A decisão do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) de baixar a Selic (taxa de juros referência da economia) de 12,5% para 12% ao ano foi baseada na queda da demanda internacional como “remédio” contra a alta dos preços aqui e no mundo. É a velha lei da oferta e procura: como agora os produtos brasileiros tendem a ser menos requisitados lá fora, a expectativa é que seus preços caiam no futuro próximo. É nisso que o governo apostou para baixar a Selic.
Mas aí a equipe econômica aumenta em 30% o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) dos carros importados, com o argumento de que o crescimento do comércio de importados tem prejudicado a indústria nacional. O que o ministro Mantega não quer ver é que esse aumento no IPI deixa as montadoras brasileiras livres para reajustar seus preços, já que não vão concorrer mais com as estrangeiras. Aliás, o IPI maior sobre carros importados garante não somente que os preços no setor de veículos vão aumentar, mas também que o consumidor vai ter que continuar se contentando com carros cujo custo-benefício é altíssimo (relativamente caros e vagabundos, para ser clara). (1)
De volta ao centro da questão: com uma das mãos, a equipe econômica sinaliza que está confiante no retorno pelo menos ao teto do IPCA, de 6,5%; com a outra mão, o Executivo é leniente no combate ao dragão, e exatamente no setor que supera, em crescimento, a própria economia brasileira (a consultoria financeira Lafis, por exemplo, prevê que produção e vendas de carros terão índices maiores do que o do PIB no triênio 2010-2012). Alguma inconsistência nas decisões econômicas recentes do governo Dilma?
Se ficaram dúvidas, vamos a alguns números:
a) Com o real perdendo força frente ao dólar, os preços dos produtos importados em geral pressionam a alta dos preços;
b) O IBGE acaba de informar que a inflação acumulada nos últimos 12 meses está em 7,31%, nível mais alto desde maio de 2005. E ainda não veio Natal nem Ano Novo, quando o pagamento do décimo-terceiro e os gastos com presentes, viagens e festas esquentam a economia;
c) Os reajustes propostos pelo Judiciário, Ministério Público da União, Câmara e TCU somam mais de 8,6 bilhões de reais: todos, até agora, sem previsão orçamentária para 2012. Ou seja, mais pressão sobre salários e preços; (2)
d) O novo salário mínimo, de R$ 619,21 (proposta do Executivo), entra efetivamente na economia até maio de 2012 (na verdade, os agentes econômicos tendem a se “precaver” bem antes, com a velha indexação);
e) E a equipe econômica não dá espaço para possíveis fatores externos: se alguma crise ou acidente impactar o preço dos produtos primários (por exemplo, o petróleo), estaremos muito além da meta de inflação em 2012.
A meta de inflação faz parte dos três pilares de sucesso da política econômica, vigentes desde 1999 no formato atual: meta de inflação, economia nos gastos públicos e taxa de câmbio flutuante. A economia (ou superávit primário para pagamento de juros da dívida) foi deixada de lado pelo governo. A meta cheia não foi cumprida nem em 2009 nem em 2010 (mesmo com a exclusão das contas da Petrobras, Eletrobras e do PAC). Agora, a equipe econômica flerta perigosamente com a inflação. Afinal, o que deu na equipe econômica?
(1) Para quem se interessa por uma comparação de preço e qualidade, o IG oferece esta: http://carros.ig.com.br/noticias/carro+popular+nacional+vale+o+mesmo+que+esportivo+nos+eua/2316.html.
(2) Sem mencionar que os reajustes previstos para 2011 ao Judiciário e ao MPU ainda não foram liberados pelo Executivo (mais dinheiro em circulação) – VEJA MAIS.