Renaro Cardozo
A gravata apertada e os ternos bem cortados em nada lembram a maior festa popular do país. Mas, sob a “fantasia” parlamentar, há deputados e senadores que têm histórias saborosas para contar de seus carnavais. Nesta época do ano, alguns chegam a deixar de lado a formalidade do cargo para sair com os seus blocos pelas ruas.
Entre os foliões mais entusiasmados, estão os deputados Gastão Vieira (PMDB-MA), Paulo Rubem Santiago (PT-PE) e Chico Alencar (Psol-RJ). Há anos os três participam de tradicionais blocos carnavalescos em seus estados.
Com mais carnavais nas costas que os outros dois colegas, Gastão sai todos os anos em dois blocos em São Luís: “Amigos do Agenor” e “Jardineira do Grogue”. Foi o “amigo” Agenor, aliás, que rendeu ao deputado, de 60 anos, a mais inusitada de suas histórias.
As pegadas do Agenor
O famoso Agenor é, na verdade, um jumento que o bloco segue pelas ruas da capital maranhense, em todos os sábados de Carnaval. Numa dessas peregrinações carnavalescas, que tem início na Praça da Saudade, o grupo decidiu parar em um bar para descansar e beber um pouco.
E, pra não fazer uma desfeita com o dono da festa, os foliões pediram permissão ao proprietário do estabelecimento para que o principal componente do bloco pudesse participar. “O problema é que o Agenor deu uma cagada no meio do bar. O bar ficou todo cagado e fomos expulsos”, relembrou, aos risos, o novo presidente da Comissão de Educação da Câmara.
Estripulias do Agenor à parte, o deputado também já se divertiu muito na Jardineira do Grogue, um ônibus, sem laterais, que percorre a orla de São Luís por 12h, passando por 12 bares. Uma hora em cada um deles. “Só que esse bloco não tem história para contar, pois depois das 12h, ninguém tem mais condições de contar nada. Por isso, o nome de grogue”, diverte-se Gastão, admitindo que a folia, nesse caso, não passa de “um ritual de bebedeira”.
Neste ano, porém, o deputado não vai tomar umas na Jardineira. É que o bloco vai sair no mesmo dia que a turma do Agenor. Entre o passeio etílico e o passeio com o burrico, Gastão garante não ter dúvida: vai seguir neste Carnaval mais uma vez as pegadas do velho “amigo”.
Fantasiado de si mesmo
Conhecido pelo bom humor e o jeito bem carioca de se expressar, Chico Alencar se diverte ao recordar de um episódio ocorrido há dois anos. O líder do Psol curtia a folia de rua no bloco Bola Preta quando um grupo de jovens, já sob o efeito da cerveja, reconheceu a fantasia dele. O problema, conta ele, é que não havia fantasia alguma.
“Eles começaram a dizer que tinha ficado muito boa a minha fantasia de Chico Alencar. O cabelo, a roupa, tudo igual. Tentei várias vezes convencê-los de que era eu mesmo, mas não consegui”, lembrou o deputado, que está em seu terceiro mandato na Câmara.
Por causa dessas e outras, Chico – que até já caiu no samba na Sapucaí, desfilando pela Mangueira – confessa que prefere mesmo é a folia das ruas. “Os chefes de ala [das escolas] são muito rígidos, dão bronca como se fossem técnicos de futebol. Já chega a rigidez do professor Arlindo, Carnaval é para descansar”, brincou.
Regente de Olinda
Representante da terra do frevo na Câmara, Paulo Rubem Santiago exerce até uma posição estratégica dentro do bloco de maracatu de baque virado (com tambores) Cabra Alada. O petista é o regente dos cerca de 200 componentes do grupo, que sai toda segunda-feira de Carnaval pelas ruas de Olinda.
A sua relação com a música não pára por aí. Ele diz que, como todo pernambucano que gosta de Carnaval, tem na cabeça a música Madeira que cupim não rói, do compositor de frevos Capiba, “um hino para quem resiste às dificuldades” (veja a letra dessa canção e de outras preferidas pelos parlamentares). “Ela foi cantada pelo bloco Madeira do Rosarinho depois do bloco ser injustiçado em uma votação. O bloco perdeu a disputa, mas foi às ruas como vencedor e cantou essa música”.
Alegando não ter grandes histórias pra contar, Paulo Rubem se recorda dos improvisos básicos: “Já tivemos de parar o desfile por causa de um bêbado que estava no caminho. Também já tivemos de mudar o curso do desfile porque encontramos uma rua fechada”.
Desfilando há oito anos consecutivos, o deputado não poderá botar o seu bloco na rua este ano. O motivo, especial, tem menos de um mês de vida: o seu terceiro filho. “Ah, se ele tivesse, pelo menos, uns seis meses de vida, não deixaria de desfilar”, disse o deputado, que também é professor universitário.
O senador penetra
Quem já testemunhou a artilharia verbal disparada contra o governo pelo líder do PSDB no Senado pode ficar surpreso ao saber o que Arthur Virgílio (AM) já fez para curtir uma folia de Carnaval. No Rio de Janeiro, onde passou boa parte de sua juventude, Arthur chegou a invadir, a nado, uma festa porque que não tinha conseguido comprar o ingresso.
Engana-se, porém, aqueles que acham que o atual senador chegou à festa sem fantasia. Arthur conta que nadou usando apenas uma das mãos. Com a outra, ele segurava a roupa sobre a água. Chegando ao clube onde estava sendo realizada a Festa do Havaí, só precisou vestir a fantasia havaiana e comemorar a façanha.
“Não lembro quanto nadei, mas era muito. Chegando à festa, até que não foi difícil driblar os seguranças, afinal, estava todo mundo suado mesmo. Por isso, nem dava para notar que estávamos, na verdade, molhados. Nessa ocasião, estávamos um amigo meu, eu e mais uns 20 penetras”, disse.
Tem gago na folia
Recém-chegado ao Congresso, o deputado Antônio Roberto (PV-MG) não demorou muito para lembrar uma de suas estripulias. “Já fui até de escola de samba”, confessou, referindo-se à agremiação Zulu de Itaú, em Itaú de Minas, município de 15 mil habitantes.
O deputado conta que, quando tinha seus “30 e poucos anos”, costumava sair com um grupo de amigos por bares da cidade para comemorar o Carnaval. Eufóricos, os companheiros de farra entraram em um desses estabelecimentos cantando a famosa marchinha Piada de salão, de Klecius Caldas e Armando Cavalcanti.
A festa acabou na hora. Sem entender o que havia ocorrido, a turma foi expulsa pelo proprietário do bar. A marchinha contava a história de “um sujeito que era gago/
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