A cada nova campanha eleitoral se renovam as esperanças de que os debates entre os presidenciáveis na televisão adquiram por aqui a importância que sempre tiveram em outros países. Mas não tem jeito mesmo. Já me convenci de que isso nunca vai acontecer. Os nossos debates continuarão sendo simplesmente intragáveis.
Naturalmente, não estou me referindo ao preparo técnico dos nossos candidatos. Todos eles (pelo menos os mais importantes) são exaustivamente treinados por assessores especializados para não fazer feio e para falar a linguagem da televisão. A fórmula costuma dar certo. Tem sido muito raro vermos algum grave deslize verbal por parte dos presidenciáveis.
Também não estou me referindo à abundância de candidatos normalmente presentes nos debates. De fato, a nossa legislação eleitoral não faculta às emissoras de TV convidar apenas os presidenciáveis mais competitivos. Mas mesmo os debates travados durante o segundo turno – com a presença de apenas dois candidatos – costumam igualmente padecer dos males da intragabilidade. Quando muito, são só um pouquinho melhores.
O fato é que os debates entre presidenciáveis no Brasil via de regra sequer conseguem aumentar a audiência média (naquela faixa de horário) das emissoras que os promovem. Pelo contrário, o mais comum até é que aconteça o contrário. O mesmo poderia ser dito dos debates entre candidatos a governador e a prefeito das capitais. Após tantas campanhas eleitorais, isso não pode ser coincidência.
Alguns poderão alegar que a estabilidade política, a alternância no poder e a rotinização da democracia criariam incentivos para que haja uma convergência de ideias e de propostas entre os candidatos e partidos mais relevantes. A ausência de grandes conflitos ideológicos tornaria, automatica e inevitavelmente, os debates mais mornos.
Essa hipótese é verossímil. Mas os mesmos incentivos estão presentes em outras democracias, e nem por isso os debates deles se tornam tão desinteressantes como os nossos. As campanhas presidenciais americanas são o melhor exemplo disso. Esse ano, tivemos até debates interessantíssimos (e inéditos) entre os candidatos britânicos a primeiro-ministro.
Desconfio que a melhor explicação esteja em outro lugar. A minha hipótese é que os políticos brasileiros ainda não aprenderam a debater corretamente. Ainda temos muito receio em abordar em público os temas sabidamente mais polêmicos. Preferimos ficar dentro da nossa zona de conforto, aquela onde sabemos por antecipação que não haverá muita divergência. A economia é um exemplo típico.
A experiência internacional comprova que a boa polêmica pode ser feita de forma impessoal e respeitosa. A atual geração de políticos ainda não parece ter percebido isso. E os debates televisivos acabam virando vítimas dessa falta de coragem. Assim, é normal que os telespectadores prefiram ver futebol na tv.
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