É difícil achar alguma coisa tão mal falada quanto comida de avião. A gente logo associa com algo insosso, sem sabor, sem tempero, sem graça total. No Brasil, na maioria dos voos domésticos os passageiros recebem água, algum suco de caixinha e sanduíche frio. O novo “normal” é cobrar por qualquer coisa, até café solúvel.
Por isso, tive uma boa surpresa ao ouvir a comissária da Avianca oferecer num voo de Congonhas para Brasília um lanchinho e uma latinha de guaraná Antarctica. Numa caixinha verde, um trio de comidinhas bem brasileiras: coxinha, pão de queijo e brigadeiro, porque “somos pentacampeões”. Em tempos de Copa do Mundo é um jeito simpático de marcar a paixão nacional por futebol e também de estimular a esperança que todos temos de ver a seleção canarinho brilhar.
Lembro de ter ficado gratamente surpresa há alguns anos, quando num voo para o Nordeste, a Latam serviu porções de pratos regionais, e provei um delicioso “baião-de-dois” a caminho de Fortaleza. Não tenho certeza, mas acho que havia a consultoria de uma chef paulista, muito feliz na escolha do cardápio. Típico do Ceará, o prato é preparado com arroz e feijão, de preferência feijão verde ou novo. É também servido em parte da Região Norte.
Em voos de classe executiva é comum as companhias terem assessoria de sommeliers na escolha dos vinhos e de pratos elaborados por chefs de renome. A TAP firmou parceria com cinco chefs estrelados no Michelin, como Victor Sobral, Henrique Sá Pessoa, José Avillez, Miguel Laffan, Rui Paula e Rui Silvestre. São os “embaixadores da gastronomia portuguesa” a bordo.
Mas nas poltronas da classe econômica, mesmo com as passagens caras, ainda impera o fatídico “chicken or pasta?”, pergunta feita às pressas num serviço sem cortesias por comissários apressados, com poucas exceções.
As empresas aéreas poderiam recorrer mais ao soft power, termo relativamente novo em relações internacionais, referindo-se ao poder suave em que as nações exercem influência em outros países. A gastronomia, a cultura e a música nacionais são meios para a prática. Contariam pontos para “milhas” da nossa simpatia, concordam?