1994), Jorge Amado deu vez e voz ao povo pobre e invisível para a literatura da época, com seus mais de 500 personagens, em seu 21 romances, espalhados pelo mundo e traduzidos em 48 idiomas em mais de 52 países.
Como ele mesmo disse certa vez: “[…] cada vez estou mais perto do povo, do povo mais pobre, do povo mais miserável, explorado e oprimido. Cada vez, eu procuro mais anti-heróis… os vagabundos, as prostitutas, os bêbados”.
PublicidadeSocialista, Jorge Amado acreditava que outro mundo, mais justo e feliz, era possível. E por essa utopia, lutou durante os muitos anos de sua longa vida. Foi filiado ao Partido Comunista Brasileiro (PCB), pelo qual se elegeu deputado federal constituinte em 1946. Após intensa militância internacional, granjeou as amizades de Jean Paul Sartre, Simone de Beauvoir, José Saramago e Pablo Neruda, entre tantos outros.
Em seis de agosto de 2001, faleceu em sua casa, no Rio Vermelho, ao lado de sua amada Zélia Gattai, com quem dividiu seus sonhos e toda uma vida. Nos 100 anos de seu nascimento, o Congresso Nacional faz merecida homenagem àquele que, com sua arte, soube amar o seu povo e se tornar tão amado pelos seus inúmeros leitores em todo o planeta.