Metade da população mundial vive nas cidades. Até 2050, esse percentual deve chegar a 69%. A ONU sugere, este ano, que o debate ambiental concentre-se no impacto da urbanização sobre os recursos hídricos como forma de marcar as comemorações do Dia Mundial da Água.
Aqui no Brasil, anualmente, diversos municípios vivenciam verdadeiras catástrofes pós-chuvas: deslizamentos de encostas, enchentes e muita destruição. Relatos de mortes, pessoas desabrigadas e proliferação de doenças são constantes nos noticiários, especialmente no verão. Em muitos casos, tragédias provocadas pela ocupação desordenada do solo nas cidades e nas metrópoles. São áreas sem a adequada infraestrutura de fornecimento de água ou de saneamento básico.
Por isso acho tão relevante o tema proposto em 2011, Água e urbanização. Entre outras coisas, ele remete às consequências dos desastres naturais nos sistemas de abastecimento urbanos.
A qualidade da água consumida pela maioria da população brasileira é ruim ou péssima nas bacias do Paraná, do São Francisco, do Atlântico Leste, Sul e Sudeste, segundo a Agência Nacional de Águas.
Sabemos que cada brasileiro gera 120 litros de esgoto por dia. Desse total, só a metade é coletada e apenas um quinto é tratado. Além do esgoto doméstico, há resíduos de mineração, indústria e agricultura sendo despejados nos rios brasileiros, transformando-os em verdadeiros esgotos a céu aberto. Sem citar a contaminação de aquíferos subterrâneos, muitas vezes provocada pela instalação de lixões sem planejamento.
O impacto no setor da saúde e, residualmente, na educação é imenso. As doenças geradas pelas condições insalubres comprometem a infância de maneira irreversível, criando uma geração de brasileiros que não conseguem romper com a condição da exclusão. Com isso, o Brasil vem mantendo o círculo vicioso das desigualdades, com baixos níveis de desenvolvimento humano e sustentável.
Outra questão que precisa ser levada a sério é o desperdício. O Brasil detém 12% das reservas mundiais de água e cuida muito mal desse recurso: 40% da água tratada se perde no caminho da captação até a torneira doméstica, seja por deficiência na manutenção da rede, seja por gestão de baixa qualidade nas empresas de abastecimento, seja porque há furto.
Nossa ilusória abundância promove até certo descaso no consumo. Usar água para lavar calçada, carro, deixar a torneira aberta ao escovar os dentes, são exemplos triviais de como a população ainda precisa ser conscientizada sobre o uso racional deste bem.
Precisamos, portanto, começar a pensar que a água é um recurso existente em quantidade limitada. Segundo estimativas da ONU, o século XX foi marcado por 507 disputas internacionais em torno da água e 21 acabaram em guerras.
Não podemos continuar em nossa atitude passiva. O Brasil precisa usar melhor seus recursos de gestão. Temos, por exemplo, a Lei nº 9.433, de 1997, que estabeleceu a Política Nacional de Recursos Hídricos e o Sistema Nacional de Recursos Hídricos. Possuímos, também, uma Agência a ANA dedicada exclusivamente ao tema.
No entanto, os recursos de gestão de águas ainda são mal utilizados. Ainda há falhas na cobrança pelo uso de água. A reutilização da água por atividades industriais também mereceria maior atenção e incentivo por parte do governo federal.
Este Dia Mundial da Água, comemorado neste dia 22 de março, nos traz inúmeras reflexões. No Brasil, temos tratado a água de maneira desleixada, sem nos darmos conta do risco de ocorrer sério desabastecimento nos grandes centros urbanos.
É hora de agir e cobrar providência de um governo federal que tão pouco fez pela água nos últimos oito anos.
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